terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Governabilidade, o novo nome de vender a alma para a diabo

Governabilidade, o novo nome de vender a alma para a diabo. Governabilidade, o nome de "fazemos qualquer negócio para se manter no poder.

Agora, papo reto: alguém realmente acreditou que seria diferente disso? Eu, inclusive declarei nessa rede social que estava votando no segundo turno contra as forças escusas e fascistas que se aglutinaram no discurso e nos grupos de apoio aos bicudos azuis, co irmão dos vermelhos trabalhistas que nomeiam pessoas que possuem escravos para seu ministério.

Insisto: voto ameniza ou não os efeitos do real governo, aquele das grandes empreiteiras, bancos, coronéis, latifundiários que apenas elegem seus office boys para manter intacto seu poder e isso não mudará digitando números num micro ondas não aferível. Os dois partidos que se alternam no poder há vinte anos confirmam isso. Só chegaram lá quando aceitaram rasgar seu programa e seus ideais em troca do título "visível" do poder.

Sinto muito àqueles que acreditaram na guinada à esquerda. Pelo menos vocês ajudaram a impedir o turbo à direita. O outro que usa palavras de esquerda e bandeiras vermelhas já faz mais de 15 anos que dá seta à direita e muitos ainda em 2014 caem em imagens de guerrilheira. Mas essa ilusão pelo menos atrasou que grupos ainda piores que esses que lá estão de assumirem o trono de contínuo da vontade dos que mandam.

E ao PT, por justiça agradecemos o único programa efetivo de distribuição de renda e por facilitar o acesso a serviços públicos a grande população. Mas não se iludam, porque vermelho ou azul, educação, saúde, infraestrutura, real empoderamento popular, combate à corrupção, etc você pode digitar o número que quiser que nada irá mudar se não for do interesse daqueles que realmente mandam acima citados.

E para concluir, uma frase que adoro do Malatesta: "todo poder emana do povo e é o povo que vai fazer o poder". Enquanto todo mundo que anseia por um mundo mais justo não entender isso, vão ficar se decepcionando com os jogos de poder da elite econômica e bélica do país e do mundo.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

O pior dos 7x1, a ética no futebol

Acabou a temporada 2014 de futebol no Brasil. E a sensação de terra arrasada é inevitável até mesmo no que teríamos supostamente de melhor. Mas realmente o que mais incomoda no futebol é essa moral prática medieval que virou nosso futebol. Vou buscar alguns exemplos para ilustrar o que digo.

A palavra ETHOS pode se traduzir como "modos" ou "costumes" e a partir da filosofia grega ETHIKÓS seria numa tradução livre "aquele que possui caráter". Conforme a filosofia evoluiu, de acordo com Deleuze a partir de Spinoza: "Diferencia-se da moral, pois, enquanto esta se fundamenta na obediência a costumes e hábitos recebidos, a ética, ao contrário, busca fundamentar as ações morais exclusivamente pela razão".

E aí eu chego em Nietzsche (na verdade numa linha histórica eu volto um pouco) que cria o conceito de super homem (übersmann) que supera seus limites impostos pela moral e assim pautando suas relações pela ética e não pelo imposto por alguém que se auto declarou "bom".

Mas porra, você não ia falar de futebol? Vou, só que vou falar das relações éticas no esporte e de como ficamos "mais sinceros" ao assistir o esporte. Não creio que o esporte crie violência, preconceitos e esquemas escusos, ele desnuda as relações sociais através da paixão extremada. O local onde "você tem o direito" de odiar até a morte um rival. Onde invocar preconceitos enraizados se torna "brincadeira" e onde "roubado é mais gostoso". Ou seja, caso me beneficie vale quase tudo, menos relações homoeróticas na definição de Gil, ex-atacante corinthiano e colorado, entre outros.

A "graça do futebol" nesse caso, para a maioria das pessoas é poder ser no âmbito esportivo, aquilo que a "sociedade" condena mas faz. Vou enumerar oito situações que ocorreram nessa última temporada para ilustrar isso:

1x0 - ao contrário da Copa eu vou começar com o gol de honra que por ironia (ou não) veio da Alemanha. Uma das coisas mais irritantes no futebol, em especial o brasileiro é a quantidade de vezes que jogadores buscam enganar o árbitro para obter vantagem desonesta com um penalti inexistente ou a expulsão de um adversário.

Nesse ano na Bundesliga o jogador Hunt do Werder Bremen avisou um árbitro que sua marcação havia sido equivocada e o erro foi desfeito. Quando conseguiremos ver isso aqui e qual reação teria a torcida do jogador honesto?

1x1 - o futebol como tábua de mandamentos preconceituosos: o machismo. Chegamos em 2014 e o feminino ainda é xingamento no football association. Para a ampla maioria dos torcedores conjungar o adversário ser conjugado no feminino é uma ofensa mortal.

Aqui futebol é tão "para homem" que a ampla maioria dos clubes, organizações e afins tiveram uma ou outra excessão feminina comandando e ainda pior, sequer possuem equipes femininas praticando o esporte. E o sabor mais amargo desse bolo: ainda hoje não temos um calendário organizado de futebol feminino, mesmo com o vice mundial e olimpíco de atletas sem apoio nenhum que ganham lindos discursos e condecorações e já na semana seguinte volta tudo ao normal. Algumas jogam fora do país e outras voltam para serem discriminadas e amadorizadas no Brasil.

2x1 -  o futebol como tábua de mandamentos preconceituosos: a homofobia. Na cabeça dos homens cis que  são a maioria exposta e com voz ativa no nosso futebol existe outro xingamento infalível: "diminuir" o adversário por uma suposta sexualidade não heteronormativa.

Muito comum em clássicos regionais ou ao se referir à equipes gaúchas perpetuasse uma linha de raciocínio que ser homossexual é uma falha de caráter e que deve ser "usada contra o adversário". O preconceito é tão enraizado que funciona, pois o adversário invariavelmente se sente ultrajado caso tenha sua sexualidade "contestada" e invariavelmente repete os preconceitos invertendo os atores.

Por exemplo, mesmo em torcidas de origem popular e inclusiva como Corinthians e Atlético-MG chamam seus rivais locais nas últimas décadas de marias (um trocadilho infame com Máfia, nome de uma organizada rival), bichas ou bambis e para piorar, depois da elitização de suas praças esportivas os novos espectadores se divertem gritando "bicha" a cada tiro de meta rival, imitando o "puto" comum no México.

E para piorar, a ampla maioria das torcidas entendem isso como uma brincadeira jocosa e conforme endurece a homofobia no país o mesmo acontece no futebol (o Corinthians teve um dos principais jogadores da sua história intimidado devido a um selinho em um amigo exposto, teve um manifesto contra a homofobia praticamente ignorado pelo seus adeptos e o São Paulo FC teve um jogador que a ampla maioria da torcida se recusava a cantar o nome dele devido a uma suposta homossexualidade que para piorar teve seu nome vetado por parte da torcida palmeirense com uma faixa onde se lia: "a homofobia veste verde")

3x1 - o futebol como tábua de mandamentos preconceituosos: o racismo. Devido as conquistas do movimento negro, o racismo é um crime tipificado no Brasil e as discussões avançaram bastante na sociedade civil. Diferentemente da homofobia ou do machismo (que só possui tipificação em caso de violência física). Porém, isso também criou aquele racismo velado onde a negritude é condenada, a melanina discriminada mas "tenho amigos negros, logo não sou racista".

Muitas torcidas se usam muito de ofensas racistas contra rivais. O caso recente do Grêmio é o extremo de uma torcida que acha que chamar o rival de macaco é tradição e brincadeira mesmo sabendo que esse apelido tem origem justamente na aceitação de negros do rival. Ironicamente o hino gremista foi composto por Lupicínio Rodrigues. Mas não é só eles não.

Sente-se num arquibancada e veja um rival negro se destacar e ouça as provocações de qualquer torcida. Veja a revista policial na entrada do estádio como fica bem mais minuciosa conforme a cor da pele. Note quantos dirigentes negros possuem o futebol. Note como jogadores são "estimulados" a deixar para lá essas ofensas "jocosas" conforme vimos nos recentes casos de Gil (SCCP), Aranha (SFC) ou Arouca (SFC).

4x1 -  o futebol como tábua de mandamentos preconceituosos: a xenofobia. É difícil separar isso do racismo já que as linhas de "raciocínio" são similares: "são diferentes de mim e não deveriam ocupar o mesmo espaço que eu". Nisso a Copa do Mundo é um festival. É um mês inteiro conversando com gente que não gosta de argentino, alemão, estadunidense e outros devido a serem rivais no esporte e a maioria sem nunca terem chegado perto de conversar com alguém do estrato social odiado.

A elite brasileira, formada pelos europeus colonizadores conhecem bem o poder da xenofobia. Impede as pessoas de perceberem que nossos problemas são iguais independentemente do lado do rio que você nasceu ou das cores da sua camisa. "Dividir e Conquistar" funcionando há mais de 2500 anos.

Para isso fizeram uma forte e irresponsável campanha elegendo os nossos vizinhos a oeste do Rio da Prata como inimigos mortais. Muitas guerras já foram feitas por pessoas por defenderem bandeiras, hinos e cores aristocráticas (como, por exemplo, o verde e amarelo da casa de Orleans e de Bragança) e mataram e geraram dor indiscriminada apenas por nascerem do outro lado de uma fronteira imaginária.

5x1 - Desorganização plena de tudo. O calendário, as praças, as organizadoras, os clubes. Todo mundo que gosta de futebol tem consciência que irá sofrer pelo penalti perdido ou pelo gol tomado no último minuto. Até aí faz parte da graça do esporte.

Mas você ter um campeonato divulgado com dois meses de antecedência, em local a definir, em horário a ser encaixado na programação da emissora detentora dos direitos, geralmente depois que o transporte público acaba, calendário que não respeita as datas Fifa e prejudica justamente os clubes que melhor contrataram, no evento tudo sem informação e com a polícia tratando todo mundo como inimigo potencial, organizando fila xingando e dando borrachada para "organizar".

Campeonatos que podem terminar no tribunal, afinal tem uma corte pavônica que quer aparecer mais que o espetáculo. E tudo isso para jogos defensivos, com muitos erros de passes e poucas chances reais, enfim insuportáveis cobrados a preço de ouro. Arbitragens literalmente amadoras que podem acabar um campeonato por má-fé ou por incompetência e que param o jogo mais que o xará americano que pelos menos para o cronometro e a gente as vezes vendo jogo com apenas metade do tempo com bola rolando. Estamos colhendo os frutos de décadas de desorganização.

6x1 - A reelitização do esporte bretão ou o ataque a festa popular. O football association chegou ao Brasil como um entretenimento das elites europeias aqui fixadas. Mas o esporte foi caindo no gosto popular e foram surgindo times que jogavam nos campos de várzea dos rios dos grandes centros. Os times tentaram segurar seu esporte como um esporte para poucos mas não foi possível.

A população tomou o esporte para si e a profissionalização deu um duro golpe nos ricos que partiram para outros esportes como críquete, hipismo, tênis ou automobilismo que possuem a barreira do preço dos equipamentos. Mas o discurso elitista nunca perdeu força.

A grande mídia esportiva adotou um discurso que o problema do futebol era os pobres mal educados e que a violência do futebol tinha nascido com os torcedores organizados e esses paulatinamente foram (estão sendo) expulsos pela higienização dos estádios. Primeiro, usando-se da desculpa da repressão a violência se proíbe a festa: primeiro o papel higiênico, hoje os sinalizadores, ontem as bandeiras de mastro e hoje até faixa de protesto é proibido em estádio (lembrando que a CBF é a casa das viúvas da ditadura militar). Proíbe de se assistir em pé, acaba-se as gerais e arquibancadas em pról das cadeiras numeradas ou cativas. Também a bebida alcoólica é condenada. Não se pode xingar também e fumar muito menos.

E a cobertura desse bolo indigesto: aumenta-se abusivamente os preços de ingressos, mesmo deixando de ocupar a totalidade do estádio (como o estádio do Corinthians que nunca encheu ou a histórica final entre Atlético x Cruzeiro que deixou grande parte de ingressos sobrando devido a preços que chegavam a R$ 1000,00), mas garante que banguelas escurinhos e apaixonados não atrapalhem seu entretenimento e garantam "belas" imagens a TV. O caso mais emblemático foi do Corinthians, auto declarado, time do povo, que há exatos cem anos ganhou o primeiro campeonato da liga paulista onde um time operário e popular saia campeão. Hoje possui um estádio com acabamento em mármore e acionadores automáticos de banheiro como desculpa para cobrar o tíquete mais caro do país e expulsar o povão do rito de amor ao time do povo.

Tornaram o jogo chato e agora até torcer ficou chato. Devolveram o esporte a sua origem burguesa e aristocrática e acabaram com a mais bonita das festas populares que nossa cultura criou.

7x1 - Falando sobre a ética em si. E a tal da alteridade aparentemente impossível na nossa sociedade e, principalmente, no futebol. Esse sim, o fator ético em si, o mais preocupante a meu ver. Porque esse ano o CR Flamengo ganhou do rival e seu goleiro então, Felipe, declarou que "roubado é mais gostoso", frase comum no meio esportivo e já denuncia a relação entre a falta de ética e alteridade do meio.

Ainda dentro desse item, quase todo técnico no Brasil tem o hábito de desviar a atenção de seus erros para erros de arbitragem e programas esportivos se dedicam muito mais a "achar lances polêmicos" do que discutir o jogo em si. Fora que aqui quase todos os jogadores foram ensinados que se sentirem um toque na área e para se jogar e dar um coice para trás pois para quem vê de trás (quase sempre a posição do árbitro principal) parece que ele tomou uma rasteira. Simular faltas para expulsar rivais. Até desligar a iluminação para esfriar o jogo.

Aí entra a ética e a alteridade em si. Pois todos esses lances são comemorados quando nos favorecem e geram revoltas quando nos prejudicam. Porque se é a meu favor "roubado é mais gostoso" e se é contra é "uma vergonha esse futebol". Ou seja, se por no lugar do outro, jamais. Defender uma postura única de atuação ética menos ainda. Jogadores batem penaltis roubados e comemoram e na semana seguinte saem chorando e revoltados por acontecerem o mesmo com eles.

Ou seja, o roubo só é ruim se a vítima formos nós, se formos o beneficiado, tudo bem até é "mais gostoso". Chega-se ao extremo de torcedores verem dois lances idênticos e considerarem a seu favor, verdadeiro e contra, falso. Cito dois exemplos do derby paulistano. O Palmeiras interrompeu uma fila de quase 18 anos ao se associar com a Parmalat, famosa multi nacional italiana em especial pelo seu envolvimento com a máfia. Muitas conquistas foram contestadas pelos corinthianos devido a isso. Isso não impediu que muitos desses mesmos contestadores não vissem problema algum em se associar com a máfia russa através da MSI (dinheiro roubado na Rússia durante a transição da URSS que é "considerado limpo na Inglaterra", inimiga diplomática do Kremlim. Outro exemplo foram as comemorações dos centenários dessas equipes.

Em 2010 parte da torcida alviverde foi ao jogo do seu time contra o Fluminense torcer contra o próprio time para não vê-lo ganhar um título no ano celebrado, inclusive alguns chegaram a ameaçar a integridade física dos jogadores caso eles descumprissem a ordem de perder. Ironicamente, o alviverde esse ano teve um centenário desastroso onde ao invés de disputar títulos, ficou no final da tabela e disputou para não cair, não fazendo a parte dele foi salvo pelos outros resultados, inclusive de um rival (Santos FC) que se tivesse aplicado o mesmo raciocínio, hoje teríamos o centenário clube de origem colonial italiana mais uma vez rebaixado. Outro exemplo nesse sentido é a reeleição de Eurico Miranda no Vasco. Pimenta quando nos olhos alheios, sempre é refresco, por aqui.

Acréscimos Regulamentares: Resumindo tudo isso. Peguei o futebol como exemplo pois como já disse, ele é um sincero e declarado laboratório do que acontece na vida fora dos estádios e grêmios de torcedores. Aproveitemos essa terra arrasada de campos vazios, de clubes endividados, torcidas em deformação, campos higienizados sem festa popular, futebol bem remunerado sem nenhum retorno onde cabeças de bagre ganham salários de seis dígitos e toda essa humilhação que é torcer no Brasil eu sugiro que refletirmos sobre nossa atuação na vida, na sociedade e por consequência, no futebol.

Sugiro algo tão (paradoxalmente) simples e complexo que resolveria todos os problemas acima citados: SE COLOCAR NO LUGAR DO OUTRO E NÃO FAZER AO OUTRO O QUE VOCÊ NÃO GOSTARIA QUE FIZESSEM COM VOCÊ.


P.S.: Escrevi esse artigo analisando um pouco da relação ética e futebol. citei exemplos de vários clubes grandes no brasil, mas acabei citando mais exemplos corinthianos por ser a realidade que vivo mais diretamente envolvido. Mas (infelizmente) esses exemplos se aplicam a qualquer meio, estrato ou organização social que estamos inseridos, independentemente na maioria das vezes, do da ideologia.


FONTES: http://www.espacoetica.com.br/oqueeetica
Gilles Deleuze, Espinosa: Filosofia Prática, p.23-35. Editora Escuta
http://blogdefilosofiadowolgrand.blogspot.com.br/2011/05/o-pensamento-etico-de-nietzsche-ou.html
http://esportes.opovo.com.br/app/esportes/futebol/internacional/2014/03/08/noticiasinternacionais,2727894/show-de-fair-play-jogador-confessa-penalti-cavado-e-faz-arbitro-voltar-atras.shtml
http://aquitemfilosofiasim.blogspot.com.br/2007/11/filosofia-moral-tica-e-moral.html

sábado, 15 de novembro de 2014

a dança da pantera negra

Esse é o vídeo clipe completo dessa que é uma das mais famosas músicas e vídeos do "rei do pop". O que alguns não sabem é que o "king of pop" era muito politizado e que em suas letras, símbolos e coreografias defendia e abordava seus ideias, em especial da questão do racismo.

Muito forte e respeitado pelos movimentos sociais a partir do 5min30s desse vídeo que nas transmissões via TV (em especial a MTV estadunidense) ele se encerra (ou seja, foi censurado), na verdade ele continua executando um solo de dança que a pantera negra destrói símbolos racistas...

Não passarão!!!

para maiores ilustrações de alguns dos signos citados
http://pt.wikipedia.org/wiki/Partido_dos_Panteras_Negras
http://pt.wikipedia.org/wiki/Nazismo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ku_Klux_Klan

sábado, 8 de novembro de 2014

A vitória corinthiana e do futebol popular de 1914

Há exatos cem anos o Colosso alvinegro ganhava seu primeiro título da liga do Campeonato Paulista. Só por ser nosso primeiro título já deveria por si só ser lembrado e relembrado e comemorado. Mas graças a esse título temos uma nação corinthiana e nos consolidamos como time do povo e uma vital importância na popularização do esporte bretão. Encantados com o futebol apresentado pelo Corinthian FC dias antes, em 1º de setembro de 1910 fundaram o Sport Club Corinthians Paulista e com uma diretriz claramente anarquista com seu primeiro presidente aliterando uma frase de Enrico Malatesta para ser o lema de fundação do clube: "Todo poder emana do povo e é o povo que fará o poder" (em "Escritos Revolucionários") para "Esse é o clube do povo e é o povo que fará esse time". Com uma rifa e uma vaquinha compram seu primeiro material esportivo. No Bom Retiro já havia um time fortíssimo, o Botafogo, inclusive esse a base do time inicial do Corinthians. A ideia era ter um time que fosse feito pelo povo e que gerasse alegrias e orgulho ao povo. A glória era importante. Manter um time competitivo também. Joaquim Perrone, um dos cinco presentes na reunião de fundação dizia que era importante para o povo que o Corinthians fosse um time vencedor para levar alegrias e acima de tudo, orgulho ao povo sofrido, imigrante e alforriado. Discriminado e excluído dessa sociedade paulistana que ainda não mudou nada nos últimos cem anos. Entre 1911 e 1913 se manteve imbatível nos campeonatos organizados nos campos das várzeas e pleiteou entrar no campeonato da liga, o campeonato da elite burguesa paulistana. Após passar por um disputado quadrangular ele teve o direito a disputar o Campeonato da Liga Paulista de Football. No ano seguinte, comandados por Amílcar e Neco ganharam todos os jogos e levantaram o caneco contra a elite paulistana. Essa vitória do colosso alvinegro (finalmente assumiram o branco da camisa creme desbotada como cor oficial e o negro dos calções e meiões, fora seu primeiro símbolo, um C e P estilizados) foi histórica por diversos motivos.

Porque esse título foi tão importante por uma torcida que se notabilizou por dizer que troféus são detalhes e o importante é o amor ao clube em si? Porque paradoxalmente foi esse título que consolidou a insígnia corinthiana. Já havia clubes de várzea populares naquela época como o já citado Botafogo do Bom Retiro. Mesmo na Liga paulista já havia um clube operário desde 1908, o Ypiranga ou mesmo no RJ já havia o Vasco da Gama que apesar de ser da colônia portuguesa não adotava os critérios raciais da época para montar seus time ou mesmo o clube operário Bangu. A grande consolidação do time popular que levava multidões para vê-los foi a vitória de 1914, pois ela toma um ar revolucionário. A vitória dos pobres contra os ricos. A junção do povo, dos povos, contra a elite que domina.

Enfim a vitória dos corintios anarquistas e incômodos contra os cheirosos representantes que ainda hoje se incomoda em dividir o espaço com os mais pobres. Que se irrita em ver gente diferenciada dividir os espaços com eles e ter protagonismo em seus espaços antes exclusivos. A vitória corinthiana de 1914 incomodou aqueles que ainda hoje reclamam de perder um metro da rua para uma ciclovia ou de ter um metrô no seu bairro higienizado e ter pobres dividindo seu aeroporto. Essa vitória consolidou a popularização desse esporte então elitizado mas que já havia caído no gosto popular.

E ainda hoje incomoda essa gente falando alto e falando palavrão e ainda pior, gritando, é campeão, é campeão, é campeão.

Na foto, em pé: Américo, Peres, Amílcar, Aparício e Neco. Agachados: Police, Bianco e César Nunes. Sentados: Fúlvio, Sebastião e Casemiro Gonzales.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

EM RELAÇÃO ÀS ELEIÇÕES 2014

EM RELAÇÃO ÀS ELEIÇÕES 2014, ALGUMAS PESSOAS PEDIRAM MINHA OPINIÃO SOBRE O PLEITO E DEMOREI PARA RESPONDER POIS CONFESSO AINDA ESTAVA INDECISO, MAS O JOGO ESTÁ PASSANDO: ENTÃO RECOMENDO (SIMILARMENTE AO PSOL): VOTO NULO, BRANCO, ABSTENÇÃO OU EM DILMA ROUSSELF, MAS JÁ EM AÉCIO, NEVER! (JAMAIS, NUNCA MESMO). Vou novamente de 13, como na maioria das vezes na minha vida, mas como nas últimas vezes, sem emoção ou convicção (por convicção manteria a abstenção no segundo turno) para não deixar o pior ganhar.

Quem tiver preguiça de lê o texto abaixo justifica essa posição já dada acima:

Comecei o pleito com uma convicção: não iria votar em ninguém. Para que “ninguém” tivesse uma alta votação e demonstrasse para as pessoas que política vai muito além desse Grenal (vermelho x azul) eleitoral. Me abstive no primeiro turno. Até pensei votar em alguns para o legislativo mas o voto proporcional me desestimulou (no Brasil mesmo o voto nominal vai para o partido, por exemplo, se eu votasse num deputado federal do PT por exemplo que eu conheço, acompanho e admiro o trabalho, meu voto seria computado para Andrés Sanches também, por exemplo). Comecei o segundo turno com a convicção de não votar em ninguém, mas fui mudando minha visão por uma consciência: o voto melhora muito pouco nossa vida, mas pode conseguir piorar muito.

Tenho muitas e muitas e muitas críticas fortes ao governo petista e em especial a como eles permitem que em troca de poder político diversos atentados contra os direitos humanos. Mas incrivelmente a outra opção tem duas características consegue ser igual ou pior que eles em todas as pastas e se propõe a ser pior nos (cada vez mais espaçados) acertos petistas. Como diria o censurado Xico Sá ontem: “só o Aécio para ser mil vezes pior que a Dilma”.

Hoje o PT paga o preço de uma escolha ideológica: formou consumidores ao invés de formar cidadãos. Hoje o maior adepto do antipetismo é aquele que foi estimulado a comprar carro para mostrar que venceu na vida, que tem um comércio que se manteve porque nas crises o mesmo estimulou o movimento econômico ao invés de arrochos e demissões como a cartilha neoliberal normalmente sugere. Esse cara hoje “não é mais pobre” e vota contra eles porque se vê como empresário/consumidor individual não como cidadão de uma sociedade coletiva.

O discurso pró-PSDB/Aécio me empurrou do votar em ninguém para votar no “menos ruim”. Nosso congresso pela primeira vez em anos é a fiel representação da nossa sociedade: racista, machista, homofóbico, elitista e doente. Aliado a isso, ter um governo que tem como um guru econômico que defende a redução do salário mínimo, aumento de juros e a privatização de bancos públicos. Um partido que passou seus doze últimos anos jogando para uma torcida que considera dar R$ 70,00 para uma pessoa que está passando necessidades básicas como “sustentar vagabundo” mas acha normal um juiz que se dá auxílio moradia. Aí mora talvez, ironicamente o maior problema eleitoral do governo petista, a conta chegou: conciliou tanto que perdeu os votos de esquerda e os de direita continuam votando contra eles.

O governo petista tem apenas uma diferença em todos os governos no Brasil desde 1808: distribui as migalhas. E esse fato, foi uma garoa no deserto social brasileiro. O suficiente para ressurgir uma relva ou até nascer algum cacto. Não reflorestou ou irrigou o deserto. Mas lembrando que sim, jogou gotículas de água numa terra que durante séculos foi seca porquem detém o monopólio da violência e por consequência, do poder. Só isso tirou o Brasil do mapa da fome. Isso colocou estudantes pobres e de etnias discriminadas no nosso péssimo sistema de ensino. Ao dar o famigerado bolsa família no nome da mãe, deu um forte golpe no patriarcado, em especial nas regiões mais pobres onde a violência dita a força em todas as relações. Não pegou mais empréstimos com organismos internacionais que obrigam os países que os recorrem à demitir, diminuir investimentos sociais e salvar bancos. Esse mérito ninguém pode negar a eles. Tem que ter um poster do Mussolini na cabeceira da cama para achar isso ruim... Mas e realmente mudar profundamente algo? Reformar educação, reajustar dignamente a tabela do SUS, reformar infraestrutura em especial de transportes, auditorar a dívida “ex-externa” (o Brasil comprou os título de sua dívida, então sua dívida externa na realidade é interna) que a gente paga juros do juros dos juros desde 1822, consertar essa tumultuada carga tributária que onera os mais pobres que pagam tributos sobre tributos e deixa os mais ricos com impostos onde pode se deduzir tudo, reajustar a tabela do imposto de renda (R$ 2.500,00 no Brasil paga IR), combater os ataques contra minorias ou que não evoluiu na educação para a tolerância e ataques contra a natureza entre outras coisas que vejam, não estão fazendo uma reforma socialista nem nada disso, mas dentro dessa mesma regra, desse mesmo sistema não foi feito nada. Porque? Porque não quiseram? Não creio. Porque não puderam? Talvez porque não tiveram coragem de bater de frente com essa elite tacanha que temos no Brasil? Sim, isso sim. Essa elite que se recusa a dividir o bolo, essa elite que quer aeroportos privativos (nisso o Aécio elevou a outro nível, aeroporto público privativo mesmo!), aliás tudo privativo onde o dinheiro manda, essa elite hereditária que prega meritocracia que reclama de pagar direitos trabalhistas para empregados, que não constrói nada e só acumula desde 1500. Não bater de frente com eles significa que esse modelo se esgotou. Mas aí você pensa, então vamos mudar? Boa, mas estamos no segundo turno e quem é o outro candidato? Justamente o candidato dessa elite. Que nem a migalha quer oferecer. Um herdeiro dessa tradição política secular que eu citei. Um projeto de poder para devolver até as gotas que cairam fora dessa piscina privada. Não fará nenhuma das reformas acima e tem por programa devolver tudo para os ricos de forma privada, fora do estado para que não haja risco de isso ser distribuido novamente. Que tem uma base que acha que o problema do Brasil são pobres, nordestinos ou negros votarem. Temos saúde, educação e infraestrutura péssimos por conta de uma elite que pode pagar por isso que os demais não tem. Temos uma péssima distribuição de renda, um índice de desenvolvimento humano de país em guerra, por falar em guerra somos uma sociedade violentísima, pautas essas que não são objetos do interesse do neto daquele político que desde os 25 anos vive de cargos comissionados na máquina pública. Avó esse que se dispôs a ser primeiro-ministro no pré-golpe militar, em 1961. Família carioca tradicional e rica dentro de um partido que “defende” a meritocracia, que privatiza tudo a preço de chuchu as companhias que permanecem com os mesmos problemas. A chapa DEM/PSDB que são respectivamente primeiro e segundo lugar em cassassões, que aparelham o judiciário para que a casa não caia nunca, que prefere dar lucros aos acionistas da companhia de água à investir contra um desabastecimento previsto a uma década, que constrói em SP um quilometro de metrô por ano e cujo senador recém eleito diz que cartel não é crime (cartel esse que seria para “construir” o referido metrô), que recorre as medidas mesmas (privatização, socorro aos bancos e demissões) que está deixando a Europa na eminência de uma Terceira Guerra Mundial e reacordando o fascismo (a Espanha por exemplo, tem 25% de desempregados, isso mesmo, um quarto do país não tem fonte de renda).

Não citei diversas questões como a cultura que sofreu um golpe interno dentro do governo (todo o trabalho de Gil e Juca foi destruído por Ana de Hollanda, sua sucessora), os ataques ao meio ambiente e aos índios do atual governo ou mesmo a base racista de que seu concorrente tucano, assim como seus ataques a mínima liberdade de expressão perseguindo jornalistas e demitindo grevistas e (a carapulça serve para os dois agora) até porque na hora de perseguir quem vai “contra o sistema” os dois “opostos” não exitam em se unir. Mas esse artigo ficaria enorme e os partidos que em 1993 (PSDB “esqueçam tudo o que eu fiz”) e em 2002 (PT “carta aos brasileiros”) rasgaram seus programas em troca da ponta do iceberg do poder não vão mudar substancialmente sua vida oprimida de trabalhar muito, ser estremido ou ficar parado no caminho, de não ver seu filho crescer, de abandonar seus sonhos para viver, de trabalhar no que não gosta, de ter que trabalhar para sustentar aqueles que tem o dinheiro ter ainda mais dinheiro. Nada disso vai acontecer. Mas analiso que os tucanos além de não fazerem nada para mudar isso propõem piorar o pouco que os petistas fizeram e acham que fizeram a revolução por isso.

A sua vida política começa realmente dia 27 de outubro, dia depois da eleição. Agora você apenas digitará um número numa nada confiável (e nem aferível) calculadora. Depois disso aqueles que mandam continuam mandando, independentemente do número escolhido, no subterrâneo do poder. A política você fará no dia a dia ao escolher o que comer, como tratar o próximo, como se organizar em temas que impactam, em não atacar um semelhante, em simplesmente se por no lugar do outro e minimamente tentar ver o ponto de vista oposto. Se organizar para não ter que obedecer e nem mandar em ninguém, de forma que todos se olhem nos olhos no mesmo plano, ninguém em cima nem embaixo. Que seu trabalho seja sua vida e não sua morte lenta e diária. Isso sim mudará o mundo. Quebrará as fronteiras e fará você perceber que sua angustia é mesma que quem fala outra língua e nasceu do lado de lá do rio.

Digitar um número numa urna não mudará nada disso, até porque o poder é bem entralaçado para não ter perigo para que isso ocorra. Política é você quem faz no dia a dia em todos os seus gestos. Aristóteles diria que o “homem é um animal político”. É isso. Absolutamente em todos os seus gestos você está, mesmo que insconsientemente, fazendo política. Então faça, se mova, se conscientize, tenha instrumentos para não depender nem de governos nem de patrões, tenha consciência que são eles que dependem da gente, sem nós, eles terão que trabalhar (“O rico fará tudo pelo pobre, menos sair de suas costas” (Tolstói)). Construa no dia a dia. Por um mundo nem estatal, nem privado, mas mútuo e isso passa bem longe do colégio eleitoral.

Devido a isso eu vou votar no ruim para que o péssimo não ganhe. Mas quem ainda se sente desconfortável em votar no ruim, peço que não vote no péssimo (se seu Gol 2010 Flex está com defeito não troque por um Passat 1987 a alcóol, porque sim, vai piorar! E é válido um grande contingente de votos em ninguém para demonstrar que muitos já não acreditam mais nesse caminho). Para desacelerar o avanço do fascismo no Brasil. Porque sim, pode piorar e esse é o objetivo de muita gente...

sábado, 30 de agosto de 2014

"Todos os poderes saíram do povo porque é somente o povo que pode dar a força"

"Ontem estava mais angustiado que goleiro na hora do gol" já diria Belchior. e fui ler para refletir ("de bucho mais cheio comecei a pensar que me organizando posso desorganizar, que eu desorganizando posso me organizar", obrigado Chico Science) e refletindo sobre a confusão sobre o conceito anarquista (e algumas aberrações como os “ancaps”) em deparo com o seguinte texto de 1922 escrito por Enrico Malatesta no Anarquismo e Anarquia*:

"A intolerância frente à opressão, o desejo de ser livre e de poder desenvolver completamente a própria personalidade até o limite, não bastam para fazer de alguém um anarquista. Esta aspiração à liberdade ilimitada, se não for combinada com o amor pelos homens e com o desejo de que todos os demais tenham igual liberdade, pode chegar a criar rebeldes, que, se tiverem força suficiente, se transformarão rapidamente em exploradores e tiranos.

Há indivíduos fortes, inteligentes, apaixonados, com grandes necessidades materiais ou intelectuais que, encontrando-se por acaso entre os oprimidos, querem, a qualquer custo, emancipar-se e não se ofendem em transformar-se em opressores: indivíduos que, sentido-se prisioneiros na sociedade atual, chegam a desprezar e a odiar toda a sociedade, e ao sentir que seria absurdo querer viver fora da coletividade humana, buscam submeter todos os homens e toda a sociedade à sua vontade e à satisfação de seus desejos. Às vezes, quando são pessoas instruídas, consideram-se super-homens. Não se sentem impedidos por escrúpulos, querem “viver suas vidas”. Ridicularizam a revolução e toda aspiração futura, desejam gozar o dia de hoje a qualquer preço, e à custa de quem quer que seja; sacrificariam toda a humanidade por uma hora de “vida intensa” (conforme seus próprios termos). Estes são rebeldes, mas não anarquistas. Têm a mentalidade e os sentimentos de burgueses frustrados e, quando conseguem, transformam-se em burgueses, e não dos menos perigosos. Pode ocorrer algumas vezes que, nas circunstâncias dinâmicas da luta, os encontremos ao nosso lado, mas não podemos, não devemos e nem desejamos ser confundidos com eles. E eles sabem muito bem disso. Contudo, muitos deles gostam de chamar-se anarquistas. É certo - e também deplorável. Nós não podemos impedir ninguém de se chamar do nome que quiser, nem podemos, por outro lado, abandonar o nome que sucintamente exprime nossas ideias e que nos pertence lógica e historicamente. O que podemos fazer é prevenir qualquer confusão, ou para que ela se reduza ao mínimo possível".

*célebre anarquista italiano que cunhou a frase "Todos os poderes saíram do povo porque é somente o povo que pode dar a força" (in "O estado Socialista" de 1897) frase essa que serviu de inspiração a Miguel Battaglia ao cunhar o lema de fundação do SC Corinthians Paulista: "Esse é o time do povo e é o povo que vai fazer esse time" em 1910. Hoje o futebol moderno e a vontade de ganhar dinheiro (ou títulos no futebol) tentam acabar com esse ideal mas teremos que lutar muito, pois a liberdade de “ficar sem rico” sem o Estado atrapalhar é um discurso sedutor e perigoso que contagia até as principais vítimas dele como Malatesta já identificara há quase 100 anos.


sexta-feira, 4 de julho de 2014

A seleção da Argélia merece um filme.

A seleção da Argélia merece um filme. Primeiro foi fundada como uma resistência à recolonização francesa nos anos 1960. Proibida de atuar pela FIFA (sempre ela), excursionava para mostrar ao mundo a causa da reindependência de seu país. Foi o primeiro selecionado sendo fora do eixo Europa - América a ganhar um jogo em Copa e nessa mesma edição (1982) só foi eliminado por manipulação de resultado da Alemanha 1 x Áustria 0 (resultado que classificou as duas equipes eliminando os africanos, após fazer o gol as seleções passaram mais de 60 minutos tocando bola no meio de campo). E após "doar"  jogadores como Zidane e Benzema para a metrópole me surgem com um excelente esquadrão que doa toda sua premiação para a causa palestina.

Que história linda em apenas 50 anos. Se a camisa não fosse verde eu compraria e usaria com muito orgulho essa camisa. Bom Ramadan a vocês. Que o mundo tenha muito mais equipes e coletivos como vocês!
http://copadomundo.uol.com.br/noticias/redacao/2014/07/02/argelia-decide-doar-premio-de-r-19-mi-da-copa-para-populacao-de-gaza.htm

quinta-feira, 12 de junho de 2014

A Copa: Copo talvez meio cheio

Começa a Copa no Brasil. Não aquela que todos sonhávamos. Hoje a festa é constrangida. Mas sorrimos ainda assim. A Copa no Brasil é uma manifestação folclórica que ocorre a cada quatro anos. Pintam-se as ruas, enfeitam-se e até aqueles que não sabem a diferença de um volante e de um atacante param para ver, falar e respirar futebol. Confesso que meu lado internacionalista fica incomodado com esse monte de símbolos pátrios por todos os lados mas meu outro lado se admira dessa manifestação artística popular. Pintaram-se algumas ruas quase como resistência, mas viver uma Copa por dentro brochou um pouco a população. Uma Copa de remoções, Estado de Exceção, truculência, remoções, e do poder absoluto do capital face as pessoas e a maior oportunidade saquear um pais com exigências espatafúrdias e toda sorte de corrupção possível. Já faz tempo que é assim, mas sentir isso de dentro fez o brasileiro entrar meio engasgado mas vai sorrir. Vai se contagiar e fazer festa. Fizemos o samba, onde espantamos nossas tristezas falando alegremente e dançando elas.

A manifestação folclórica resiste ainda constrangida. As lutas sociais resistem ainda que brutalmente agredidas. O futebol resiste em coma a sua "modernização" onde o dinheiro vale mais que o amor, a união e a bandeira ou camisa que ostentas. A Copa começa atropelando direitos, evidenciando o poder absoluto do Estado e do capital sobre o interesse das pessoas. Moro a sete quilometeros do estádio da abertura e a única diferença dessa para todas as outras copas para mim é o barulho dos helicópteros.

Mas mesmo com esse ataque aos direitos trabalhistas, humanos e de expressão durante a Copa acho que ganhamos com isso. Tudo ao mesmo tempo a face do poder, do real poder de quem realmente manda no Brasil e no mundo, o dinheiro pôs o Estado e todo o aparato para cima de todos que ousaram entrar no caminho da orgia financeira chamada Copa do Mundo. E toda a imprensa do mundo está aqui para perceber a cordialidade do povo das ruas e também a "cordialidade" do donos do poder com sua concentração financeira, geográfica e o monopólio da violência ao seu dispor. Um retrato da sociedade brasileira construída em 514 anos exposta ao mundo em um mês. Seu Estado Violência, sua Elite de Gente Diferenciada e seu povo fingindo que não é com ele sorrindo e aproveitando para integrarir com outras culturas e fazer festa. Acho que isso será enriquecedor. Uma sementinha de incomôdo na zona de conforto e uma semente de festa em meio ao Caos.

Parafraseando Vinícius: Tristeza não tem fim, felicidade sim. A gente toma porrada por sete anos pra tudo se acabar em treze de julho.

terça-feira, 13 de maio de 2014

Cornthians Personalitè


Hoje eu entendo como deve ter se sentido o torcedor do Milan, orgulhoso de sua história, das brigadas antifascistas rossoneras quando o mesmo foi comprado por Berlusconi, o mafioso mais podereso do país. Como se sentiu o torcedor balgrana quando seu Camp Nou orgulho da resistência à Franco virou um palco de luxo para sócios de um banco e deixou de fora. Já senti isso quando o futebol do Corinthians foi "vendido" por dois anos para a máfia russa. E no ano seguinte Fausto veio cobrar sua conta e caimos para a série B. E nos reconstruímos atingindo em pouquíssimo tempo o topo do mundo. Ganhamos os títulos que nos faltava, capitalizamos a paixão do torcedor e criamos uma estrutura digna dos maiores gigantes do mundo do futebol. Do trailer ao CT Joaquim Grava. Do terrão ao Japão. Da modesta Fazendinha à uma Arena de abertura de Copa. Mas esse crescimento veio num cenário brasileiro onde o torcedor pobre é sistematicamente expulso do estádio. E o Corinthians continuava tendo as maiores medias de púbico mesmo manjorando sistematicamente seu valor de acesso ao estádio. Oferta e procura. O melhor momento da sua história escondeu em nossa alegria um sistemático processo de elitização da torcida brasileira. Só é bem vindo aquele que pode pagar caro por uma camisa do time, pelo seu ingresso e pelo estacionamento. O povo que ja havia sido expulso do clube sistemticamente também está sendo expulso do estádio. Ignora por exemplo, o modelo alemão que busca trazer o torcedor para dentro estaio à preços populares e tirar essa diferença de arrecadação com o consumo dentro do espaço sempre totalmente ocupado e mantém altos índices de arrecadação. Ou seja, não é arrecadação, é ideologia!

Agora de novo, quando nossa casa vira uma mansão de milionários. Ingressos a preços excludentes. Aquela nata que comanda o clube quer transformá-lo num clube como outro qualquer, onde as taças contam a sua história e seus torcedores são meros colecionadores de títulos. Em nome de uma higienização social e de dinheiro rasga sua história. Esquece que foi o povo que faz esse time. Ignora a massa que carregou esse time nas coistas mesmo quando não disputou a liga, mesmo quando ficou duas décadas sem vencer. Mesmo que ficou 50 anos sem um titulo de expressão nacional. Nossa história é dos cinco operários que em frente a uma barbearia fundaram o time do povo para o povo. Esse povo que comprou rifa para comprar seu primeiro unfiorme e bola. Que fez em mutirão seu primeiro campo e seu primeiro estádio. Que acompanhou você em invasões históricas. Que te levantou, te carregou até nos piores momentos. Porque? Uma taça era só um detalhe. No Corinthians todos somos um. É um estado de espírito. É um estado de união. A torcida apoia o clube na boa e na má fase porque tudo é um só. Não somos a terceira pessoa na conjugação corinthiana, somos a primera pessoa do plural. O time do povo que faz o time. Jogamos junto, podemos às vezs jogar mal, mas jogamos junto. Em 2012 o mundo conheceu a fiel. A CNN que nos chamara de pequeno anos antes agora nos cahama de torcida mais louca do mundo. Entenderam qual é a nossa grandeza. Antes de termos nos somos. O troféu que veio nos encheu de alegria e orgulho mas ele foi uma consequencia e ousaria dizer até um detalhe de quem nós somos.

Agora essa nata de eleitos que comandam essa paixão, essa sensação de pertencer a algo único, coletivo, ativo excluem aqueles que construiram sua história do seu ápice. O povo está fora da casa do povo. Eis agora uma diretoria e parte da sua torcida que ainda pode pagar por seu rito ignoram todo um sentimento. Só um aviso. O povão nunca abandonou o time, principalmente em seus piores momentos. Mas esse espectador de buffet de nozes e canapés abandona o time quando seu resultado dentro de campo desaparece. Já o povão, aquele que chora, que sofre, que se enrola na bandeira e que defende sua história na padaria, na empresa, na escola, na rua está fora da nova casa. Parabéns Corinthians Personalitè. Quero ver essa “torcida” viajar para o outro lado do mundo e cantar sem parar até quando toma gol, alías querioa ver essa “torcida” cantar. Quero ver essa “torcida” comprar camisa quando o time tiver caindo...

Espectador não torce, ele assiste. Torcedor suporta, joga junto, empurra. Essa bandeira da torcida corinthiana existe porque somos todos uma só existência. Se tirar esse fator do nosso campo, o Corinthians perde o que tem mais forte, o que te define: sua aura, seu estado de espírito, sua razão de existir. Todos são Corinthians não só aqueles que podem pagar caro para demonstrar isso. POrque o povo no começo vai pagar mas na hora que faltar o leite das crianças vai deixar a Arena para um rito aristocrático de alguns milhares de eleitos. E aí um espírito morre. Uma história se apaga e não tem trófeu no mundo, time competitivo no mundo, contrato no mundo que pague isso.

Obs.: Só dois avisos a "nata". Nós (todos nós) somos Corinthians e a nata é a parte do leite que a gente joga fora. O mundo dá voltas...

domingo, 23 de março de 2014

A Contradição e a Coerência ontem.

Ontem, como todos já sabem foi convocada uma reedição da Marcha da Família com Deus pela Liberdade em comemoração a cinquenta anos da mesma que abriu o precedente para o Golpe e para a Ditadura Militar no Brasil que ocorreu durante 25 anos e mantém até hoje a estrutura de poder que eles nos relegaram.

Quem viveu aquilo, quem conhece História, quem tem consciência do que é um Estado de Exceção e quem tem conta em redes sociais ou lê notícias pela internet se assustou com a possibilidade daquilo tudo ocorrer de novo e muitos convocaram uma anti-marcha para o mesmo dia. A prudência se mostrou maior: a marcha anti-fascista foi três vezes maior que a fascista. Em algumas passeatas, a marcha a favor da ditadura não conseguiu reunir uma dezena de pessoas. Ou seja, são muito mais barulhentos que ativos. Quando saíram das redes sociais, dos spans difamatórios e dos comentários em portais de notícias se mostraram ínfimos em sua megalomania.

A maior contradição de ontem foi essas pessoas usarem da prerrogativa da Liberdade de Expressão para convocar um ato por um Estado de Exceção autoritário e violento (o pleonasmo é para ressaltar).

Mas também teve coerência. Eles agrediram um grupo de fãs do Metallica a caminho do Morumbi por acharem que eles eram um bloco negro (justo o Metallica, talvez a banda mais reacionária do metal que chegou a processar seus próprios fãs por baixar músicas na internet). Xingaram e tentaram agredir um casal de homossexuais, agrediram quem passava na rua e discordava do ato, expulsou e agrediu jornalistas que eles achassem que era contra seus princípios e pior, expulsaram da passeata um senhor que apoiava o movimento mas estava de tênis e bermuda vermelhos. Vermelho lá não! Nem apoiando eles. Atitudes perfeitamente coerentes com quem defende ditaduras, censura, violência contra minorias e quem seja contrário a eles e um golpe quando o governo não converge com a ideologia deles. Nada mais coerente a quem idolatrava Mussolini, Geisel ou Salgado, por exemplo. Nada mais coerente do que alguém aos gritos, literalmente espumando pela boca  expulsando jornalistas da mídia Ninja com um livro de Olavo de Carvalho na mão, mostrando-o com uma Bíblia: "EU SOU INTELIGENTE, VOCÊ É BURRO, IDIOTA, VOCÊ É BURRO, EU SOU INTELIGENTE!" durante dois minutos apenas espumando e gritando esse "argumento" para expulsá-los da cobertura do ato.

Um dos argumentos recorrentes em redes sociais e comentários é que a esquerda (esquedopata ou esquerdista no vocabulário deles) é autoritária e que vivemos uma "ditadura comunista (!?!?)". Na marcha antifascista uma senhora não sei se por engano ou por opção errou de marcha e passou a descontroladamente a gritar e a empurrar os manifestantes. Para evitar que os ânimos se alterassem um grupo de militantes antifascista abraçou e levou ela até uma viatura da polícia para protegê-la de algumas pessoas que estavam caindo nas provocações e reagiam com violência, assim protegendo ela dela mesmo. Esses quadros deixam claro quem é o autoritário e ditador e quem é a favor da Liberdade! Nada mais coerente e nada mais acalantador que saber que apesar de encherem o saco no mundo virtual, esses idiotas (no sentido de sem id mesmo) são uma pequena e chata minoria mesmo num país racista, segregador e violento como o nosso. Ainda bem... Mesmo assim não custa lembrar: NÃO PASSARÃO!

sexta-feira, 21 de março de 2014

Corinthian FC 1910 Heròis de Guerra (Versão Portuguesa)

Essa história vale para todos os amantes do futebol (peço desculpas aos não corinthianos pelo ufanismo do texto, mas ainda assim vale para todos os torcedores apaixonados pela história do futebol (para os corinthianos é obrigatório!) e da relação dele com a política e a sociedade) e de história e vai especialmente para aqueles que glorificam guerras.



O Corinthian Football Club era um dos primeiros times da Inglaterra e era uma espécie de Harlem Globetrotters do "football association" apelidado por um dos jogadores do Corinthian como "soccer", nome esse designado até hoje nos EUAN para definir o Football Association já que eles usam a palavra para definir um outro esporte derivado do Rugby que também chegou a ser chamado de football no Reino Unido mas teve o nome alterado para não confundir com o hoje esporte mais popular do mundo. Numa dessas excursões, os Corinthians (como eram conhecido os jogadores do esquadrão) vieram ao Brasil em 1910 e destilaram toda sua arte e técnica contra os times brasileiros. No jogo contra a Associação Atlética das Palmeiras no dia 31 de agosto estavam na arquibancada Joaquim Ambrósio, Antônio Pereira, Rafael Perrone, Anselmo Correa e Carlos Silva que no dia seguinte, na barbearia de Salvattore Battaglia situada na esquina da Rua Cônego Martins com a Rua dos Imigrantes (atual Rua José Paulino). As discussões sobre um time realmente popular, que agregasse a todos sem distinções e que fosse colaborativo, organizado de forma cooperativa se alongaram e terminaram em frente a barbearia, sob a luz de um lampião a discussão continuou. Como o Corinthian's Team inspirou essas ideias, o nome escolhido foi Sport Club Corinthians (no plural mesmo) Paulista e teve como primeiro presidente o alfaiate Miguel Battaglia, irmão de Salvattore. Inspirado no anarco-sindicalismo e em leituras do período anarquista La Battaglia ele declama como lema fundador do time: "Esse time veio do povo e é o povo que vai fazer esse time". O restante dessa história já é bem conhecida...



Os Corinthians continuaram a fazer excursões até que em 1914 eclode a Primeira Guerra Mundial e grande parte dos seus principais jogadores morrem nesse confronto. E o time nunca mais foi o mesmo apesar de continuar fazendo excursões até o final dos anos 1930 até que em 1939 se funde com Casuals FC formando o atual Corinthians-Casuals FC, time amador da Inglaterra que existe até hoje. Curiosamente o Corinthians-Casuals tem fãs na internet que a maioria dos times profissionais da Inglaterra, incluindo muitos da Premier League, justamente pelo carinho e gratidão que os torcedores do Corinthians Paulista (uma das cinco maiores legiões de torcedores do mundo) tem por eles.



Go Corinthians!



sábado, 8 de março de 2014

Escrevi um poema para essa data querida

Mais um oito de março
outra data de luta
transformada em festa
onde o foco vita lucro
da floricultura e também
do vendedor de bombom

Se dá parabéns
e homenagens nas redes
a paisagem fica rosa
e todos se esquecem da
cor da bandeira queimada
das guerreiras de 1857

Quando nesse dia
as meninas não ganharem
cozinhas de brinquedo
e não fossem vistas como
instrumentos de prazer e da
manutenção da espécie apenas

Quando mulheres não são mortas
pelos maridos "donos" delas
que meninas não sejam
educadas e vigiadas para
serem santas reprimidas,
ao contrários dos seus irmãos.

Quando as religiões não ensinarem
"a obedecer e servir seus maridos"
Quando ser feminino
não seja pejorativo
e nenhum homem se ache
no direito de te agredir

apenas por ser indomável mulher
e nenhum inseguro troglodita
se ache no direito
de arrancar prazer delas
sem que elas consintam
sem que elas gozem.

No dia que elas gozarem
sem precisarem fingimento
já que o amor será mútuo
e elas não apenas o meio
mas a junção dos opostos,
o fim para um novo início.

Nesse dia quando elas poderem
escolher qualquer ofício
sem ter dupla, tripla jornada
e ganharem o mesmo por isso
e gozarem com quem, quando e
quantas vezes elas quiserem

No dia que as próprias mulheres
parassem de se agredir
com os termos que os homens ensinaram
e parassem de ensinar suas proles
esses preceitos como a mulher
"bem falada", "de respeito"

"trabalhadeira" e "virgem"
e seu filhote como o
oposto disso
e ainda deixarem elas escolherem
seus sonhos além de um parto, um luxo
e outras compensações futeis.

Nesse dia oito de março
eu não precisarei dizer
"feliz dia das mulheres"
porque ele terá acabado
e todos os dias serão das
mulheres e homens livres

livres das amarras adestradas da opressão
Nesse dia oito de março
a gente lembrará nas aulas de história
de uma sociedade que oprimia,
matava, estuprava suas fêmeas
apenas pelo medo delas serem livres.

Enquanto esse dia não chegar
só resta lutar, lutar, lutar
para que esse dia
nunca mais exista
e que todos nesse planeta
se amem pelo que todos são, apenas.

8.3.14 às 2h30

domingo, 26 de janeiro de 2014

Não fosse o cabral - Raul seixas


No Brasil existe um censo comum que o motivo dos nossos problemas foi a colonização portuguesa, se tivéssemos sido colonizados por outros estaríamos melhor. Ironizando essa "desculpa" dos nossos males, Raul cravou a frase que melhor explica nossos problemas e a nossa sociedade: "Falta de cultura para cuspir na estrutura". Abaixo a letra e a música:


Tudo aqui me falta

A taxa é muito alta

Dane-se quem não gostar...


Miséria é supérfluo

O resto é que tá certo

Assovia que é prá disfarçar...


Falta de cultura

Ninguém chega à sua altura

Oh Deus!

Não fosse o Cabral...


Por fora é só filó

Dentro é mulambo só

E o Cristo já não güenta mais

Cheira fecaloma

E canta La Paloma

Deixa meu nariz em paz...


Falta de cultura

Ninguém chega à sua altura

Oh Deus!

Não fosse o Cabral...


E dá-lhe ignorância

Em toda circunstância

Não tenho de que me orgulhar

Nós não temos história

É uma vida sem vitórias

Eu duvido que isso vai mudar...


Falta de cultura

Prá cuspir na estrutura

Falta de cultura

Prá cuspir na estrutura

Falta de cultura

Prá cuspir na estrutura

E que culpa tem Cabral?...

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

As 10 estratégias de manipulação midiática por Noam Chomsky*

publicado originalmente em 23 de novembro de 2010 às 14:46 no
http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/noam-chomsky-as-10-estrategias-de-manipulacao-midiatica.html

1. A estratégia da distração. O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração, que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundação de contínuas distrações e de informações insignificantes. A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir que o público se interesse pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. “Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado; sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja com outros animais (citação do texto “Armas silenciosas para guerras tranquilas”).
2. Criar problemas e depois oferecer soluções. Esse método também é denominado “problema-ração-solução”. Cria-se um problema, uma “situação” previsa para causar certa reação no público a fim de que este seja o mandante das medidas que desejam sejam aceitas. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o demandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para forçar a aceitação, como um mal menor, do retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços púbicos.
3. A estratégia da gradualidade. Para fazer com que uma medida inaceitável passe a ser aceita basta aplicá-la gradualmente, a conta-gotas, por anos consecutivos. Dessa maneira, condições socioeconômicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram impostas durante as décadas de 1980 e 1990. Estado mínimo, privatizações, precariedade, flexibilidade, desemprego em massa, salários que já não asseguram ingressos decentes, tantas mudanças que teriam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas de uma só vez.
4. A estratégia de diferir. Outra maneira de forçar a aceitação de uma decisão impopular é a de apresentá-la como “dolorosa e desnecessária”, obtendo a aceitação pública, no momento, para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrificio imediato. Primeiro, porque o esforço não é empregado imediatamente. Logo, porque o público, a massa tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que “tudo irá melhorar amanhã” e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isso dá mais tempo ao público para acostumar-se à ideia de mudança e de aceitá-la com resignação quando chegue o momento.
5. Dirigir-se ao público como se fossem menores de idade. A maior parte da publicidade dirigida ao grande público utiliza discursos, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade mental, como se o espectador fosse uma pessoa menor de idade ou portador de distúrbios mentais. Quanto mais tentem enganar o espectador, mais tendem a adotar um tom infantilizante. Por quê? “Ae alguém se dirige a uma pessoa como se ela tivesse 12 anos ou menos, em razão da sugestionabilidade, então, provavelmente, ela terá uma resposta ou ração também desprovida de um sentido crítico (ver “Armas silenciosas para guerras tranquilas”)”.
6. Utilizar o aspecto emocional mais do que a reflexão. Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional e, finalmente, ao sentido crítico dos indivíduos. Por outro lado, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de aceeso ao inconsciente para implantar ou enxertar ideias, desejos, medos e temores, compulsões ou induzir comportamentos…
7. Manter o público na ignorância e na mediocridade. Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. “A qualidade da educação dada às classes sociais menos favorecidas deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância da ignorância que planeja entre as classes menos favorecidas e as classes mais favorecidas seja e permaneça impossível de alcançar (ver “Armas silenciosas para guerras tranquilas”).
8. Estimular o público a ser complacente com a mediocridade. Levar o público a crer que é moda o fato de ser estúpido, vulgar e inculto.
9. Reforçar a autoculpabilidade. Fazer as pessoas acreditarem que são culpadas por sua própria desgraça, devido à pouca inteligência, por falta de capacidade ou de esforços. Assim, em vez de rebelar-se contra o sistema econômico, o indivíduo se autodesvalida e se culpa, o que gera um estado depressivo, cujo um dos efeitos é a inibição de sua ação. E sem ação, não há revolução!
10. Conhecer os indivíduos melhor do que eles mesmos se conhecem. No transcurso dosúltimos 50 anos, os avançosacelerados da ciência gerou uma brecha crescente entre os conhecimentos do público e os possuídos e utilizados pelas elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o “sistema” tem disfrutado de um conhecimento e avançado do ser humano, tanto no aspecto físico quanto no psicológico. O sistema conseguiu conhecer melhor o indivíduo comum do que ele a si mesmo. Isso significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos, maior do que o dos indivíduos sobre si mesmos.
* Linguista, filósofo e ativista político estadunidense. Professor de Linguística no Instituto de Tecnologia de Massachusetts
Nota do Viomundo: este texto foi reproduzido da Adital, onde constava como autor Noam Chomsky. Mas três leitores nos alertaram que o verdadeiro seria Sylvan Timsit. Fomos checar. Consta realmente nos links indicados Sylvam Timsit. Acontece que buscamos mais dados sobre Sylvain Timsit e estranhamente não achamos ainda informações consistentes. Encontrei um suposto vídeo, mas não aparece o rosto dele. Vamos investigar mais.  Diante disso já enviamos email à Adital para saber a fonte do original em inglês. Desculpe-nos pelo erro.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Rolezinhos

E não é que alguns jovens despolitizados, alienados, mal educados (no sentindo estrito do termo) e "sem culutura" (como gostam de agredir os incomodados) fazem a maior onda de desobediência civil desde a Revolta da Vacina em 1904? E sendo criados sem referências que não sejam o consumo, idolatram a "ostentação" material (o "vencer na vida da sociedade capitalista") e ao perceber o quantos são marginais (no sentido de "estar a margem") ao ter sua manifestação de rua proibida ocupam o templo dessa era onde o Mercado é um deus soberano. E incomodam e geram reações. O local onde podemos fazer nossas oferendas tranquilamente ao onipresente Mercado invadidos por marginais de pele escura e sem dinheiro, cantando alto e falando palavrão e pertubando a ordem. De forma totalmente inconsciente (diferentemente dos Black Blocs que ocorreram ano passado) atacam o pulmão do capitalismo. E de forma horizontal!!!.

É capitalismo, você entrou na curva descendente. É sociedade hierarquizada, as pessoas estão percebendo que não "precisam obedecer "líderes"". Até as maiores vítimas de sua ideologia (no sentido de acreditar nela ("ser é ter")) se rebelam contra ela. Sua casa tá caindo e justamente pelos seus principais representantes e mais interessante sem eles terem consciência alguma disso! Imagina se soubessem o que estão fazendo?

Rumo a Re-evolução... Seu preconceito aceite ou não!