Hoje eu entendo como deve ter se
sentido o torcedor do Milan, orgulhoso de sua história, das brigadas
antifascistas rossoneras quando o mesmo foi comprado por Berlusconi,
o mafioso mais podereso do país. Como se sentiu o torcedor balgrana
quando seu Camp Nou orgulho da resistência à Franco virou um palco
de luxo para sócios de um banco e deixou de fora. Já senti isso
quando o futebol do Corinthians foi "vendido" por dois anos
para a máfia russa. E no ano seguinte Fausto veio cobrar sua conta e
caimos para a série B. E nos reconstruímos atingindo em pouquíssimo
tempo o topo do mundo. Ganhamos os títulos que nos faltava,
capitalizamos a paixão do torcedor e criamos uma estrutura digna dos
maiores gigantes do mundo do futebol. Do trailer ao CT Joaquim Grava.
Do terrão ao Japão. Da modesta Fazendinha à uma Arena de abertura
de Copa. Mas esse crescimento veio num cenário brasileiro onde o
torcedor pobre é sistematicamente expulso do estádio. E o
Corinthians continuava tendo as maiores medias de púbico mesmo
manjorando sistematicamente seu valor de acesso ao estádio. Oferta e
procura. O melhor momento da sua história escondeu em nossa alegria
um sistemático processo de elitização da torcida brasileira. Só
é bem vindo aquele que pode pagar caro por uma camisa do time, pelo
seu ingresso e pelo estacionamento. O povo que ja havia sido expulso
do clube sistemticamente também está sendo expulso do estádio.
Ignora por exemplo, o modelo alemão que busca trazer o torcedor para
dentro estaio à preços populares e tirar essa diferença de
arrecadação com o consumo dentro do espaço sempre totalmente
ocupado e mantém altos índices de arrecadação. Ou seja, não é
arrecadação, é ideologia!
Agora de novo, quando nossa casa vira
uma mansão de milionários. Ingressos a preços excludentes. Aquela
nata que comanda o clube quer transformá-lo num clube como outro
qualquer, onde as taças contam a sua história e seus torcedores são
meros colecionadores de títulos. Em nome de uma higienização
social e de dinheiro rasga sua história. Esquece que foi o povo que
faz esse time. Ignora a massa que carregou esse time nas coistas
mesmo quando não disputou a liga, mesmo quando ficou duas décadas
sem vencer. Mesmo que ficou 50 anos sem um titulo de expressão
nacional. Nossa história é dos cinco operários que em frente a uma
barbearia fundaram o time do povo para o povo. Esse povo que comprou
rifa para comprar seu primeiro unfiorme e bola. Que fez em mutirão
seu primeiro campo e seu primeiro estádio. Que acompanhou você em
invasões históricas. Que te levantou, te carregou até nos piores
momentos. Porque? Uma taça era só um detalhe. No Corinthians todos
somos um. É um estado de espírito. É um estado de união. A
torcida apoia o clube na boa e na má fase porque tudo é um só. Não
somos a terceira pessoa na conjugação corinthiana, somos a primera
pessoa do plural. O time do povo que faz o time. Jogamos junto,
podemos às vezs jogar mal, mas jogamos junto. Em 2012 o mundo
conheceu a fiel. A CNN que nos chamara de pequeno anos antes agora
nos cahama de torcida mais louca do mundo. Entenderam qual é a nossa
grandeza. Antes de termos nos somos. O troféu que veio nos encheu de
alegria e orgulho mas ele foi uma consequencia e ousaria dizer até
um detalhe de quem nós somos.
Agora essa nata de eleitos que comandam
essa paixão, essa sensação de pertencer a algo único, coletivo,
ativo excluem aqueles que construiram sua história do seu ápice. O
povo está fora da casa do povo. Eis agora uma diretoria e parte da
sua torcida que ainda pode pagar por seu rito ignoram todo um
sentimento. Só um aviso. O povão nunca abandonou o time,
principalmente em seus piores momentos. Mas esse espectador de buffet
de nozes e canapés abandona o time quando seu resultado dentro de
campo desaparece. Já o povão, aquele que chora, que sofre, que se
enrola na bandeira e que defende sua história na padaria, na
empresa, na escola, na rua está fora da nova casa. Parabéns
Corinthians Personalitè. Quero ver essa “torcida” viajar para o
outro lado do mundo e cantar sem parar até quando toma gol, alías
querioa ver essa “torcida” cantar. Quero ver essa “torcida”
comprar camisa quando o time tiver caindo...
Espectador não torce, ele assiste.
Torcedor suporta, joga junto, empurra. Essa bandeira da torcida
corinthiana existe porque somos todos uma só existência. Se tirar
esse fator do nosso campo, o Corinthians perde o que tem mais forte,
o que te define: sua aura, seu estado de espírito, sua razão de
existir. Todos são Corinthians não só aqueles que podem pagar caro
para demonstrar isso. POrque o povo no começo vai pagar mas na hora
que faltar o leite das crianças vai deixar a Arena para um rito
aristocrático de alguns milhares de eleitos. E aí um espírito
morre. Uma história se apaga e não tem trófeu no mundo, time
competitivo no mundo, contrato no mundo que pague isso.
Obs.: Só dois avisos a "nata".
Nós (todos nós) somos Corinthians e a nata é a parte do leite que
a gente joga fora. O mundo dá voltas...