EM RELAÇÃO ÀS
ELEIÇÕES 2014, ALGUMAS PESSOAS PEDIRAM MINHA OPINIÃO SOBRE O
PLEITO E DEMOREI PARA RESPONDER POIS CONFESSO AINDA ESTAVA INDECISO,
MAS O JOGO ESTÁ PASSANDO: ENTÃO RECOMENDO (SIMILARMENTE AO PSOL):
VOTO NULO, BRANCO, ABSTENÇÃO OU EM DILMA ROUSSELF, MAS JÁ EM
AÉCIO, NEVER! (JAMAIS, NUNCA MESMO). Vou novamente de 13, como na
maioria das vezes na minha vida, mas como nas últimas vezes, sem
emoção ou convicção (por convicção manteria a abstenção no
segundo turno) para não deixar o pior ganhar.
Quem tiver preguiça
de lê o texto abaixo justifica essa posição já dada acima:
Comecei o pleito com
uma convicção: não iria votar em ninguém. Para que “ninguém”
tivesse uma alta votação e demonstrasse para as pessoas que
política vai muito além desse Grenal (vermelho x azul) eleitoral.
Me abstive no primeiro turno. Até pensei votar em alguns para o
legislativo mas o voto proporcional me desestimulou (no Brasil mesmo
o voto nominal vai para o partido, por exemplo, se eu votasse num
deputado federal do PT por exemplo que eu conheço, acompanho e
admiro o trabalho, meu voto seria computado para Andrés Sanches
também, por exemplo). Comecei o segundo turno com a convicção de
não votar em ninguém, mas fui mudando minha visão por uma
consciência: o voto melhora muito pouco nossa vida, mas pode
conseguir piorar muito.
Tenho muitas e
muitas e muitas críticas fortes ao governo petista e em especial a
como eles permitem que em troca de poder político diversos atentados
contra os direitos humanos. Mas incrivelmente a outra opção tem
duas características consegue ser igual ou pior que eles em todas as
pastas e se propõe a ser pior nos (cada vez mais espaçados) acertos
petistas. Como diria o censurado Xico Sá ontem: “só o Aécio para
ser mil vezes pior que a Dilma”.
Hoje o PT paga o
preço de uma escolha ideológica: formou consumidores ao invés de
formar cidadãos. Hoje o maior adepto do antipetismo é aquele que
foi estimulado a comprar carro para mostrar que venceu na vida, que
tem um comércio que se manteve porque nas crises o mesmo estimulou o
movimento econômico ao invés de arrochos e demissões como a
cartilha neoliberal normalmente sugere. Esse cara hoje “não é
mais pobre” e vota contra eles porque se vê como
empresário/consumidor individual não como cidadão de uma sociedade
coletiva.
O discurso
pró-PSDB/Aécio me empurrou do votar em ninguém para votar no
“menos ruim”. Nosso congresso pela primeira vez em anos é a fiel
representação da nossa sociedade: racista, machista, homofóbico,
elitista e doente. Aliado a isso, ter um governo que tem como um guru
econômico que defende a redução do salário mínimo, aumento de
juros e a privatização de bancos públicos. Um partido que passou
seus doze últimos anos jogando para uma torcida que considera dar R$
70,00 para uma pessoa que está passando necessidades básicas como
“sustentar vagabundo” mas acha normal um juiz que se dá auxílio
moradia. Aí mora talvez, ironicamente o maior problema eleitoral do
governo petista, a conta chegou: conciliou tanto que perdeu os votos
de esquerda e os de direita continuam votando contra eles.
O governo petista
tem apenas uma diferença em todos os governos no Brasil desde 1808:
distribui as migalhas. E esse fato, foi uma garoa no deserto social
brasileiro. O suficiente para ressurgir uma relva ou até nascer
algum cacto. Não reflorestou ou irrigou o deserto. Mas lembrando que
sim, jogou gotículas de água numa terra que durante séculos foi
seca porquem detém o monopólio da violência e por consequência,
do poder. Só isso tirou o Brasil do mapa da fome. Isso colocou
estudantes pobres e de etnias discriminadas no nosso péssimo sistema
de ensino. Ao dar o famigerado bolsa família no nome da mãe, deu um
forte golpe no patriarcado, em especial nas regiões mais pobres onde
a violência dita a força em todas as relações. Não pegou mais
empréstimos com organismos internacionais que obrigam os países que
os recorrem à demitir, diminuir investimentos sociais e salvar
bancos. Esse mérito ninguém pode negar a eles. Tem que ter um
poster do Mussolini na cabeceira da cama para achar isso ruim... Mas
e realmente mudar profundamente algo? Reformar educação, reajustar
dignamente a tabela do SUS, reformar infraestrutura em especial de
transportes, auditorar a dívida “ex-externa” (o Brasil comprou
os título de sua dívida, então sua dívida externa na realidade é
interna) que a gente paga juros do juros dos juros desde 1822,
consertar essa tumultuada carga tributária que onera os mais pobres
que pagam tributos sobre tributos e deixa os mais ricos com impostos
onde pode se deduzir tudo, reajustar a tabela do imposto de renda (R$
2.500,00 no Brasil paga IR), combater os ataques contra minorias ou
que não evoluiu na educação para a tolerância e ataques contra a
natureza entre outras coisas que vejam, não estão fazendo uma
reforma socialista nem nada disso, mas dentro dessa mesma regra,
desse mesmo sistema não foi feito nada. Porque? Porque não
quiseram? Não creio. Porque não puderam? Talvez porque não tiveram
coragem de bater de frente com essa elite tacanha que temos no
Brasil? Sim, isso sim. Essa elite que se recusa a dividir o bolo,
essa elite que quer aeroportos privativos (nisso o Aécio elevou a
outro nível, aeroporto público privativo mesmo!), aliás tudo
privativo onde o dinheiro manda, essa elite hereditária que prega
meritocracia que reclama de pagar direitos trabalhistas para
empregados, que não constrói nada e só acumula desde 1500. Não
bater de frente com eles significa que esse modelo se esgotou. Mas aí
você pensa, então vamos mudar? Boa, mas estamos no segundo turno e
quem é o outro candidato? Justamente o candidato dessa elite. Que
nem a migalha quer oferecer. Um herdeiro dessa tradição política
secular que eu citei. Um projeto de poder para devolver até as gotas
que cairam fora dessa piscina privada. Não fará nenhuma das
reformas acima e tem por programa devolver tudo para os ricos de
forma privada, fora do estado para que não haja risco de isso ser
distribuido novamente. Que tem uma base que acha que o problema do
Brasil são pobres, nordestinos ou negros votarem. Temos saúde,
educação e infraestrutura péssimos por conta de uma elite que pode
pagar por isso que os demais não tem. Temos uma péssima
distribuição de renda, um índice de desenvolvimento humano de país
em guerra, por falar em guerra somos uma sociedade violentísima,
pautas essas que não são objetos do interesse do neto daquele
político que desde os 25 anos vive de cargos comissionados na
máquina pública. Avó esse que se dispôs a ser primeiro-ministro
no pré-golpe militar, em 1961. Família carioca tradicional e rica
dentro de um partido que “defende” a meritocracia, que privatiza
tudo a preço de chuchu as companhias que permanecem com os mesmos
problemas. A chapa DEM/PSDB que são respectivamente primeiro e
segundo lugar em cassassões, que aparelham o judiciário para que a
casa não caia nunca, que prefere dar lucros aos acionistas da
companhia de água à investir contra um desabastecimento previsto a
uma década, que constrói em SP um quilometro de metrô por ano e
cujo senador recém eleito diz que cartel não é crime (cartel esse
que seria para “construir” o referido metrô), que recorre as
medidas mesmas (privatização, socorro aos bancos e demissões) que
está deixando a Europa na eminência de uma Terceira Guerra Mundial
e reacordando o fascismo (a Espanha por exemplo, tem 25% de
desempregados, isso mesmo, um quarto do país não tem fonte de
renda).
Não citei diversas
questões como a cultura que sofreu um golpe interno dentro do
governo (todo o trabalho de Gil e Juca foi destruído por Ana de
Hollanda, sua sucessora), os ataques ao meio ambiente e aos índios
do atual governo ou mesmo a base racista de que seu concorrente
tucano, assim como seus ataques a mínima liberdade de expressão
perseguindo jornalistas e demitindo grevistas e (a carapulça serve
para os dois agora) até porque na hora de perseguir quem vai “contra
o sistema” os dois “opostos” não exitam em se unir. Mas esse
artigo ficaria enorme e os partidos que em 1993 (PSDB “esqueçam
tudo o que eu fiz”) e em 2002 (PT “carta aos brasileiros”)
rasgaram seus programas em troca da ponta do iceberg do poder não
vão mudar substancialmente sua vida oprimida de trabalhar muito, ser
estremido ou ficar parado no caminho, de não ver seu filho crescer,
de abandonar seus sonhos para viver, de trabalhar no que não gosta,
de ter que trabalhar para sustentar aqueles que tem o dinheiro ter
ainda mais dinheiro. Nada disso vai acontecer. Mas analiso que os
tucanos além de não fazerem nada para mudar isso propõem piorar o
pouco que os petistas fizeram e acham que fizeram a revolução por
isso.
A sua vida política
começa realmente dia 27 de outubro, dia depois da eleição. Agora
você apenas digitará um número numa nada confiável (e nem
aferível) calculadora. Depois disso aqueles que mandam continuam
mandando, independentemente do número escolhido, no subterrâneo do
poder. A política você fará no dia a dia ao escolher o que comer,
como tratar o próximo, como se organizar em temas que impactam, em
não atacar um semelhante, em simplesmente se por no lugar do outro e
minimamente tentar ver o ponto de vista oposto. Se organizar para não
ter que obedecer e nem mandar em ninguém, de forma que todos se
olhem nos olhos no mesmo plano, ninguém em cima nem embaixo. Que seu
trabalho seja sua vida e não sua morte lenta e diária. Isso sim
mudará o mundo. Quebrará as fronteiras e fará você perceber que
sua angustia é mesma que quem fala outra língua e nasceu do lado de
lá do rio.
Digitar um número
numa urna não mudará nada disso, até porque o poder é bem
entralaçado para não ter perigo para que isso ocorra. Política é
você quem faz no dia a dia em todos os seus gestos. Aristóteles
diria que o “homem é um animal político”. É isso.
Absolutamente em todos os seus gestos você está, mesmo que
insconsientemente, fazendo política. Então faça, se mova, se
conscientize, tenha instrumentos para não depender nem de governos
nem de patrões, tenha consciência que são eles que dependem da
gente, sem nós, eles terão que trabalhar (“O rico fará tudo pelo
pobre, menos sair de suas costas” (Tolstói)). Construa no dia a
dia. Por um mundo nem estatal, nem privado, mas mútuo e isso passa
bem longe do colégio eleitoral.
Devido a isso eu vou
votar no ruim para que o péssimo não ganhe. Mas quem ainda se sente
desconfortável em votar no ruim, peço que não vote no péssimo (se
seu Gol 2010 Flex está com defeito não troque por um Passat 1987 a
alcóol, porque sim, vai piorar! E é válido um grande contingente
de votos em ninguém para demonstrar que muitos já não acreditam
mais nesse caminho). Para desacelerar o avanço do fascismo no
Brasil. Porque sim, pode piorar e esse é o objetivo de muita
gente...