domingo, 23 de março de 2014

A Contradição e a Coerência ontem.

Ontem, como todos já sabem foi convocada uma reedição da Marcha da Família com Deus pela Liberdade em comemoração a cinquenta anos da mesma que abriu o precedente para o Golpe e para a Ditadura Militar no Brasil que ocorreu durante 25 anos e mantém até hoje a estrutura de poder que eles nos relegaram.

Quem viveu aquilo, quem conhece História, quem tem consciência do que é um Estado de Exceção e quem tem conta em redes sociais ou lê notícias pela internet se assustou com a possibilidade daquilo tudo ocorrer de novo e muitos convocaram uma anti-marcha para o mesmo dia. A prudência se mostrou maior: a marcha anti-fascista foi três vezes maior que a fascista. Em algumas passeatas, a marcha a favor da ditadura não conseguiu reunir uma dezena de pessoas. Ou seja, são muito mais barulhentos que ativos. Quando saíram das redes sociais, dos spans difamatórios e dos comentários em portais de notícias se mostraram ínfimos em sua megalomania.

A maior contradição de ontem foi essas pessoas usarem da prerrogativa da Liberdade de Expressão para convocar um ato por um Estado de Exceção autoritário e violento (o pleonasmo é para ressaltar).

Mas também teve coerência. Eles agrediram um grupo de fãs do Metallica a caminho do Morumbi por acharem que eles eram um bloco negro (justo o Metallica, talvez a banda mais reacionária do metal que chegou a processar seus próprios fãs por baixar músicas na internet). Xingaram e tentaram agredir um casal de homossexuais, agrediram quem passava na rua e discordava do ato, expulsou e agrediu jornalistas que eles achassem que era contra seus princípios e pior, expulsaram da passeata um senhor que apoiava o movimento mas estava de tênis e bermuda vermelhos. Vermelho lá não! Nem apoiando eles. Atitudes perfeitamente coerentes com quem defende ditaduras, censura, violência contra minorias e quem seja contrário a eles e um golpe quando o governo não converge com a ideologia deles. Nada mais coerente a quem idolatrava Mussolini, Geisel ou Salgado, por exemplo. Nada mais coerente do que alguém aos gritos, literalmente espumando pela boca  expulsando jornalistas da mídia Ninja com um livro de Olavo de Carvalho na mão, mostrando-o com uma Bíblia: "EU SOU INTELIGENTE, VOCÊ É BURRO, IDIOTA, VOCÊ É BURRO, EU SOU INTELIGENTE!" durante dois minutos apenas espumando e gritando esse "argumento" para expulsá-los da cobertura do ato.

Um dos argumentos recorrentes em redes sociais e comentários é que a esquerda (esquedopata ou esquerdista no vocabulário deles) é autoritária e que vivemos uma "ditadura comunista (!?!?)". Na marcha antifascista uma senhora não sei se por engano ou por opção errou de marcha e passou a descontroladamente a gritar e a empurrar os manifestantes. Para evitar que os ânimos se alterassem um grupo de militantes antifascista abraçou e levou ela até uma viatura da polícia para protegê-la de algumas pessoas que estavam caindo nas provocações e reagiam com violência, assim protegendo ela dela mesmo. Esses quadros deixam claro quem é o autoritário e ditador e quem é a favor da Liberdade! Nada mais coerente e nada mais acalantador que saber que apesar de encherem o saco no mundo virtual, esses idiotas (no sentido de sem id mesmo) são uma pequena e chata minoria mesmo num país racista, segregador e violento como o nosso. Ainda bem... Mesmo assim não custa lembrar: NÃO PASSARÃO!

sexta-feira, 21 de março de 2014

Corinthian FC 1910 Heròis de Guerra (Versão Portuguesa)

Essa história vale para todos os amantes do futebol (peço desculpas aos não corinthianos pelo ufanismo do texto, mas ainda assim vale para todos os torcedores apaixonados pela história do futebol (para os corinthianos é obrigatório!) e da relação dele com a política e a sociedade) e de história e vai especialmente para aqueles que glorificam guerras.



O Corinthian Football Club era um dos primeiros times da Inglaterra e era uma espécie de Harlem Globetrotters do "football association" apelidado por um dos jogadores do Corinthian como "soccer", nome esse designado até hoje nos EUAN para definir o Football Association já que eles usam a palavra para definir um outro esporte derivado do Rugby que também chegou a ser chamado de football no Reino Unido mas teve o nome alterado para não confundir com o hoje esporte mais popular do mundo. Numa dessas excursões, os Corinthians (como eram conhecido os jogadores do esquadrão) vieram ao Brasil em 1910 e destilaram toda sua arte e técnica contra os times brasileiros. No jogo contra a Associação Atlética das Palmeiras no dia 31 de agosto estavam na arquibancada Joaquim Ambrósio, Antônio Pereira, Rafael Perrone, Anselmo Correa e Carlos Silva que no dia seguinte, na barbearia de Salvattore Battaglia situada na esquina da Rua Cônego Martins com a Rua dos Imigrantes (atual Rua José Paulino). As discussões sobre um time realmente popular, que agregasse a todos sem distinções e que fosse colaborativo, organizado de forma cooperativa se alongaram e terminaram em frente a barbearia, sob a luz de um lampião a discussão continuou. Como o Corinthian's Team inspirou essas ideias, o nome escolhido foi Sport Club Corinthians (no plural mesmo) Paulista e teve como primeiro presidente o alfaiate Miguel Battaglia, irmão de Salvattore. Inspirado no anarco-sindicalismo e em leituras do período anarquista La Battaglia ele declama como lema fundador do time: "Esse time veio do povo e é o povo que vai fazer esse time". O restante dessa história já é bem conhecida...



Os Corinthians continuaram a fazer excursões até que em 1914 eclode a Primeira Guerra Mundial e grande parte dos seus principais jogadores morrem nesse confronto. E o time nunca mais foi o mesmo apesar de continuar fazendo excursões até o final dos anos 1930 até que em 1939 se funde com Casuals FC formando o atual Corinthians-Casuals FC, time amador da Inglaterra que existe até hoje. Curiosamente o Corinthians-Casuals tem fãs na internet que a maioria dos times profissionais da Inglaterra, incluindo muitos da Premier League, justamente pelo carinho e gratidão que os torcedores do Corinthians Paulista (uma das cinco maiores legiões de torcedores do mundo) tem por eles.



Go Corinthians!



sábado, 8 de março de 2014

Escrevi um poema para essa data querida

Mais um oito de março
outra data de luta
transformada em festa
onde o foco vita lucro
da floricultura e também
do vendedor de bombom

Se dá parabéns
e homenagens nas redes
a paisagem fica rosa
e todos se esquecem da
cor da bandeira queimada
das guerreiras de 1857

Quando nesse dia
as meninas não ganharem
cozinhas de brinquedo
e não fossem vistas como
instrumentos de prazer e da
manutenção da espécie apenas

Quando mulheres não são mortas
pelos maridos "donos" delas
que meninas não sejam
educadas e vigiadas para
serem santas reprimidas,
ao contrários dos seus irmãos.

Quando as religiões não ensinarem
"a obedecer e servir seus maridos"
Quando ser feminino
não seja pejorativo
e nenhum homem se ache
no direito de te agredir

apenas por ser indomável mulher
e nenhum inseguro troglodita
se ache no direito
de arrancar prazer delas
sem que elas consintam
sem que elas gozem.

No dia que elas gozarem
sem precisarem fingimento
já que o amor será mútuo
e elas não apenas o meio
mas a junção dos opostos,
o fim para um novo início.

Nesse dia quando elas poderem
escolher qualquer ofício
sem ter dupla, tripla jornada
e ganharem o mesmo por isso
e gozarem com quem, quando e
quantas vezes elas quiserem

No dia que as próprias mulheres
parassem de se agredir
com os termos que os homens ensinaram
e parassem de ensinar suas proles
esses preceitos como a mulher
"bem falada", "de respeito"

"trabalhadeira" e "virgem"
e seu filhote como o
oposto disso
e ainda deixarem elas escolherem
seus sonhos além de um parto, um luxo
e outras compensações futeis.

Nesse dia oito de março
eu não precisarei dizer
"feliz dia das mulheres"
porque ele terá acabado
e todos os dias serão das
mulheres e homens livres

livres das amarras adestradas da opressão
Nesse dia oito de março
a gente lembrará nas aulas de história
de uma sociedade que oprimia,
matava, estuprava suas fêmeas
apenas pelo medo delas serem livres.

Enquanto esse dia não chegar
só resta lutar, lutar, lutar
para que esse dia
nunca mais exista
e que todos nesse planeta
se amem pelo que todos são, apenas.

8.3.14 às 2h30