Esse é um espaço de reflexões, sugestões, poesias, poemas, literatura em geral, música, arte, política, ativismo e de qualquer coisa que eu ache que possa ser relevante compartilhar com as pessoas. Boa leitura. Espero poder contribuir.
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
SÓCRATES MUITO MAIS QUE ÍDOLO, UMA REFERÊNCIA
Nesse momento até quem não suporta futebol sabe da morte do doutor, souberam da sua obra, da seleção de 1982, dos títulos no Corinthians, sua formação em medicina, suas posições, a democracia corinthiana, enfim... Já bastante se falou sobre isso e eu vou falar sobre nada disso, ou melhor sobre tudo isso...
Nascido em Belém, cresceu em Ribeirão Preto, começou sua carreira profissional aos 24 anos, pois mesmo sendo o gênio da bola que todo mundo já sabia, fez questão de concluir o curso de Medicina, logo se destacou no Botafogo e o Corinthians e São Paulo se interessaram por ele. O Corinthians na época um clube relativamente pobre não conseguiria entrar em leilão com o São Paulo, então Vicente Matheus manda um diretor do Corinthians negociar um zagueiro do São Paulo meia boca e enquanto isso, Vicente Matheus acertava os detalhes do contrato de Sócrates e em 1978, Sócrates chega ao time do povo e já no ano seguinte, é campeão paulista. Seu futebol vistoso, imprevisível e inteligente encanta o mundo e joga as Copas de 82 e 86, nas mágicas e derrotadas seleções de Telê, que provaram que vitória não é tudo no futebol, pois falamos ainda delas, mesmo já tendo conquistado três copas antes e duas depois delas, que mostraram ao mundo o "puro futebol arte". Aliás transceder taças, vitórias e o próprio futebol foi a grande marca na carreira de Sócrates... Ele mostrou que há muito mais coisas no futebol entre a bola e a trave do imaginava a nossa vã filosofia (o que dirar do discurso de "futebol ópio do povo" presente até hoje em muitos cegos radicais que ignoram qualquer noção de inconsciente coletivo ao falar de um esporte praticado em todos os países do mundo e que na maioria dele move milhões de apaixonados em torno dessa pelaja e sim, modifica rumos históricos do seu país (pesquisar Dynamo da Polônia, Al-Alhy do Egito, Livorno e Milan na Itália, Barcelona na Espanha entre outros exemplos do futebol influenciando diretamente na história política do país; portanto torna o rito todo tão (ou mais) importante quanto o esporte em si)...
Os corinthianos sempre se orgulharam de sua origem popular, na várzea do Bom Retiro, do time de todos, sem restrições raciais ou de classe, muito usuais no futebol da época, rapidamente se transformando no representante de todos que chegavam aqui em casa, fundado por militantes anarquistas (assim como o Palmeiras também, inclusive alguns são as mesmas pessoas, daí é atribuído o início da histórica rivalidade). O primeiro time campeão da Liga principal reservada a elite econômica, oriundo das classes populares. Capaz de mobilizar uma multidão que varia de artistas, intelectuais, analfabetos, milionários e favelados para causas que iam muito além do futebol, como financiar a reconstrução do partido comunista (em parceria com o arquirrival verde que historicamente está mais para irmãos que não se suportam mas quando precisam, sempre se ajudam...), se posicionar contra o racismo, o primeiro time formado em sistema de cooperativa onde todos ajudavam e ganhavam juntos, construir um estádio em multirão (Lenheiro, anos 1930)... O time que ficou mais de duas décadas sem ganhar e teve um crescimento exponencial da sua torcida (fenômeno similar ao Schälke na Alemanha que não ganha o alemão há 50 anos e ainda possui a maior torcida, justamente pela sua identificação com a classe trabalhadora). Justamente em 1977, quando o Corinthians sagra-se campeão depois de 23 anos e quebra o tabu, Sócrates se destaca no Botafogo de Ribeirão Preto. Esse momento marca a grande consolidação da história sociológica do Corinthians. O Corinthians, consolidado como time do povo, em êxtase pela miração do título inalcansável, com uma torcida organizada com estrutura e ideologia de esquerda (Gaviões da Fiel) casa-se com aquele que será seu líder dentro do campo, fora dele e nos livros de história...
Em 1981 o Brasil estava há 16 anos em uma violenta ditadura militar bancada pela política estadunidense (o mundo estava dividido em dois na época: comunistas, representados pela União Soviética (junção de 17 países comunistas liderados pela Rússia) e capitalistas, esses seguindo os prefeitos dos EUAN. Na época, o eixo sul do mundo estava em extrema pobreza e os países que tivessem qualquer tendência a combater isso, tinham seus exércitos cooptados pela CIA a derrubarem seus comandos e instaurarem ditaduras militares que violentamente combatiam a ameça do comunismo (na época aumentar o salário mínimo já era "comunismo" para essa linha ideológica). O desgate entre a violenta repressão, o fim do milagre econômico (recessão após anos de falso crescimento econômico para alegrar a classe media) e a consequente crise econômica, as relevações da brutalidade da repressão do regime (morte de Herzog por suícidio se "enforcando ajoelhado") geravam um cenário onde começa a se pipocar os pedidos de Democracia e desmilitarização do poder. Começa a campanha pelas eleições diretas no Brasil. Mas o Brasil possuia duas gerações de nascidos sem ouvir falar desses termos...
Já no Corinthians, a falta de organização e planejamento faz o time ficar mal colocado no Campeonato Paulista e ter de disputar a Taça de Prata do campeonato Brasileiro (espécie de segunda divisão). Essa crise faz com que a diretoria fosse demitida e nomes como Adilson Monteiro, sociólogo e Waldemar Perez assumem a direção do Corinthians. Jogadores politizados e inteligentes como Wladimir e Sócrates sugerem uma mudança brutal no sistema de comando do clube e liderando os jogadores e funcionários decidem que TODAS as decisões serão por voto direto e unitário, ou seja, o voto do roupeiro tinha o mesmo valor do voto de Sócrates ou do presidente. A partir dái nasce a famigerada DEMOCRACIA CORINTHIANA... Movimento democrático dentro de um clube de futebol (geralmente um meio muito conservador e até reacionário) numa época onde ninguém sabia o que era democracia na prática. Isso ensinou o país a votar, se posicionar e teve uma importância brutal na formação do país naquela época. O clube, comandado pelo jogador/técnico Zé Maria chega na Taça de Ouro. Nos anos seguintes ganha o bi-campeonato paulista e chega nas semifinais do Brasileiro, sempre decidindo em voto as suas decisões como por exemplo se concentrar ou não, beber ou não antes da partida, esquemas de jogo e de logística e tudo mais... Sócrates se destaca pela comemoração "Pantera Negra" (cabeça baixa e braço estendido que nasce como um protesto à torcida e se torna sua marca e uma explícita referência ao movimento popular estadunidense), pela comunicação com a torcida através de bandanas com mensagens como "Democracia", "Diretas Já", etc. E as faixas que o Corinthians entrava em campo com faixas como "Vencer ou Perder, mas com Democracia". A Gaviões da Fiel adere ao movimento com a faixa na arquibancada "Anistia Geral, Ampla e Irrestrita", consegue apoio também da Torcida Jovem do Santos, afinal isso era muito superior a qualquer questão clubística...
Em 1984 com a ajuda de grupos de rock e da Democracia Corinthiana e evidente devido a conjuntura o país ferve pedindo Eleições Diretas para Presidente, as Diretas Já move todo o país, com milhões de pessoas protestando e Sócrates no comício da Praça da Sé fala sobre suas propostas do exterior (da Fiorentina da Itália) e diz como forma de mobilizar os torcedores corinthianos nessa luta: "Se as Eleições Diretas passarem, eu fico!" Mas não passou... E ele por questão de honra teve de ir para a Itália. O Brasil só teria eleições diretas em 1989... Ele voltou um ano depois a ainda jogou novamente no Corinthians, no Santos e no Flamengo e se aposentou como jogador... A Democracia Corinthiana acaba com a aposentadoria de Zé Maria e Wladimir, a saída de Sócrates e Casagrande e a mudança na presidência corinthiana, voltando o centralizador Vicente Matheus. Durou pouco, mas a semente ficou plantada. O uso do futebol como força-motriz para modificar questões humanas e políticas e ir muito "além de ser ou não ser o primeiro", como diria a música-hino da Democracia Corinthiana composta por Toquinho... Consolidou a posição do Corinthians como time popular na sua essência e não apenas na quantidade de torcedores. Consolidou Sócrates como símbolo de um futebol inteligente e politizado.
Após isso, se especializa em medicina esportiva, tornou-se comentarista de programas esportivos, consolida-se como agitador político e cultural, torna-se compositor e uma referência a todas as pessoas que vem no futebol algo muito maior que uma bola e 22 pessoas chutando-a. Mostrou que futebol é cultura, futebol é arte, futebol é política, futebol é e faz parte da vida... Mostrou que era de uma espiritualidade única ao dizer que não queria luto quando morresse, por isso queria morrer num dia de domingo, quando o Corinthians fosse campeão, isso em 1983. Após 28 anos, seu desejo é realizado e você caro doutor, imortalizado. Hoje morre um ídolo e nasce um mito, de verdade (não como o futebol as vezes costuma banalizar). Uma referência, como diria o hino, "eternamente em nossos corações"....
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
GRAVIDADE Colorida
Quando eu tiver bastante pão
para meus filhos
para minha amada
pros meus amigos
e pros meus vizinhos
quando eu tiver
livros para ler
então eu comprarei
uma gravata colorida
larga
bonita
e darei um laço perfeito
e ficarei mostrando
a minha gravata colorida
a todos os que gostam
de gente engravatada...
terça-feira, 25 de outubro de 2011
200 anos de Franz Liszt: um gênio que merece ser reavaliado
Franz Liszt (1811-1886)
Apreciação da obra do compositor teuto-húngaro é perturbada por seu papel de popstar, peculiaridades biográficas e preconceitos históricos. Bicentenário é bom motivo para se escutar essa música negligenciada.
Num dia de outono, 22 de outubro de 1811, nasceu Franz Liszt num lugarejo chamado Raiding, na época pertencente à Hungria e hoje parte da região austríaca de Burgenland. Àquela altura, ninguém podia sequer sonhar que o franzino bebê se tornaria um dos grandes nomes da música do século 19.
Manuscrito de canção de Schubert adaptada por Liszt
A ascendência do pai de Liszt era alemã, a da mãe, húngara. E, como sempre acontece com as figuras importantes da história, cada uma das nações implicadas insiste em reclamá-lo para si. Assim, não é de espantar que a singela casa onde o músico nasceu ostente duas placas, uma em húngaro, afixada pela Associação de Literatura e Arte de Ödenburg, e outra em alemão, com os dizeres: "O povo alemão dedica esta placa ao mestre alemão".
O pequeno Franz era tudo, menos uma criança-prodígio. Porém seu ambicioso pai, que também praticava música, treinou o compositor na seguinte direção: ele tinha que se tornar um precoce pianista virtuose, custasse o que custasse.
"É fantástico que o pai de Franz Liszt se sentisse como um segundo Leopold Mozart", comenta Noke Wagner, bisneta do compositor e diretora geral do festival de artes Pèlerinages, de Weimar, realizado todos os anos sob a égide lisztiana. "Através de sua carreira, o filho devia compensar todas as frustrações que o próprio pai vivera. Por outro lado, admiro o quanto ele investiu. Embora Franz fosse uma criança frágil, ele cumpriu todas as determinações impostas pelo pai."
Paz em Weimar
Como pianista, Franz Liszt conquistou a Europa. Ao lado do "violinista do diabo", Niccolò Paganini, ele foi o primeiro "popstar", no sentido moderno do termo, com direito a romances escandalosos, excessos alcoólicos e plateias histéricas.
Liszt era um cosmopolita, figura de âmbito europeu. Era também um viajante compulsivo, sempre transitando entre Paris e Roma, Budapeste e Weimar, nunca realmente em casa e sempre pronto a partir. Só descansou de verdade em Weimar: durante os anos em que lá residiu. A cidade do Leste alemão vivenciou sua segunda época áurea, depois de Johann Wolfgang Goethe.
Lá, o virtuose dedicou-se com intensidade crescente à composição. Como disse certa vez, ele queria projetar a lança de sua arte bem longe no futuro. E foi o que fez. No entanto, sua música visionária foi muitas vezes mal entendida, tanto por seus contemporâneos como pela posteridade.
Salão de música dos Liszt em Weimar
Prosperidade não é para os gênios
Dois fatos talvez constituam contribuindo para não se julgar com justiça o mérito de Liszt como compositor: ele ter sido bastante abastado em vida e ter gozado de fama inabalada. Pois os alemães gostam que seus gênios sejam os mais pobres e injustiçados possível.
No ano em que transcorre o bicentenário de seu nascimento (e, pouco antes, os 125 anos de sua morte), ouvem-se com frequência as histórias do Don Juan que se fez ordenar abade, do virtuoso que hipnotizava as massas com sua alucinante execução pianística, mas que no fim terminou solitário e infeliz.
E, mais uma vez, quem sai perdendo é a música lisztiana. Excetuados alguns sucessos de sempre – como o Sonho de amor e as Rapsódias húngaras, o bis virtuosístico La campanella, ou o tema do poema sinfônico Les préludes, instrumentalizado pelos nazistas como jingle para suas notícias de guerra – a obra do compositor Liszt permanece um continente inexplorado.
Um dos fatores determinantes dessa negligência é a crítica musical – sobretudo a alemã – que desprezou suas composições, tachando-as de superficiais, virtuosismo vazio, prestidigitação circense, incapazes de se afirmar ao lado dos verdadeiros e profundos valores da música germânica. Esta encontrava representante digno antes na solidez sinfônica de um Johannes Brahms, ou na mítica wagneriana, afirmavam os críticos – jamais num Liszt, cosmopolita e transgressor de fronteiras artísticas.
Amizade tortuosa
Cosima, filha de Liszt, esposa de Wagner
Costuma-se também ler que teria sido a longa sombra de Wagner, ou o "longo braço de Bayreuth", que impediu o reconhecimento de Liszt como compositor. O que há de verdade nessa afirmação?
O primeiro encontro entre os dois titãs deu-se em 1840 na capital francesa, durante uma recepção no hotel do celebrado pianista. Wagner revela ter-se "entediado seriamente". A conversa sobre música terminou rápido e sem grande efeito, e o compositor alemão não levou consigo "qualquer outra impressão, além da de anestesia".
Oito anos mais tarde, é a vez de Liszt visitar Wagner em Dresden. Ambos discorrem sobre arte, e agora é Wagner que cada vez mais quer falar sobre dinheiro. Liszt se transforma numa de suas fontes financeiras preferidas, ajudando em tudo que pode.
Em 1857, Richard Wagner redige um ensaio sobre os poemas sinfônicos de Liszt, que ele defende da acusação de "falta de forma". E afirma a superioridade do novo gênero diante da sinfonia tradicional, já que a literarização do repertório instrumental é o que abriria os portais para a música do futuro.
"E aqui jaz o segredo e a dificuldade, cuja solução só poderia caber a um homem eleito, altamente talentoso, o qual, além de músico completo, deve ser um poeta atento". Não há dúvida a quem Wagner se referia, declarando assim Liszt seu próprio precursor.
Liszt no ano de sua morte, 1886, retratado por Henry J. Thaddeus
Ouvir para julgar
O colega tão lisonjeado bateu-se ativamente pela aceitação de Wagner. Entre outras iniciativas, em 1850 Liszt regeu a estreia de Lohengrin, na qualidade de mestre de capela da corte de Weimar. Vale lembrar que, na época, Richard Wagner era procurado pela polícia alemã devido a sua participação na Revolução de 1848.
Porém quando o mestre da ópera inicia um relacionamento com Cosima, sua filha casada, a amizade entre os músicos sofre um abalo. Liszt coloca-se do lado do marido, o regente Hans von Bülow. Por fim, em 1867, os dois compositores esclarecem o assunto numa conversa. Três anos depois, estariam reconciliados como genro e sogro.
Por mais que Wagner o irritasse como pessoa, a lealdade de Franz Liszt ao colega compositor permaneceu intocada. Embora, por sua vez, o autor de Tristão e Isolda não tivesse a menor empatia com a árida "música do futuro" da última fase lisztiana. Mas isso tampouco o torna responsável pelo ostracismo a que a posteridade relegou à obra de seu protetor e mecenas.
O melhor método para uma reavaliação dessa música é escutar o Liszt desconhecido. Suas últimas peças para piano, por exemplo, deixam qualquer um de queixo caído.
Autoria: Holger Noltze / Augusto Valente
Revisão: Márcio Pessôa
segunda-feira, 10 de outubro de 2011
Leonardo Boff: Crise terminal do capitalismo - Pravda.Ru
Leonardo Boff: Crise terminal do capitalismo
29.06.2011
Leonardo Boff - Teólogo, filósofo e escritor
Tenho sustentado que a crise atual do capitalismo é mais que conjuntural e estrutural. É terminal. Chegou ao fim o gênio do capitalismo de sempre adaptar-se a qualquer circunstância. Estou consciente de que são poucos que representam esta tese. No entanto, duas razões me levam a esta interpretação.
A primeira é a seguinte: a crise é terminal porque todos nós, mas particularmente, o capitalismo, encostamos nos limites da Terra. Ocupamos, depredando, todo o planeta, desfazendo seu sutil equilíbrio e exaurindo excessivamente seus bens e serviços a ponto de ele não conseguir, sozinho, repor o que lhes foi sequestrado. Já nos meados do século XIX Karl Marx escreveu profeticamente que a tendência do capital ia na direção de destruir as duas fontes de sua riqueza e reprodução: a natureza e o trabalho. É o que está ocorrendo.
A natureza, efetivamente, se encontra sob grave estresse, como nunca esteve antes, pelo menos no último século, abstraindo das 15 grandes dizimações que conheceu em sua história de mais de quatro bilhões de anos. Os eventos extremos verificáveis em todas as regiões e as mudanças climáticas tendendo a um crescente aquecimento global falam em favor da tese de Marx. Como o capitalismo vai se reproduzir sem a natureza? Deu com a cara num limite intransponível.
O trabalho está sendo por ele precarizado ou prescindido. Há grande desenvolvimento sem trabalho. O aparelho produtivo informatizado e robotizado produz mais e melhor, com quase nenhum trabalho. A consequência direta é o desemprego estrutural.
Milhões nunca mais vão ingressar no mundo do trabalho, sequer no exército de reserva. O trabalho, da dependência do capital, passou à prescindência. Na Espanha o desemprego atinge 20% no geral e 40% e entre os jovens. Em Portugal 12% no país e 30% entre os jovens. Isso significa grave crise social, assolando neste momento a Grécia. Sacrifica-se toda uma sociedade em nome de uma economia, feita não para atender as demandas humanas, mas para pagar a dívida com bancos e com o sistema financeiro. Marx tem razão: o trabalho explorado já não é mais fonte de riqueza. É a máquina.
A segunda razão está ligada à crise humanitária que o capitalismo está gerando. Antes se restringia aos países periféricos. Hoje é global e atingiu os países centrais. Não se pode resolver a questão econômica desmontando a sociedade. As vítimas, entrelaças por novas avenidas de comunicação, resistem, se rebelam e ameaçam a ordem vigente. Mais e mais pessoas, especialmente jovens, não estão aceitando a lógica perversa da economia política capitalista: a ditadura das finanças que via mercado submete os Estados aos seus interesses e o rentismo dos capitais especulativos que circulam de bolsas em bolsas, auferindo ganhos sem produzir absolutamente nada a não ser mais dinheiro para seus rentistas.
Mas foi o próprio sistema do capital que criou o veneno que o pode matar: ao exigir dos trabalhadores uma formação técnica cada vez mais aprimorada para estar à altura do crescimento acelerado e de maior competitividade, involuntariamente criou pessoas que pensam. Estas, lentamente, vão descobrindo a perversidade do sistema que esfola as pessoas em nome da acumulação meramente material, que se mostra sem coração ao exigir mais e mais eficiência a ponto de levar os trabalhadores ao estresse profundo, ao desespero e, não raro, ao suicídio, como ocorre em vários países e também no Brasil.
As ruas de vários países europeus e árabes, os "indignados" que enchem as praças de Espanha e da Grécia são manifestação de revolta contra o sistema político vigente a reboque do mercado e da lógica do capital. Os jovens espanhóis gritam: "não é crise, é ladroagem". Os ladrões estão refestelados em Wall Street, no FMI e no Banco Central Europeu, quer dizer, são os sumossacerdotes do capital globalizado e explorador.
Ao agravar-se a crise, crescerão as multidões, pelo mundo afora, que não aguentam mais as consequências da superexploracão de suas vidas e da vida da Terra e se rebelam contra este sistema econômico que faz o que bem entende e que agora agoniza, não por envelhecimento, mas por força do veneno e das contradições que criou, castigando a Mãe Terra e penalizando a vida de seus filhos e filhas.
[Leonardo Boff é autor de Proteger a Terra-cuidar da vida: como evitar o fim do mundo, Record 2010]
terça-feira, 9 de agosto de 2011
O MITO DO TORCEDOR VIOLENTO
Em maio de 2010, após intensas discussões entre o poder público, a Polícia Militar e presidentes de clubes, o estado de Sergipe tornou-se pioneiro em um processo que avança sobre o futebol brasileiro: a criminalização das torcidas organizadas (ou T.O.s). Uma mestranda do núcleo de Pós-Graduação em Psicologia Social da Universidade Federal de Sergipe, Klecia Renata de Oliveira Batista, animou-se a avaliar tal fenômeno.
Durante dois anos, a mestranda sergipana acompanhou o funcionamento interno da torcida Trovão Azul, adepta do Confiança, interessada em estudar a violência no meio. Intitulado “Entre torcer e ser banido, vamos nos (re)organizar: um estudo psicanalítico da torcida Trovão Azul”, a tese tornou-se um documento inédito sobre a criminalização das torcidas organizadas a partir da realidade sergipana. “Foi um processo fundamental para o meu trabalho, justamente quando eu estava tentando mapear a pressão que a torcida vinha enfrentando no momento”, afirma Klecia.
Defendido em 27 de maio último, o trabalho de Klecia aponta: a “modernização” do futebol brasileiro visa na verdade adequar o jogo aos interesses do mercado; ela está sendo imposta mesmo que as transformações custem a perda dos valores culturais embutidos no futebol. “O que se vê hoje é a torcida organizada enquadrando-se ao que alguns historiadores chamam de torcidas-empresa, rendendo-se a uma lógica organizada pelo capital”, afirma a pesquisadora.
O Estado como protagonista
Visando explicar o fenômeno, a mestranda recorreu ao referencial psicanalítico de Sigmund Freud. Ela sugere que, na busca de uma adequação dos estádios e do jogo ao que se entende pelo “ideal da ordem, limpeza e beleza da Modernidade”. Justifica assim as medidas punitivas que têm sido tomadas contra as torcidas organizadas.
Segundo a pesquisadora, estes coletivos cumpriam papel de resistência a esse processo. “Hoje, não há mais margem de sobreviver no futebol fora desse padrão de “modernidade”. Dessa realidade, a única coisa que tinha sobrado eram as torcidas, que agora também estão sendo ameaçadas”, afirma. Para ela, a violência no futebol não se restringe às torcidas organizadas. Na realidade, a violência é própria da vida do homem em sociedade e as torcidas constituem, no âmbito futebolístico, um microespaço no qual essa violência se torna presente.
“O novo Estatuto do Torcedor é o carro-chefe desse processo de modernização”, afirma Klecia Renata, questionando o papel que o projeto aplicado pelo ministério dos Esportes vem cumprindo. Para ela, a lei sancionada em 2010 é responsável pelas ameaças de banimento, proibição da entrada nos estádios, venda de materiais padronizados e criminalização dos torcedores organizados. Ainda segundo a pesquisadora, a reorganização das T.Os tem gerado elitização de seu corpo de integrantes, uma vez que a concepção de que o torcedor mais pobre é o causador da violência é o que tem imperado no senso comum.
Panorama nacional
Além da orientação do professor Eduardo Leal Cunha e da presença de Daniel Menezes Coelho, ambos da UFS, a defesa da dissertação teve como convidado o historiador Bernardo Borges Buarque de Hollanda, doutor em História Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e pesquisador do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea da Faculdade Getúlio Vargas (CPDOC-FGV). Estudioso do assunto há mais de dez anos, Bernardo reforçou, no seu comentário como integrante da banca da defesa da dissertação, a ligação entre o “ideal da ordem e limpeza da Modernidade” e o processo de elitização do público torcedor do futebol, traçando paralelos com os processos ocorridos em outros países, como a Inglaterra.
O pesquisador, que também estudou o histórico das torcidas organizadas no Brasil, lembra que criminalizar os torcedores uniformizados é parte do mesmo projeto que busca excluir o torcedor mais pobre dos estádios. “Isso é uma forma de elitizar o espectador, e essa vai ser a tendência. O “telespectador” vai ser o lugar das classes populares”, afirma. Bernardo justifica sua hipótese mostrando como os estádios têm diminuído, após sucessivas reformas, a sua capacidade de público e aumentado o valor dos ingressos buscando atingir apenas um público consumidor de classe média-alta.
Um aspecto também ressaltado pelo estudioso é a movimentação das torcidas organizadas buscando frear tal processo. No Rio de Janeiro, foi fundada a Federação das Torcidas Organizadas, a Ftorj, enquanto no âmbito nacional a Confederação das Torcidas Organizadas (Conatorg) dá os primeiros passos. “É sempre muito difícil uma representação das torcidas organizadas porque existem muitos conflitos internos e entre elas. Mas já é um sinal de que há um avanço, uma possibilidade de declamar direitos. Não apenas deveres, como querem os dirigentes”, afirma.
Quando questionado sobre como o senso comum brasileiro tem apoiado tal processo de modernização, Bernardo é enfático: “É muito desigual essa transmissão de mensagens”. Para ele há grande dificuldade em explicar como esse processo vai excluir os próprios torcedores que aprovam tais medidas.
O avanço do processo de criminalização
Em 13 de junho de 2011, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro acionou as torcidas organizadas para uma audiência pública. Estavam presentes representantes de 36 torcidas, do ministério do Esporte, da Polícia Militar, da secretaria de Estado de Esporte e Lazer, da superintendência de Desportos do Estado do Rio de Janeiro (Suderj) e da Federação das Torcidas Organizadas do Rio de Janeiro (Ftorj).
Todos os convidados tiveram de assinar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que operacionaliza o Estatuto do Torcedor. Entre as exigências, estão a proibição de diversos artigos, como bandeiras, faixas, e materiais que possivelmente ocasionariam o ferimento dos presentes no estádio e a penalização da Torcida Organizada em caso de descumprimento de algumas normas por parte de algum dos seus integrantes.
Ao fim da Audiência, Flávio Martins, presidente da Ftorj, lamentou que apenas as torcidas organizadas fossem responsabilizadas pelo esvaziamento dos estádios. “Muito se fala da violência promovida pelas torcidas, mas nunca se questiona a condição do transporte público que tem sido disponibilizado, nem o valor dos ingressos e nem o horário dos jogos”, afirmou.
(*) Matéria publicada originalmente no Outras Palavras, do Le Monde Diplomatique Brasil.
domingo, 7 de agosto de 2011
Cirandar - Gravação do DVD
segunda-feira, 25 de julho de 2011
Cirandar no CEU Navegantes
quarta-feira, 20 de julho de 2011
Manifesto
TRABALHADORES DA CULTURA, É HORA DE PERDER A PACIÊNCIA!
CULTURA JÁ!
MANIFESTO
CONTATO
Manifesto dos Trabalhadores da Cultura
Trabalhadores da Cultura, é hora de perder a paciência!
O Movimento de trabalhadores da cultura quer tornar pública sua indignação e recusa ao tratamento que vem sendo dado à cultura deste país, aprofundando e reafirmando as posições defendidas desde 1999, no Movimento Arte Contra Bárbarie. A arte é um elemento insubstituível para um país por registrar, difundir e refletir o imaginário de seu povo. Cultura é prioridade de estado, por fundamentar o exercício crítico do ser humano na construção de uma sociedade mais justa.
A produção artística vive uma situação de estrangulamento que é resultado da mercantilização imposta à cultura e à sociedade brasileiras. O estado prioriza o capital e os governos municipais, estaduais e federal teimam em privatizar a cultura, a saúde e a educação. É esse discurso que confunde uma política para a agricultura com dinheiro para o agronegócio; educação com transferência de recursos públicos para faculdades privadas; incentivo à cultura com Imposto de Renda usado para o marketing, servindo a propaganda de grandes corporações. Por meio da renúncia fiscal – em leis como a Lei Rouanet – os governos transferem a administração de dinheiro público destinado à produção cultural, para as mãos das empresas. Dinheiro público utilizado para interesses privados. Esta política não amplia o acesso aos bens culturais e principalmente não garante a produção continuada de projetos culturais.
Em 2011 a cultura sofreu mais um ataque: um corte de 2/3 de sua verba anual (de 0,2% foi para 0,06% do orçamento geral da União) em um momento de prosperidade da economia brasileira. Esta regressão implicou na suspensão de todos os editais federais de incentivo à Cultura no país, num processo claro de destruição das poucas conquistas da categoria. Enquanto isso, a renúncia fiscal da Lei Rouanet, não sofreu qualquer alteração apesar de inúmeras críticas de toda a sociedade.
Trabalhadores da Cultura, é HORA DE PERDER A PACIÊNCIA: Exigimos dinheiro público para arte pública!
Arte pública é aquela financiada por dinheiro público, oferecida gratuitamente, acessível a amplas camadas da população – arte feita para o povo.
Arte pública é aquela que oferece condições para que qualquer cidadão possa escolhê-la como seu ofício e, escolhendo-a, possa viver dela – arte feita pelo povo.
Por uma arte pública tanto nós, trabalhadores da cultura, como toda a população tem seu direito ao acesso irrestrito aos bens culturais, exigimos programas – e não um programa único – estabelecidos em leis com orçamentos próprios, que estruturem uma política cultural contínua e independente – como é o caso do Prêmio Teatro Brasileiro, um modelo de lei proposto pela categoria após mais de 10 anos de discussões.
Por uma arte pública exigimos Fundos de Cultura, também estabelecidos em lei, com regras e orçamentos próprios a serem obedecidos pelos governos e executados por meio de editais públicos, reelaborados constantemente com a participação da sociedade e não apenas nos gabinetes.
Por uma arte pública, exigimos a imediata votação da PEC 236, que prevê a cultura como direito social, e também imediata votação da PEC 150, que garante que 2% do orçamento da União seja destinado à Cultura, nos padrões propostos pela ONU, para que assim tenhamos recursos que possibilitem o tratamento merecido à cultura brasileira.
Por uma arte pública, exigimos a imediata publicação dos editais de incentivo cultural que foram suspensos e o descontingenciamento imediato da já pequena verba destinada à Cultura. Por uma arte pública, exigimos o fim da política de privatizações e sucateamentos dos equipamentos culturais, o fim das leis de renúncia fiscal, o fim da burocratização dos espaços públicos e das contínuas repressões e proibições que os trabalhadores da cultura têm diariamente sofrido em sua luta pela sobrevivência. Por uma arte pública queremos ter representatividade dentro das comissões dos editais, ter representatividade nas decisões e deliberações sobre a cultura, que estão nas mãos dos interesses do mercado. Por uma arte pública, hoje nos dirigimos à Senhora Presidenta da República, ao Senhor Ministro da Fazenda e às Senhoras Ministras do Planejamento e Casa Civil, já que o Ministério da Cultura, devido a seu baixo orçamento encontra-se moribundo e impotente.
Exigimos a criação de uma política pública e não mercantil de cultura, uma política de Estado, que não pode se restringir às ações e oscilações dos governos de plantão. O Movimento de Trabalhadores da Cultura chama toda a população a se unir a nós nesta luta.
segunda-feira, 11 de julho de 2011
Cirandar
Cirandar, ciranda: o que vem a mente? Sim, é isso mesmo! Dar as mãos,
fazer uma roda e cantar. O projeto Cirandar esmiuça uma pesquisa sobre
esse tema de larga tradição oral e gerou um espetáculo
cujo o objetivo é claro e de conhecimento de todos:
“Vamos todos CIRANDAR!”
O Coletivo Fadosolrelamisi convida todos para o
Espetáculo, agora contemplado pelo VAI-2011, que une
Música, Dança, Teatro e Literatura de Cordel
falando sobre a dança portuguesa que se espalhou pelo Brasil
Agenda (Todos as apresentações são gratuitas)
16/07/2011 – Associação de Moradores de Vila Rica - 19h
(Rua João Batista de Lima, 47 – Vila Rica – Próximo a EMEF Roquette Pinto)
17/07/2011 – CEU Inácio Monteiro - 16h
(Rua Barão Barroso do Amazonas, s/nº - COHAB Inácio Monteiro)
31/07/2011 – CEU Navegantes - 16h
(Rua Maria Moassab Barbour, s/nº - Parque Residencial Cocaia)
14/08/2011 – CEU Sapopemba (Gravação do DVD do Espetáculo) - 16h
(Rua Manuel Quirino de Mattos, s/nº - Jardim Sapopemba)
28/08/2011 – Associação de Moradores de Vila Rica - 15h
(Lançamento do DVD, mediante convite)
(Rua João Batista de Lima, 47 – Vila Rica – Próximo a EMEF Roquette Pinto)
quinta-feira, 30 de junho de 2011
BREVE HISTÓRIA DA MÚSICA ATRAVÉS DO CANTO
BREVE HISTÓRIA DA MÚSICA ATRAVÉS DO CANTO no CORTINAS LYRICAS
Local: Teatro Oficina (Rua Jaceguai, 520, Bexiga. Tel: 11. 3106-2818).
Data: Sábado, 2 de Julho de 2011.
Horário: Meio-dia. Horário da bilheteria: Uma hora antes de cada sessão.
Ingresso: R$ 1,00.
Indicação etária: Livre.
BREVE HISTÓRIA DA MÚSICA ATRAVÉS DO CANTO
Venham ver esse espetáculo onde será brevemente repassado os principais momentos históricos da música ocidental partindo da música de origem hebraica e da música grega até a música contemporânea.
O repertório da música de concerto ocidental é muito vasto, mesmo quando restrito a música vocal. Há uma gama de repertório imensa, especialmente nos últimos 500 anos da música erudita de origem europeia. Nossa música e cultura erudita em geral descende da música religiosa judaico cristã e da cultura erudita grega, sendo assim, todo o nosso conhecimento registrado não foge dessas origens.
Posteriormente a música europeia registrada segue as escolas nomencladas geralmente como: medieval, renascimento, barroco, classicismo, romantismo, modernismo até o contemporâneo, música de nossa época, sendo essas obras por terem registro em partituras e gravações, mais usualmente executadas e assim chegando ao nossos tempos.
Cada época narrada será demonstrada no espetáculo com uma peça desse período. A peça contemporânea terá sua estreia mundial nesse espetáculo, sendo que a mesma foi especialmente composta para ele. Serão executadas peças anônimas gregas, hebraicas, medievais e peças dos compositores Dowland, Haendel, Mozart, Verdi, Schumann, Wagner, Villa-Lobos e Ricas.
Ficha-técnica:
Piano, Direção Musical e Preparação Vocal: Vera Platt
Direção cênica: Antonio Revuelta, Iara Campello e Luiz F. Ricas
Roteiro, Pesquisa Histórica e Narração: Luiz F. Ricas
Soprano: Iara Campello
Tenor: Cássio Oliveira
Barítono: Rodrigo Garcia
Piano e Preparação Vocal: Vera Platt
Figurino: Milton Fucci
PROGRAMA
1. Narração: Prováveis origens do canto, música antiga, especialmente a música hebraica.
2. Peça: "Tehilim 150" (Salmo 150) para coro
3. Narração: cultura grega, cultura pagã e sua música
4. Peça: Ditirambo sobre o fragmento de um coral de Orfeu de Euripídice "Katholophuromai, Katholophuromai" para flautas doces adaptadas ("aulo") e tenor
5. Peça: Primeiro Hino Délfico à Apolo (anônimo atheniense) "Keklhuth Helikona" para piano ("harpa") e tenor
6. Narração: Música cristã e Idade Média
7. Peça: "Ave Maria" (Canto Gregoriano) para coro
8. Narração: Renascença, sua música e a revolução palestrinica e motetos
9. Peça: "Flow My Tears" - John Dowland para tenor e piano
10. Narração: Período barroco e a música atual
11. Peça: "The people that walked in darkness have seen a great light" da cantata Messias de G. Haendel
Intervalo
12. Narração: Burguesia, Classicismo e a ópera
13. Peça: Dueto "La Ci Daren la Mano" da ópera Don Giovanni de W. A. Mozart para barítono, soprano e piano
14. Narração: Romantismo
15. Peça: Lied "Morgens steh' ich auf und frage" de R. Schumann para barítono e piano
16. Peça: Romanze "O du mein holder Abendltern" da Ópera Tannhauser de R. Wagner com redução para piano de Franz Liszt para barítono e piano
17. Peça: "La Donna è Mobille" da Ópera Rigotello de G. Verdi para tenor e piano
18. Narração: Século XX e a ruptura: modernismo
19. Peça: "Lundu da Marquesa de Santos" modinha de H. Villa-Lobos para soprano e piano do livro Modinhas e canções, Album 1 (1935-43)
20. Narração: Contemporaneidade e a tecnologia
21. Peça: "Considerações dodecafônicas para soprano, piano e eletroacústica" de Luiz F. Ricas.
HISTÓRICO DO COLETIVO K O P
Esse grupo começa a surgir entre alunos do curso de Educação Artística com Habilitação em Música da Faculdade Paulista de Artes (FPA) e cujos interesses se convergiam: música erudita e popular, artes integradas e teatro. O núcleo Luiz F. Ricas, Rodrigo Garcia, Iara Campello e Israel Ludovico que faziam parte da mesma turma e Viviane Vivolo pertencia a turma anterior. Com isso, diversas audições do repertório erudito e de performance foram feitas por esse núcleo na FPA entre 2008 e 2010, com repertório passando por compositores como Palestrina, Bach, Mozart, Schubert, Schumann, anônimos medievais e composições próprias com linguagem contemporânea, fora uma Performance baseada em Lygia Clark realizada na própria faculdade. O interesse em comum gerou uma grande amizade e um enorme interesse profissional e estético mútuo.
Em 2010, juntamente com o ator Antonio Revuelta e a professora mestra Patrícia Crepaldi, Iara Campello fundou a produtora Kikiza Ópera Pop, na qual o seu nome já orientava os interesses estéticos dos fundadores e atrelados: cultura popular, erudita e folclórica. Com a conclusão do cursos dos citados, a saída da faculdade de Patrícia Crepaldi e os interesses estéticos, artísticos e de linguagens em comum: Antonio, Iara e Luiz fundaram o coletivo KOP que nesse início de 2011 já começa em intensa atividade. Estão sendo elaborados nesse momento três peças teatrais (o infanto-juvenil “Trio em La Menor” baseado num conto de Machado de Assis, o infantil “É Proibido Miar”, baseado no livro de Pedro Bernardes, em fase de adaptação de roteiro e o adulto “100 anos de Multidão”, em fase de captação de recursos), além do recital narrado “Breve História do Canto” O Breve História do Canto integra a programação de julho (dia 2) da série “Cortinas Lyricas do Oficina”.
O coletivo tem como foco de trabalho a difusão cultural, especialmente em teatro escola e teatro empresa, utilizando da realidade do público alvo e também o trabalho artístico como fim, onde a única preocupação dos trabalhos dessa linha do grupo é a expressão artística e a busca por uma linguagem e sensibilidade estética como fim do trabalho almejado, onde os trabalhos serão permeados pela busca e pesquisa de uma linguagem expressiva própria através do rompimentos de “dogmas” artísticos e o anseio criativo em si.
quinta-feira, 19 de maio de 2011
quinta-feira, 28 de abril de 2011
TEXTO SOBRE ARTE CONTEMPORÃNEA PARA A EXOSIÇÃO DA SAMARA COSTA QUE SE ENCERRA ESSA SEMANA
"A finalidade da arte é dar corpo à essência secreta das coisas, não é copiar sua aparência." ( Aristóteles ).
"Um olho vê, o outro sente." (Paul Klee).
"Todas as artes contribuem para a maior de todas as artes, a arte de viver." (Bertold Brecht).
"Os espelhos são usados para ver o rosto; a arte para ver a alma."
(George Bernard Shaw).
“A obra de Arte é a criação das formas simbólicas do sentimento humano” ("Art is the creation of forms symbolic of human feeling") (Susanne Langer)
As citações acima foram feitas por pessoas que viveram e pensaram desde o século III antes de Cristo até o século passado. Em comum entre elas, fora o tema: a arte, elas tem o poder de definir o pensamento da Arte de nossos tempos, mais usualmente chamada de Arte Contemporânea. Há mais de um século a arte não tem a intenção de retratar formas bonitinhas, agradáveis, simétricas, mas sim, como disse Langer, dar forma ao sentimento humano. Desde o final do século retrasado, mas principalmente no século XX, todos os paradigmas, formatos, materiais e buscas de todas as artes (não apenas as visuais, mas fenômeno similar acontece em todas as áreas da expressão humana).
Não busquemos entender, o sentimento não se entende, se sente. Busque aqui nessa exposição, rara em bairros periféricos, o encontro do seu sentir, do sentido da visão em sua alma, em seu coração, em sua cabeça, em suma: no seu equilíbrio. Aproveite para conhecer suas sensações mais profundas, muito além de uma bela imagem, uma música agradável ou um rosto bonito, algo que está dentro de você, muito abaixo da superfície que querem que acreditemos que é o máximo que podemos chegar. Uma maçã pode ser muito bonita, mas apenas depois de mordermos ela (destruindo sua forma bela e natural) que sentimos seu gosto e à aproveitamos realmente. Assim é a arte. Saboreie sem nenhuma moderação!
quarta-feira, 30 de março de 2011
1a. EXPOSIÇÃO DE ARTE CONTEMPORÂNEA DA HISTÓRIA DA VILA RICA
Fragmentos de uma trajetória
SAMARA COSTA
Exposição retrospectiva da obra de Samara Costa, artista visual contemporânea nascida e criada na Vila Rica. Essa será a primeira (de muitas) exposição de Arte Contemporânea na Vila Rica na história do bairro,
de 02 de Abril de 2011 à 30 de Abril de 2011
ASSOCIAÇÃO DE MORADORES DO BAIRRO DE VILA RICA
Rua João Batista de Lima, 47 – Vila Rica (próximo à EMEF Roquete Pinto)
Entrada Franca
Curadoria: Luiz F. Ricas e Samara Costa
Apoio: Bia Moreno (Presidente da Associação de Moradores do Bairro de Vila Rica) e Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
Aqui Para um Jogador e Começa um Mito
sábado, 5 de fevereiro de 2011
CIRANDAR - Artigo
PARA LER O ARTIGO, CLIQUE NO TÍTULO
A embriaguez no futebol
por Socrates14 de setembro de 2010 às 16:56h
Sejamos dionisíacos, e deixemos que nossos afetos sejam excitados e intensificados. Durante a copa africana, por sinal, Cruyff clamava justamente por isso, criticando a “antiarte” que levamos aos campos
Muitas vezes nos surpreendemos com atuações medíocres de determinados jogadores, os quais, como sabemos, jogam muito mais do que naquele instante ou fase. A percepção das causas do fato passa necessariamente pelo estado anímico desse indivíduo, quando chamado a desfilar suas qualidades em campo.
Ou, por outro lado, nos encantamos com a destreza, a beleza, a criatividade e a alegria do talento de determinados atletas que em alguns momentos parecem deuses. Também aqui a sensibilidade, a liberdade, a independência, a clareza e a leveza são decorrentes do estado emocional em que ele se encontra.
Como dizia Nietzsche: “Para que exista arte, para que exista algum fazer e contemplar estético, é imprescindível uma condição fisiológica: a embriaguez. A embriaguez precisa inicialmente ter intensificado a excitabilidade da máquina inteira. Antes disso não se chega a arte alguma. Todos os tipos de embriaguez, por mais distintamente condicionados, têm força para tanto: sobretudo a embriaguez sexual, a mais antiga e mais originária forma de embriaguez. Da mesma maneira, a embriaguez que segue todos os grandes apetites, todos os afetos intensos; a embriaguez da festa, da competição, da façanha, da vitória, todo movimento extremo; a embriaguez da crueldade; a embriaguez na destruição; a embriaguez influenciada por narcóticos; por fim, a embriaguez da vontade, a embriaguez de uma vontade acumulada e intumescida. O essencial da embriaguez é o sentimento de plenitude e intensificação da força. É a partir desse sentimento que damos às coisas, que forçamos que tomem de nós, as violentamos – esse processo é chamado de idealização. A idealização não consiste, como geralmente se acredita, em tirar ou subtrair o que é pequeno, secundário. O decisivo, antes, é um colossal transbordar dos traços principais, de modo que os demais desaparecem”.
Todos os rituais respeitados por quase todos os atletas – e cada um deles possui um ritual exclusivo que se manifesta nos instantes que antecedem uma partida, além daqueles que são originários da mobilização coletiva – têm como objetivo básico a busca da embriaguez plena.
O tipo de embriaguez que buscam depende do caráter e da personalidade de cada indivíduo, e de tudo aquilo que ele está vivendo em determinado momento. E nem sempre essas particularidades permitem que ele encontre a embriaguez necessária para o pleno desempenho ou a entrega ao que se propõe a fazer. Daí a diversidade do tipo e da essência da arte que consegue extrair de seu ser ou da não arte que deixa de se esconder de seu autor e transparece mesmo contra a vontade do mesmo.
E aí voltamos ao filósofo: “Só na embriaguez enriquecemos todas as coisas com a nossa própria plenitude: o que se vê, o que se quer, é visto intumescido, apinhado, enérgico, sobrecarregado de força. O homem que se encontra nesse estado transforma as coisas até que reflitam o seu poder – até que sejam reflexos de sua perfeição. Esse ter de transformar em perfeição é arte. Mesmo tudo aquilo que ele não é se torna, apesar disso, um deleite consigo mesmo; na arte, o homem goza a si próprio como perfeição”.
E é nesse estado de embriaguez que se baseia o futebol brasileiro. É o que encanta todos os amantes do futebol chamado de arte. É o que nos faz diferentes de todo o resto da humanidade no quesito futebol. Nenhuma cultura consegue chegar perto daquilo que podemos mostrar dentro de um campo de futebol.
Sejamos dionisíacos; deixemos que nossos sistemas de afetos sejam excitados e intensificados. Isto é, descarreguemos tudo o que é expressivo de uma só vez; liberemos a força de representar, imitar, transfigurar e transformar, bem como nossa teatralidade. É para o que clamava Cruyff, durante o mundial da África do Sul, nos chamando a atenção para o que estávamos escondendo, camuflando, omitindo. E isso só ocorreu porque ali se buscava a “antiarte”. Aquela que é exatamente o estado contrário do que somos instintivamente – de modo que fizemos com que todas as coisas se tornassem pobres, rarefeitas, esgotadas.
De fato, a história é rica de agentes da “antiarte”, esfomeados que são da vida: são os que, necessariamente, precisam se apossar das coisas, consumi-las, deixá-las mais magras, secas e mortas.
Sócrates
Sócrates é comentarista esportivo, foi jogador de futebol do Corinthians, entre outros clubes, e da seleção brasileira.
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
ÓPERA SAMBA
Cena 2
(Flávio entra no bar cantando)
FLÁVIO
Boa tarde povo
Eu hoje cantarei
Meus amores, cantarei
Cantarei a felicidade que sinto
Quando vejo o povo sorrindo
As crianças brincando sob
O morro luzindo.
Cantarei o bom dia das
Donas de casa e do seu Zé do ba(r)
Cantarei a alegria do jogar
Bola das crianças e dos adultos
Da festa quando o time ganha
E do vazio da rua quando
Rola os grandes clássicos.
Essa é a vida que eu
sempre cantarei, sempre cantarei
Essa a vida que amo
Futebol, vida e povo
Essa é a vida que eu canto
Futebol, vida e povo
Essa a vida que amo
Futebol, vida e povo
Essa é a vida que eu canto
Futebol, vida e povo
(Entra Salomé no bar)
(ralentando) Essa é a vida que eu amo
SALOMÉ
Desculpe interromper
Seu belo samba, mas uma
Informação eu preciso.
Como faço para
Na escola municipal chegar?
FLÁVIO
Não precisa se desculpar
Nunca deixaria de falar
Com uma estrela cadente
Diante de meus olhos ardentes
Você subirá essa rua até o fim
E na escola, minha bela,
Tu estarás.
SALOMÉ
Muito obrigada...
(Olha para ele com um olhar interrogativo)
FLÁVIO ...Flávio
SALOMÉ
Obrigada, Flávio
Meu nome é Salomé
E aqui vou trabalhar
Outras vezes iremos nos
Encontrar.
FLÁVIO
Assim espero (abre um sorriso e olha nos olhos dela)
SALOMÉ
Essa a vida que amo
Futebol, vida e povo
Essa a vida que amo
Futebol, vida e povo
(Salomé sai cantando esse refrão. Sai Flávio)
sábado, 29 de janeiro de 2011
Haiti: história de um genocídio e de um ecocídio
Revista Forum29 de janeiro de 2011 às 11:08h
Quando Colombo chegou em 1492 à ilha que chamou La Española (Haiti e Santo Domingo) ele encontrou um verdadeiro pomar ocupado por uma grande população nativa que vivia pacificamente.
Entretanto, desde 1500 começou o desmatamento da ilha para dar lugar aos cultivos dos conquistadores, bem como teve início a eliminação física dos nativos, que foram substituídos por africanos reduzidos à escravidão. Foi assim que, no início do século XXI, os bosques, que no momento da conquista ocupavam 80% do território, foram reduzidos a 2% no Haiti e a 30% em Santo Domingo, com tremendas conseqüências ecológicas e climáticas. (1)
A primeira República da América Latina e do Caribe e a primeira República negra do mundo
Há algo mais que 200 anos, no dia 1º de janeiro de 1804, a população do Haiti aboliu a escravidão e se proclamou República independente.
A abolição da escravatura no Haiti suscitou medos de que se espalharia o exemplo entre os escravos das colônias europeias vizinhas e também nos Estados Unidos, onde a escravidão existiu até a guerra da Secessão, na década de 1860. Por esse motivo, o Haiti sofreu um largo período de isolamento internacional.
Em 1802 Napoleão, que se propôs a restabelecer a escravidão nas colônias, enviou ao Haiti uma expedição militar de 24 mil homens sob o comando do general Leclerc, que de inicio alcançou algum apoio e até recebeu alistamentos por parte dos haitianos sob a falsa promessa de restabelecimento da escravidão.
Toussaint Louverture, com outra parte dos haitianos, não se deixou enganar e lutaram contra os franceses com desvantagens.
Quando, no entanto, se espalhou a notícia da prisão de Toussaint Louverture, de sua deportação à França e do restabelecimento da escravidão em outras colônias como Guadalupe, os rebeldes reiniciaram com mais força os combates e finalmente derrotaram o exército enviado por Napoleão e entraram em Porto Príncipe em outubro de 1803. As forças francesas, que haviam perdido milhares de homens, entre eles seu general Leclerc e vários outros generais, evacuaram a ilha em dezembro de 1803.
Desde então e até agora os haitianos tiveram que suportar invasões (dos EUA, de 1915 a 1934), ditaduras sob o patrocínio dos Estados Unidos (Duvalier pai e filho, e este último retorno ao Haiti enquanto Aristide está proibido de voltar), golpes de Estados e novas invasões.
Aristide, primeiro presidente do Haiti democraticamente eleito, expulso pelos Estados Unidos e França.
Quando Aristide, o primeiro presidente da história haitiana eleito democraticamente, assumiu o governo no Haiti em fevereiro de 1991, ele propôs aumentar o salário mínimo de 1,76 a 2,94 dólares por dia. A Agência para Investimento e Desenvolvimento dos Estados Unidos (USAID) criticou esta iniciativa, dizendo que significaria uma grave distorção do custo da mão de obra. As linhas de montagem estadunidenses radicadas no Haiti (quer dizer, quase a totalidade de linhas de montagem estrangeiras) concordaram com a análise da USAID e, com a ajuda da Agência Central de Inteligência, prepararam e financiaram o golpe de Estado contra Aristide em setembro de 1991 (2). Como a reação internacional (o embargo) e o caos interno paralisaram a produção das empresas estadunidenses no Haiti, as tropas do país restabeleceram Aristide no governo em 1994 e asseguraram simultaneamente a impunidade e um recuo confortável aos chefes militares golpistas.
As forças armadas dos Estados Unidos, que intervieram no Haiti com o aval do Conselho de Segurança da ONU, se apoderaram da documentação referente às violações dos direitos humanos cometidas pela ditadura militar e provavelmente das provas de intervenção da CIA no país. As autoridades dos Estados Unidos continuam retendo a dita documentação, apesar das várias reclamações a este respeito feitas em diversas ocasiões. (3)
Em 2004 se repetiu o cenário de 1991, com Aristide, que havia sido reeleito em 2001, politicamente desprestigiado, sitiado economicamente pelos Estados Unidos e asfixiado pelo Fundo Monetário Internacional. Desta vez a expulsão de Aristide foi orquestrada pelos Estados Unidos tendo a França como segundo violino e legitimada pelo Conselho de Segurança após o ocorrido. Aristide teria, além de tudo, imprudentemente reclamado à França a devolução da “indenização” que o Haiti havia pago no século XIX, estimada atualmente em 21 bilhões de dólares.
De fato, a França cobrou o Haiti por sua independência
Em 1814 a França exigiu do Haiti uma indenização de 150 milhões de francos-ouro, que em 1838 rebaixou a 90 milhões. Foi só quando o Haiti aceitou a exigência que a França passou a reconhecê-lo como nação independente, recebendo as quotas da indenização que o Haiti terminou de pagar em 1883.
Logo após a queda de Aristide em 2004, reuniu-se em Washington uma “Conferência de Doadores”. Um ano depois, daqueles 1 bilhão e 80 milhões comprometidos durante a dita Conferência, haviam chegado ao Haiti somente 90 milhões, metade dos quais eram destinados à organização das eleições.
A MINUSTAH (Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti) criada pelo Conselho de Segurança da ONU em 30 de abril de 2004, usando como pretexto a proliferação de criminosos armados, realizou verdadeiros massacres em Cité Soleil, o bairro mais pobre de Porto Príncipe e reduto principal dos partidários de Aristide. Os massacres ocorreram em 6 de julho de 2005 e nos dias 16, 22 e 28 de dezembro de 2006, e utilizaram metralhadoras pesadas, cujas balas atravessavam de um lado a outro as miseráveis casas, como se fossem de papel.
O Terremoto
Diversas instituições (Médicos Sem Fronteiras e outras) denunciaram que a implantação das forças militares estadunidenses no país impediu a ajuda sanitária urgente dos primeiros momentos.
Em 21 de janeiro, Françoise Saulnier, diretora jurídica do MSF, informou que cinco pacientes faleceram no centro médico instalado pela instituição. Saulnier me disse: “A cirurgia é uma prioridade urgente em tais catástrofes. São os três primeiros dias para retirar toda a gente dos escombros, mais os três dias seguintes para executar todas as intervenções cirúrgicas e depois vem a comida, o abrigo, a água. Tudo se misturou, a atenção à vida da gente se atrasou de tal maneira que a logística militar, que poderia ser útil no quarto dia ou mesmo no oitavo, correu e lotou o aeroporto”. Segundo Saulnier, os três dias perdidos criaram graves problemas de infecção, de gangrenas e os obrigaram a realizar amputações que poderiam ter sido evitadas.
O papel do Conselho de Segurança.
O Conselho de Segurança da ONU, que se reúne em menos de 24h quando o tema interessa às grandes potências, tardou uma semana em se reunir e adotou como única decisão aumentar o contingente da MINUSTAH a 8.940 militares e 3.711 policiais.
Quando, em setembro de 2009, discutiu-se no Conselho de Segurança a prorrogação do mandato da MINUSTAH, vários diplomatas levantaram a necessidade de dar uma nova orientação à dita Missão. O representante da Costa Rica disse que os haitianos precisam mesmo é de um futuro melhor, e, para poder comer, contar com um setor agrícola dinâmico. Perguntou-se por que prosseguir a enormes custos com a militarização da MINUSTAH e a reconstituição das forças armadas se o Haiti não é objeto de nenhuma ameaça exterior. Disse também que era urgente superar o obstáculo que é o regime de propriedade da terra.
No entanto, a MINUSTAH continuou com a mesma orientação majoritariamente militarista.
Atualmente existe no Haiti uma força militar quase equivalente, em proporção à população e ao território, às forças armadas despendidas no Afeganistão e Iraque.
O aumento do salário mínimo como detonador?
O salário mínimo no Haiti estava fixado desde maio de 2003 em 70 gourdes por dia, isto é, 1,75 dólares, o mesmo salário em dólares que havia em 1991, quando Aristide quis aumentá-lo para 2,94 dólares. Em 2007 produziu-se no Haiti um enorme processo inflacionário que afetou os preços dos produtos básicos. Levando em conta esta dita inflação, o salário mínimo industrial deveria situar-se entre 550 e 600 gourdes diários. Depois de dois anos de discussão, o Parlamento haitiano aprovou em abril de 2009 um aumento do salário mínimo a 200 gourdes, ou seja, algo menos que 5 dólares diários. O presidente da República e o governo haitiano se recusaram a ordenar a promulgação da nova lei.
Foram organizadas grandes manifestações de estudantes e trabalhadores exigindo a promulgação da lei, e estas foram violentamente reprimidas pela polícia haitiana e pela MINUSTAH.
Finalmente em agosto de 2009 se fixou o salário mínimo em 150 gourdes diários (uns 3,50 dólares)
Totalmente insuficiente para viver, porém inaceitável para as empresas.
Talvez este aumento do salário mínimo possa explicar, pelo menos em parte, a ocupação das Forças Armadas dos Estados Unidos no Haiti. Como foi o caso com o golpe militar de 1991. (4)
Roubo e apropriação de crianças
O Haiti tem uma larga história de roubos de crianças, adoções ilegais, além de bem fundamentadas suspeitas de tráfico de órgãos de crianças.
Depois do terremoto foram constatadas numerosas transgressões ao “interesse superior da criança”: o roubo de menores, a aceleração dos procedimentos de adoção e a expatriação de crianças com fins alegadamente humanitários.
Tudo isto violando a Convenção dos Direitos da Criança, a Convenção sobre a Adoção Internacional, as Diretrizes do Escritório do Alto das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) sobre a proteção das crianças em caso de conflitos armados ou catástrofes naturais, e também as recomendações da UNICEF. O ACNUR e a UNICEF sustentam que, em circunstâncias como as que o Haiti atravessa, é necessário PARALISAR os processos de adoção, e não iniciar novos, não se pode usar indevida e abusivamente a classificação de “órfãos”, mas sim de “menores desacompanhados” até que se saiba com certeza o que ocorreu com seus pais e sua família próxima. E insistem que não se pode expatriar as crianças, para evitar que, além do trauma da catástrofe, sofram o trauma da separação abrupta de seu ambiente habitual e da ruptura de todos os laços familiares.
Depois do terremoto a Holanda levou 109 crianças do Haiti, que, aparentemente, já se encontravam em processo de adoção, os EUA levaram 53 crianças a Pittsburgh “para melhorar seu estado de saúde”, ainda que informações assegurem que eles facilitarão os processos de adoção por casais que atendam aos requisitos. Devemos entender que estas 53 crianças nem sequer estavam em um processo de adoção. A França expatriou mais 120, ao que parece como resultado de uma “aceleração” do processo de adoção.
Segundo uma porta-voz da UNICEF, Véronique Taveau, a política do organismo internacional é conseguir a reunificação da família a todo custo e neste sentido expressou sua preocupação pela decisão de alguns países em acelerar os trÂmites de adoção. Inclusive quando o trâmite da adoção estiver terminado. “As Autoridades centrais de ambos Estados assegurarão para que o deslocamento se realize com toda a segurança, em condições adequadas, e, quando for possível, em companhia dos pais adotivos ou dos futuros pais adotivos”, como indica o artigo 19 inciso 2 da Convenção sobre a Adoção Internacional. Quer dizer que em circunstâncias tão dramáticas quanto estas, os pais adotivos deveriam ir buscar a criança adotada e não simplesmente esperá-lo no aeroporto de chegada.
Em suma, não se trata de “ajudar” o Haiti (de fato, as promessas de doações se fizeram efetivas em uma mínima parte) senão de respeitar o seu povo (entre outras coisas, que seja o povo haitiano e não a OEA e a ONU que elejam as autoridades haitianas) (5), de devolver a eles o que é possível devolver de tudo o que lhes foi tomado em 500 anos.
Devolver-lhes em dinheiro, em reflorestamento, em desenvolvimento agrícola diversificado, em equipamentos, em reconstrução, em material sanitário etc.