domingo, 21 de maio de 2017

Viver em São Paulo sem perder a sensibilidade

Cidade dura, invidualista e cada vez mais cinza
Indo trabalhar, fone de ouvido e angústia individual
Passo firme e acelerado para poder comer antes
de vender sua trabalho que ontem seria
zelar a sala numa oficina de poesia

A poesia que está na rua, está nos olhos
muitas vezes quase não sentimos ou vemos
Passo por um músico de rua e seu violino
tiro o fone de ouvido com sua música mecânica
e o Beastie Boys dá lugar ao noturno de Chopin

Contribuo com dinheiro no estojo e paro para ouvir
meu tempo apertado haveria de esperar cinco minutos
para ouvir aquela música que comunicava com a angústia
dos dias e dos tempos e também do indivíduo atual

Outra pessoa repete o rito e a música angustiada
que estava solitária e opaca ganha seu brilho
A parte B da música vira uma vida, uma esperança
e mesmo a repetição do A ainda triste, mas agora, vivído!

O noturno tornou a dor em esperança e brilhava em nós
que não estávamos mais sós, em tempos sombrios
nem a canção tocava pro nada, nem nós eramos nada

Após nossos aplausos seguimos nossos rumos
sem saber nossos nomes, sem ouvir as outras canções
mas aquele triste Chopin tornou todos um só

Vivemos a mesma dor, a mesma fuga e a mesma solidão
Assim aquelas notas da melodia não foram em vão

Transformaram uma manhã de rotina numa esquina
da Vila Prudente em alimento para as almas que ali estavam

As almas que tocavam e que foram tocadas, músico e nós

Notas tocadas nos tocaram com aquela música, na manhã que mudou.