segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Feliz nascimento do Sol a todos

Feliz nascimento do Sol a todos. Que o senso coletivo e agregador dessa época se mantenha nos outros 364 dias do ano.

Nessa época, muitas reconciliações, ocorrem, muitos amores surgem e o espírito solidário ganha proporções que deveriam ser a rotina, mas não são. Vinte e cinco  de dezembro historicamente é um feriado religioso. Nessa mesma época, em calendários distintos, culturas distintas sempre celebram o nascer de Deus. No Egito, celebra-se o nascer de Hórus, o filho de Ísis e Osíris, o deus que encarna, formando assim a trindade "executiva" da religião egípcia. Qualquer semelhança não é mera coincidência. Diversos povos tribais, de religiões que cultuam a natureza como expressão divina na Terra, do campo ("paganus" em latim, ou se preferir: "pagão") celebram o nascer do Sol nessa época. O Sol nessas culturas é a porção masculina de Deus, em contraponto a Lua, porção feminina do divino e Terra, filha dessa união. Ou seja, novamente o momento em que se consolida (exalta-se) a natureza triparde de Deus. Na antiga Roma também era celebrado o nascer do Deus-pai, simbolizado pelo Sol. Quando o cristianismo, uma reforma do judaísmo (uma religião monoteísta praticada principalmente na Palestina) se torna a religião oficial de Roma, em 320, a festa do nascer do Sol, se torna o aniversário de Jesus Cristo, o deus encarnado da religião cristã e 25 de Dezembro no ocidente passa a ser conhecido simplesmente como Natal (nascimento). Com o advento da burguesia (classe comerciante) ao poder, essa data passou a ser associada a dar presentes, tornando-se também a maior data comercial do mundo. A troca de presentes comprados, supostamente entregues por um velhinho moralista se torna o assunto principal nessa época ao invés da celebração da presença e da dádiva divina na Terra, contexto original da celebração que me comunica muito mais com minha religiosadade pagã. Ou seja, quase todas as religiões do ocidente, seja ao norte, seja ao sul celebram hoje a união de todos em torno Dàquele que nos criou, independente do nome que tú dê a Ele, a forma que tú celebras ou até mesmo se tú celebras ou acreditas. Seja religioso ou não, crente ou ateu, sensível ou não: isso me interessa.

Então
Natalis Solis Invicti
a todos
Luiz

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Hoje é dia de gória

Hoje é dia de gória. Quando comecei a acompanhar futebol, o Corinthians era chamado de time regional, pois nunca havia ganho um campeonato nacional. Em 1987 fomos vice-campẽao paulista e fizemos mais festa do que o campeão, pois o time havia ficado em último lugar no primeiro turno e chegou as finais no segundo turno. Ali eu entendi o que é ser Corinthians. É acreditar, é lutar, é ter fé, e acima de tudo, ter raça. Uma unidade espiritual entre torcida e clube que se tornam uma coisa só. Sempre falamos que títulos não eram o principal. Nossa história não é (somente) contada em taças, mas em manifestações de amor, luta e união. Somos o time do povo para o povo. Somos o povo que sorri na miséria, que agrega ricos e pobres, brancos e negros, religiosos e ateus, em suma, somos uma só coisa. A torcida que virou nação justamente na época em que não ganhava títulos.

Para nós sempre foi mais importante ser isso do que necessariamente ganhar. Em 1976, perdemos o campeonato, mas ganhamos a invasão ao Maracanã. Em 2000, reinvadimos o Maracanã. Em 2005, fizemos o Serra Dourada nosso. Em muitos lugares, em muitas situações a torcida corinthiana tornou o jogo algo secundário. Foi fundado por trabalhadores braçais em 1910. O primeiro time da várzea a ganhar o elitista campeonato paulista da época. O time que cinstruiu um estádio em mutirão. Sempre foi o símbolo da unidade popular. A torcida sempre foi seu diferencial. Com a fundação da Gaviões da Fiel, em 1969, esse apoio se sistematizou. Cantar do ínicio ao fim. Jogar com e pelo time, aonde ele for. Quando tomar gol, cante mais alto. O mais importante não é vencer, é ser Corinthians.

Como iniciei, isso nunca foi bem entendido por quem opta torcer por outras bandeiras. Aliado ao nosso religioso fanatismo, todo mundo tem um prazer  especial em ironizar nosso amor. Nos chamavam de time regional, até 1990, depois disso, de time nacional. Em 2000 ganhamos o mundo e inventaram que tinhamos que atravessar o mundo para conquistá-lo. Agora atravessamos e ganhamos. Fora a tal Libertadores, eita torneio que doía. Um time raçudo com forte apoio de sua nação, deveria ter a Libertadores como um torneio mais fácil ainda, mas essa pressão fazia com que os times do Corinthians deixassem nossa única exigência de lado, a raça, a fé e a luta. Não era a ironia dos adversários que doia, mas sim deixar de ser Corinthians justamente nessa hora. Por isso as reações intepestivas. Agora, como em 1977, fomos libertados. Em 2007 sofremos um grande golpe na nossa arrogância. Explico: nós, fiel torcida, sempre fomos o 12º jogador e nós, confessamente, achava que com esse craque, a torcida, nunca seríamos rebaixados. Percebemos que se os outros 11 jogadores não tiverem qualidade e não sentissem isso, não seríamos nós que ganharíamos. Mas com o contrário, com onze guerreiros e uma nação nos tornamos muito fortes dentro de campo também. Já ganhamos cinco brasileiros, três copas do Brasil, dois mundiais e uma libertadores, fora mais seis estaduais. Isso em pouco mais de duas décadas.

Hoje ainda somos Corinthians. Onde o mais importante é ser. E agora nos somos e temos. O mundo hoje é preto e branco. Quem viu a cartase de 4 de julho de 2012, de 13 de outubro de 1977 e de 16 de dezembro de 2012 e 1990 talvez consiga compreender que o futebol é muito mais que uma bola e 22 atletas. É uma cartase coletiva, é um dos maiores fenomenos coletivos que a humanidade já viu. É festa, a cachaça do povo nos dopou. Estamos felizes. Por mais sujera que o futebol esparrame, por mais que os problemas meus e do mundo permaneçam os mesmos. Mas ainda assim, estamos felizes e algo que deixa milhões de pessoas felizes, sempre é algo louvável.

Obrigado, Corinthians, por existir. Na vitória ou na derrota eu grito forte: Corinthiano eu serei até a morte. Mas hoje o mundo descobriu isso. Se isso te incomoda, meus sentimentos. Porque hoje a favela está em festa (ou pelo menos de ressaca!). Sim Gil, o axé está com a fiel. Obrigado corinthianismo por me contaminar. Ser Corinthians basta, mas ser Corinthians e campeão é muito melhor. Hoje estamos sorrindo por dentro e por fora. Aquele que já viu o time perder finais para rivais consecutivamente, ser rebaixado, perder eliminações vexatórias, hoje sorri. O sorriso dos fiéis que nunca te abandonaram e nunca irão te abandonar. Na tristeza e hoje, na alegria. Parabéns corinthianos, nós merecemos. Hoje o mundo nos conhece: prazer mundo, Aqui é Corinthians!

sábado, 25 de agosto de 2012

Sobre as eleições municipais

Pensem comigo: a gente vai aprender a como fazer uma cidade facista, a gente tira ela da mãos de coronéis reformados da PM e entrega na mão dos pastores da Universal, daqui há quatro anos a gente vê qual lado da direita é pior: o militarista ou o fundamentalista evangélico.

Estão dadas as cartas e demorou pra gente sair dessa cidade e entregar ela de vez para esse bando de "reacionários provincia

nos" (Termo de Mario de Andrade pra definir a população paulistana há 90 anos, pena que ainda seja tão atual) que mora nela...

Vamos comprar uma fazenda e fundar uma cidade que a gente possa ficar na praça, fazer arte na rua, beber na calçada, ter árvores na rua, não ter veículo automotor, aonde ganhar dinheiro não seja a única meta humana de vida e poder sorrir e cantar e quem sabe até poder ser feliz sem ninguém me proibir disso ou me mandar pro inferno...

Vamos fundar nossa Utopia porque essa realidade careta e hipócrita é tudo que eu não quero pra minha vida. Mas nossa democracia representativa mostra o quanto sou minoria nessa ilha...

Eu sinto saudades de um tempo (tão próximo e tão distante) onde as pessoas bebiam nas calçadas, riam, pensavam alto, andavam abraçadas nas ruas sem perigo de ser atacado por um grupo nazi-religioso, onde havia intervenções artísticas nas calçadas e nas ruas sem medo de repressão, quando arte não era crime, quando amor em qualquer modo não era contravenção, onde eu conseguia me descolar sem ter um carro (tinha até ônibus de madrugada), entre outros absurdos (na visão da maioria da população)...

Já nem era tão bom mas é incrível como essa cidade piorou nos últimos oito anos e tende a ficar ainda pior nos próximos quatro... Parabéns São Paulo, você conseguiu fazer eu perder a admiração que eu tinha por esse lugar... Parabéns reaças, vocês venceram, eu jogo a toalha...

Vou viajar, em busca dessa ilha, a Utopia, porque essa ilha que moramos já me encheu!

terça-feira, 31 de julho de 2012

Se era Bayer, era bom? - Sobredrogas: O Globo

Se era Bayer, era bom? - Sobredrogas: O Globo

Se era Bayer, era bom?

O material abaixo andou circulando pela internet nas últimas semanas. É mais um interessantíssimo exemplo de como os conceitos de ilegalidade e imoralidade a respeito do uso de substâncias psicoativas é relativo e navega ao sabor da cultura, do conhecimento científico e dos hábitos comportamentais contemporâneos das sociedades.

Um frasco de heroína da Bayer
Entre 1890 a 1910 a heroína era divulgada como um substituto não viciante da morfina e remédio contra tosse para crianças


 Propaganda de heroína da Martin H. Smith Company, de Nova YorkAlém, de analgésico, a heroína era usada como remédio contra asma, tosse e pneumonia. Misturá-la com glicerina (e comumente açúcar e temperos) reduzia o amargor da substância e o deixava mais palatável para a ingestão oral.

Drops de cocaína para dor de denteEm 1885, eram muito populares para crianças. Não apenas acabava com a dor, mas também melhorava o "humor" dos usuários.

Ópio para asmaEsse "National Vaporizer Vapor-OL" era indicado para "asma e outras afecções espasmódicas". O líquido volátil era colocado em uma panela e aquecido por um lampião de querosene 

Vinho de coca Vinhos a base de folhas de coca eram muito comuns no século 19. Este do cartaz acima, da Metcalf, era um dos mais populares. O cartaz a afirma que a bebida tinha efeitos medicinais, mas o vinho também era era consumido pelo seu valor "recreador". A Coca-Cola foi, de certa forma, uma versão sem álcool dos vinhos de coca.

Vinho MarianiEm 1865, o Mariani era o principal vinho de coca do seu tempo. E o Papa Leão XIII era seu principal garoto-propaganda. O Santo Padre sempre carregava um frasco de Vinho Mariani na batina, e premiou seu criador, Angelo Mariani, com uma medalha de ouro do Vaticano.

Opiáceo para bebês
A fórmula, antigamente, para aquietar bebês recém-nascidos não cantiga nem embalo. Era ópio.
Esse frasco de paregórico (sedativo) da Stickney and Poor era uma mistura de ópio de álcool que era distribuída do mesmo modo que os temperos pelos quais a empresa era conhecida. As dosagens recomendadas eram:
Para crianças com cinco dias: 3 gotas
Duas semanas:8 gotas
Cinco anos: 25 gotas
Adultos: uma colher cheia

domingo, 1 de julho de 2012

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Quero te bela e forte

Quero te bela e forte
Quero te louca e livre
Quero te única e exuberante
Quero te assim, assim

Vou te fazer feliz
Vou te levar daqui
Aonde você quiser
O que você sonhar

Vamos juntos percorrer
o insano caminho dos sonhos
que parecem aos fracos, irrealizáveis
mas para nós, apenas moinhos

Deixe-me te fazer a mais livre e feliz
mulher que jamais existiu
por mim esse seria o hino oficial:


És grande no esporte bretão, 
O passado ilumina tua história. 
Ciente de tua missão: 
Vitória, vitória, vitória.

Corinthians do meu coração, 
Tu és religião de janeiro a janeiro. 
Ser corinthiano é ir além 
De ser ou não ser o primeiro. 
Ser corinthiano é ser também
Um pouco mais brasileiro.

Tens a tradição 
De um clube tantas vezes campeão.
Pelos teus rivais, temido; 
Pela tua FIEL, querido.

Ser corinthiano é ir além
De ser ou não ser o primeiro. 
Ser corinthiano é ser também 
Um pouco mais brasileiro.

Hoje é o dia que começaremos a lutar por nossa terceira Libertação (1977, 1990, 2012)

Hoje é o dia que começaremos a lutar por nossa terceira Libertação (1977, 1990, 2012). Ansiedade total...

VAI CORINTHIANS

COMO Diria Gilberto Gil: "O axé está com a fiel, Mas de repente o ano é santo, a gente tá no céu, O time é forte, a sorte é grande, o axé tá com a Fiel"

Ser corintiano é decidir
Que todo ano a gente vai sofrer
Se enrolar no pano da bandeira
E reclamar se o time não vencer

Mas de repente o ano é santo, a gente tá no céu
O time é forte, a sorte é grande, o axé tá com a Fiel
O axé tá com a Fiel
Voa suave o gavião
O axé tá com a Fiel
Bate na trave o coração

Ser corintiano é mergulhar
No oceano da ilusão que afoga
Não importa o plano do destino
Cada jogo é o coração que joga

Bate na trave a ilusão da gente, vai que vai
Chuta de novo que o coração entra e o grito sai:
É gol! 
Corintiá 
É gol! 
Corintimão
http://www.youtube.com/watch?v=ulCfg5PWxpI

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Feliz aniversário, sir Paul

They say it's your birthday
We're gonna have a good time
I'm glad it's your birthday
Happy birthday to youBridge

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Calor Matinal
Ela lê um bom livro
Como é bela

Somos todos americanos


Somos todos americanos
do norte ao sul do nosso país
Somos todos americanos
não só aqueles que uniram estados
Somos todos americanos
Dos Andes, do Caribe e do Amazonas
Somos todos americanos
mineiros ou venezuelanos
Somos todos americanos
argentinos e brasileiros
Somos todos americanos
Da Patagônia ao Alaska
Somos todos americanos
Não só quem nasceu no norte
Somos todos americanos
Quase todos filhos bastardos
Somos todos americanos
Da nossa mãe Ibéria
Somos todos americanos
Não apenas eles
Somos todos americanos
de belezas e culturas múltiplas
Somos todos americanos
Não só o estadunidense
Somos todos americanos
Todos americanos

Es Muβ sein!


Es Muβ sein!
É o preço caro de sonhar
Es Muβ sein!
E a dor de existir
Es Muβ sein!
Pior que existir é saber
Es Muβ sein!
Como dói estar aqui
Es Muβ sein!
Essa emoção que senti
Es Muβ sein!
Ser o que quer ser
Es Muβ sein!
Não foi escolha minha
Es Muβ sein!
Sou somente quem sou
Es Muβ sein!
Pensar e agir eu quero
Es Muβ sein!
Não existe o acaso
Es Muβ sein!
Esse papel aqui
Es Muβ sein!
Tamanho de dor de existir
Es Muβ sein!
A insustentável leveza do ser
Es Muβ sein!
O insustentável peso de não ter
Es Muβ sein!
O peso da paixão
Es Muβ sein!
Lutar contra o sistema
Es Muβ sein!
Sistema que não me quer
Es Muβ sein!
A dor de ser marginal
Es Muβ sein!
O exagero da contradição
Es Muβ sein!
O Doce e o amargo
Es Muβ sein!
Da sensível expressão
Es Muβ sein!
Saber quem você é
Es Muβ sein!
Saber aonde quer ir
Es Muβ sein!
Saber aonde pode chegar
Es Muβ sein!
Vou ser quem eu sou
Es Muβ sein!
Ser quem eu sou
Es Muβ sein!
Eu não me escolhi
Es Muβ sein!
Simplesmente eu sou
Es Muβ sein!
E isso nenhum acaso mudará!
Es Muβ sein!
Tem que ser assim
Es Muβ sein!
Tem que ser assim
Tem que ser assim...


terça-feira, 1 de maio de 2012

Ode a Segunda-feira

Vamos todos sair
ou até vamos ficar
Estamos a te amar
Ó segunda-feira
chuvosa e fria
ou quente e seca
Segunda, irmã realista
do cansado Domingo
e da conformada terça
Segunda de todos
que podem dizer
Segunda nossa
Um brinde e um salve
para todos os garçons, cabeleiros, artistas, putas
e muitos outros
A segunda é nosso dia
A segunda nossa alegria
A alegria de estar livre
para te dizer:
te amo Segunda-feira
Companheira segunda
da alegria primeira

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Passarim

Passarim nasce livre
Passarim não quer gaiola
Passarim tem que voar
Passarim não pode temer
Passarim não voa só
Eu quero te levar
aonde o vento soprar
Eu vou voar ao seu lado
Aonde o vento soprar
Eu te quero, voa!
Aonde o azul desaparece
E o vento gélido esconde
Te quero aquecer
Eu quero você, você
Livres, juntos, livres

terça-feira, 24 de abril de 2012

Compasso 24 - Trecho descartado do livro final

mais uma briga
cheia de tristezas
mais um dor
lotada de dúvidas

Para que erguer sonhos
se tudo desmorona
Para que juras de amor
Se nenhuma te emociona

Como posso amar
Se você não acredita
Com que armas lutar
contra sua indiferença maldita

Não importa o quanto eu diga
Não importa se eu te amo
Não haverá como te convencer
a me acompanhar até morrer

Não consigo para de chorar
Ao pensar nas suas palavras
O que eu faço te acreditar
com mil e uma lavras

Só me resta o violão
aquele que me aceita
que entende minha paixão
Aquele que só aceita

Só me resta a canção
em suas cadências perfeitas
para acalmar o coração
os sons de suas notas

Sim, novamente a música
conforta, acalma e explica
A ânsia de um coração
buscando equilibrar sua emoção

Meu companheiro eterno
Me entende e corresponde
Faz o certo quando acerto
Meu gerador de sons, o violão.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Os limites do lulismo

Há alguns anos, o cientista político André Singer cunhou o termo "lulismo" para dar conta do modelo político-econômico implementado no Brasil desde o início do século 21.

Baseado em uma dinâmica de aumento do poder aquisitivo das camadas mais baixas da população por meio do aumento real do salário mínimo, de programas de transferência de renda e de facilidades de crédito para consumo, o lulismo conseguiu criar o fenômeno da "nova classe média".

No plano político, esse aumento do poder aquisitivo da base da pirâmide social foi realizado apoiando-se na constituição de grandes alianças ideologicamente heteróclitas, sob a promessa de que todos ganhariam com os dividendos eleitorais da ascensão social de parcelas expressivas da população.

O resultado foi uma política de baixa capacidade de reforma estrutural e de perpetuação dos impasses políticos do presidencialismo de coalizão brasileiro.
No entanto é bem possível que estejamos no momento de compreensão dos limites do modelo gestado no governo anterior. O aumento exponencial do endividamento das famílias demonstra como elas, atualmente, não têm renda suficiente para dar conta das novas exigências que a ascensão social coloca na mesa.

É fato que o país precisa de uma nova repactuação salarial. As remunerações são, em média, radicalmente baixas e corroídas por gastos que poderiam ser bancados pelo Estado. Por isso, é possível dizer que a próxima etapa do desenvolvimento nacional passe pela recuperação dos salários.
A melhor maneira de fazer isso é por meio de uma certa ação do Estado. Uma família que recebe R$ 3.500 mensais gasta praticamente um terço de sua renda só com educação privada e planos de saúde. Normalmente, tais serviços são de baixa qualidade. Caso fossem fornecidos pelo Estado, tais famílias teriam um ganho de renda que isenção alguma de imposto seria capaz de proporcionar.

Entretanto a universalização de uma escola pública de qualidade e de um serviço de saúde que realmente funcione não pode ser feita sob a dinâmica do lulismo, pois ela exige investimentos estatais só possíveis pela taxação pesada sobre fortunas, lucros bancários e renda da classe alta. Ou seja, isso exige um aumento de impostos sobre aqueles que vivem de maneira nababesca e que têm lucros milionários no sistema financeiro.

Algo dessa natureza exige, por sua vez, uma mobilização política que está fora do quadro de consensos do lulismo.Porém a força política que poderia pressionar essa nova dinâmica ainda não existe no Brasil. Ela pede uma esquerda que não tenha medo de dizer seu nome.

Fonte: http://sergyovitro.blogspot.com.br/2012/04/vladimir-safatle-os-limites-do-lulismo.html

Só discordo de um ponto de vista: o lulismo nasceu da vontade da população em ter um líder carismático e moderado, daí as "grandes alianças ideologicamente heteróclitas", o pt rasgou quase todo seu programa para chegar no poder justamente pq a população não aceita mudanças mais aprofundadas. O caso mais bizarro é que a maior resistência ao governo lula foi justamente dessa classe media ascendente. Vi muito cara comprando casa, comprando carro, botando filho na faculdade e falando que o país está uma merda. Criou-se através de políticas públicas um liberalismo parecido com o estadunidense (eu (indíviduo) to bem, foda-se o resto do mundo). Me lembra da frase do Trotsky: Todas as revoluções são impossíveis até que elas se tornem inevitáveis"

Concordo integralmente com o restante da análise dele, apesar de ainda não ver con juntura para tal. As pessoas não reclamam de saúde, educação e corrupção, reclamam de pagar impostos altos. Ou seja, tudo pode estar uma merda desde que eu não pague. Na Europa tem cargas tributárias que chegam a 90% da renda do individuo e ninguém reclama do imposto, pois tem os serviços que necessitam em troca, por exemplo: educação, transporte e saúde públicas, universais e de qualidade. Aqui as pessoas preferem comprar um carro, pagar uma escola privada e um plano de saúde e reclamar da carga tributária. Mudando essa conjuntura o último paragrafo se aplica integralmente. Só mudando os indivíduos que formamos um coletivo mais forte. O pt não é mais esse partido e pior não temos nenhum outro movimento de força com essa intenção, mesmo o Psol ainda está impregnado de discursos soviéticos fora da realidade contemporânea.

sábado, 31 de março de 2012

Quando se quer entrar Num buraco de rato De rato você tem que transar

Raul Seixas passou a vida e a sua obra defendendo seus ideias místicos, filosóficos e políticos. Ele acreditava que a simplificação da linguagem era o suficiente para as pessoas entenderem o que ele queria dizer, o que quase nunca ocorria. Dotado de grande erudição fez músicas baseados em Hemingway (Por quem os sinos dobram, livro de mesmo título), Heráclito (Metamorfose Ambulante), Bhagavad Guitâ (Guita), Aleister Crowley e misticismo/ocultismo em geral (Loteria da babilônia, Sociedade Alternativa, Trem das sete e muitas outras, esse sem sombra de dúvidas é o tema que mais se repete na obra do Raulzito) entre muitos outros temas bastante intelectualizados e complexos sempre em uma linguagem inteligível para a faxineira e/ou o presidente.

Defensor do anarquismo, ou seja, um sistema onde as pessoas sejam livres e não haja governo (anarquia significa em grego não governo) suas músicas e atitudes sempre defenderam esse ponto de vista. No começo dos anos 1980's ele recebe uma proposta da TV Globo para fazer a trilha de um programa infantil que se chamaria Pluct Plact Zum. Ele aceitou e fez a música que virou um dos seus grandes sucessos. Seus "fãs" e críticos massacraram-no brutalmente por ter feito essa trilha, pois a Globo da época era uma espécie de orgão oficial da Ditadura e da extrema direita católica reacionária, que manipulava as notícias de acordo com os interesses dos militares que estavam no poder há quase 20 anos então. Foi chamado de traidor pra baixo, mas o que ninguém entendeu ou quis entender ou prestou atenção era na letra da música infantil dentro do orgão de comunicação da extrema direita brasileira. A letra tinha enxertos de um famoso discurso de Pierre Proudhon, filósofo e militante anarquista francês do século XIX, um dos maiores pensadores e difusores do anarquismo. Ou seja, Raul levou muito a sério o que já havia dito na música "As aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor": "Quando se quer entrar / Num buraco de rato / De rato você tem que transar". Leiam o discurso de Proudhon e vejam o clipe do programa Pluct Plact Zum com a música "Carimbador Maluco" e reflitam:

Ser governado - Joseph Prudhon
Ser Governado

Ser governado é ser guardado à vista, inspecionado, espionado, dirigido, legislado, regulamentado, identificado, doutrinado, aconselhado, controlado, avaliado, pesado, censurado, comandado por outros que não têm nem o título nem a ciência, nem a virtude...
Ser governado, é ser, a cada operação, a cada transação, a cada movimento, anotado, registrado, recenseado, tarifado, selado, tosado, avaliado, cotizado, patenteado, licenciado, autorizado, apostilado, administrado, impedido, reformado, endereçado, corrigido. É, sob pretexto de utilidade pública, e sob o nome do interesse geral, ser posto à contribuição, exercido, extorquido, explorado, monopolizado, pressionado, mistificado, roubado; depois, ao menor resmungo, à primeira palavra de reclamação, reprimido, multado, enforcado, hospitalizado, espancado, desarmado, garroteado, aprisionado, fuzilado, metralhado, julgado, condenado, deportado, sacrificado, vendido, traído, e por cúmulo, jogado, ludibriado, ultrajado, desonrado.
Este é o governo, esta é a sua justiça, esta é sua moral! E quem são entre nós os democratas que pretendem que o governo tem de bom; os socialistas que sustentam, em nome da liberdade, da igualdade e da fraternidade, esta infâmia; os proletários que colocam a sua candidatura para à presidência da república!

Por Pierre Joseph Proudhon (em "Idée générale de la révolution au XIXe siècle").



sexta-feira, 23 de março de 2012

II Sarau da Associação de Moradores da Vila Rica na sexta, 24 de Fevereiro às 19:00



Chegamos ao segundo sarau da Associação e esse mês o tema é Raul Seixas, pode trazer outras coisas mas aproveitaremos o ensejo do documentário sobre o maluco Beleza para louvar sua obra já eternizada, pois como já diria Raul e seu ídolo Crowley:

Se eu quero e você quer
Tomar banho de chapéu
Ou esperar Papai Noel
Ou discutir Carlos Gardel
Então vá!
Faz o que tu queres
Pois é tudo
Da Lei! Da Lei!

"-Faz o que tu queres
Há de ser tudo da Lei"

"-Todo homem, toda mulher
É uma estrêla"

quarta-feira, 7 de março de 2012

Hoje tem Corinthians, pena que para poucos

O time do povo com uma administração elitista e corrupta. A ironia é que o primeiro clube popular e oriundo da várzea a disputar a liga da elite e vencer (Paulista de 1914) é o carro chefe desse processo de reelitização do futebol. Me deixa triste imaginar o que sentiriam Miguel Battaglia (barbeiro), Joaquim Perrone (sapateiro), Joaquim Ambrósio , Antônio Pereira e César Nunes (pintores de casa); Anselmo Correia (motorista); Alexandre Magnani (fundidor), Salvador Lopomo (macarroneiro), o João da Silva (trabalhador braçal) e o Antônio Nunes (alfaiate) ao ver o clube anarquista, popular e cooperativo que fundaram hoje cobra um salário mínimo para que o "povo" possa apoiá-lo

R$ 500,00 para ver um jogo de futebol e usar banheiro químico? Na hora de manchar nossa história com suas negociatas inescrupulosas com CBF, Globo e Fifa não pensam duas vezes... Vocês tratam nosso amor como negócio pura e simplesmente... A história reservará o lugar de vocês, Gobbi, Sanchez, Rosemberg, Dualib (pai da quadrlha), Curi, Kia e afins já que nossa Justiça finge que não vê que vocês fazem e nossa massa é facilmente comprada com meia dúzia de troféus e com um estádio que 98% jamais poderão entrar. Pois com banheiro químico, cadeira de plástico e tudo mais é R$ 500,00, imagina essa mansão de luxo que a Fifa exigiu? Que a história reserve a vocês o mesmo lugar cativo que Hittler tem no Schälke 04...

São Jorge, a justiça entrego em suas mãos pois os homens são facilmente comprados e calados...

domingo, 4 de março de 2012

Ele, sentado na terceira fila

Voltando agora do show do Toquinho no Ceu Formosa. Absolutamente sensacional. O cara consegue tocar Bach, Luiz Gonzaga, Dolores Duran, Adoniram e é claro, o vasto repertório composicional dele com a mesma precisão e estilística. Boas lembranças, boas sensações, excelentes emoções. Toca muito e me trouxe boas lembranças, um dos momentos mais emblemáticos da minha vida foi num show do Toquinho há já longínquos 16 anos. Me inspirou um soneto que como estava no meio da récita não pude anotar. Abaixo segue o que lembrei dele, já prejudicado pelo não registro na hora da inspiração, mas serve para registrar aquele momento, sempre único:

Ele, sentado na terceira fila
lembrou a cada canção
de velhas e novas vidas
a cada som, uma nova emoção

Esperando cada dia
uma nova paisagem ali
sentado sabendo que podia
viver uma nova velha vida assim

Boas imagens do passado
e as sensações do presente
O faz acreditar no futuro

Cada lembrança escorre
uma nova lágrima, feliz
da vida que só ele pode.

2/3/2012 às 22h50min aproximadamente

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

INTERTEXTO

Não sou homossexual, não sou negro, não sou favelado, não dependo de programa de renda mínima, não sou ateu, apenas concordo com tudo que Brecht já havia dito há 80 anos, pois o mundo (em especial o Brasil) caminha para um lugar que muito me assusta onde as pessoas se acham superiores as outras e ainda por cima se acham no direito de impor sua religiosidade, ideologia ou opinião. Sempre defenderei a igualdade de direitos e deveres. Sempre acreditarei num mundo melhor, apesar do esforço dessas pessoas em me fazer pensar o contrário. Por um mundo LIVRE, ONDE TODAS AS INDIVIDUALIDADES SERÃO R E S P E I T A D A S :


Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

I Sarau da Associação de Moradores da Vila Rica na sexta, 24 de Fevereiro às 19:00


Caros amigos,

Nessa sexta se realizará o primeiro sarau da Associação de Moradores da Vila Rica (Rua João batista de Lima, 47 - próximo à EMEF Roquette Pinto). Venha, participe, traga sua música, sua poesia, sua performance, enfim sua arte ou apenas venha assistir os artistas da região se expressarem...

Até lá, gostaria muito de te ver lá...

I Sarau da Associação de Moradores da Vila Rica
sexta, 24 de Fevereiro às 19:00

Toda última sexta do mês, na Associação,nos encontraremos para nos expressar, cantar, recitar, interpretar, reler a vida com muita arte e diversão. Traga sua música, sua poesia, sua perfoemnce, sua arte efim e se expresse



Esse será o primeiro de muitos

"Um olho vê, o outro sente" (Paul Klee)

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Olhar aquele
Que tanto chovia
Sempre tristesse
ESSE POEMA PARTICIPOU DA EXPOSIÇÃO "HOMENS APAIXONADOS" em suas 5a e 6a. edição (9º SALIMP - Salão do Livro de Imperatriz-MA em Junho/2011 e no CDC Tide Setubal em Outubro de 2011)

Nanda que nana
e que emana
chama e exclama
Insana a mente sana
na demente demanda
da luta estranha
da vitória que ama
a mente humana
do espírito, me chama
por favor me ama
Nanda, sufixo de Fernanda
que te clamo, me chama
insana a mente que me sana.


(originalmente escrito em 16/06/2003 às 9h17min)
ESSE POEMA PARTICIPOU DA EXPOSIÇÃO "HOMENS APAIXONADOS" em suas 5a e 6a. edição (9º SALIMP - Salão do Livro de Imperatriz-MA em Junho/2011 e no CDC Tide Setubal em Outubro de 2011)

Linda pele clara
jeitosa e delicada
meigo sorriso
de uma alegria gostosa

Troca seu olhar
com meus negros
tristes olhos
timidamente a te cortejar

Belo presente de Apolo
já seguiu seu rumo
já não vejo mais
com seus belos olhos azuis

Incompetente
eu sou em saber viver
Incompetente
mais uma vez sem você

Incompetente
apenas para dizer que te amo
Incompetente
eu nunca serei feliz

Mais uma vez
você se foi
Levou em sua altivez
Toda minha inspiração

Enclausurado
apenas um tímido
se escondendo
no seu medo de ser feliz

Incompetente
me perco procurando
Incompetente
você dentro de mim

Incompetente
eu não sei dizer
Incompetente
para dizer que te amo, te amo, te amo.


(escrito originalmente em 08/04/2008 às 18h48min)

sábado, 4 de fevereiro de 2012

O caso do Al-Ahly - Tristeza e reflexão

O caso do Al-Ahly - Tristeza e reflexão

Como sempre, tudo o que ocorre no âmbito da violência urbana é tratado aqui de forma rasa e superficial e sem nenhuma análise que leve ao porque das grandes tragédias humanas e sim a exploração da violência para atingir índices de audiência, de acesso ou cópias, ou seja, dinheiro.

Essa semana o mundo viu uma daquelas tragédias que últimas três décadas do século passado se costumou a ver na Europa e dezenas de mortos numa briga de torcida como no fatídico Liverpool x Juventus na Taça (atual Liga) dos Campeões da Europa onde morreram dezenas de pessoas ou um jogo do Liverpool no campeonato inglês no final dos anos 1980 cuja torcida morreu esmagada no alambrado após o estouro de uma bomba. A partir desse fato, a Inglaterra passou a numerar os lugares e a abolir os alambrados dos estádios, ou seja, foi a primeira atitude (não uma consequência, como se divulga por aqui) foi tratar as pessoas como gente e não como animais perigosos, que não se enquadrou (continuou violento sem o estímulo do desrespeito) foi punido individualmente. Infelizmente na Inglaterra esse foi o pano de fundo para a demonização do hooliganismo e o nascimento do hoje chamado futebol moderno (eu chamaria de futebol financeiro) onde os valores são todos convertidos imediatamente em valores monetários e valores como ideologia, paixão, integração coletiva, inconsciente coletivo, amor são todos traduzidos em cifras milionárias. O torcedor dá lugar ao espectador que paga caro pelo seu serviço e luxo. O pobre está fora dos estádios. Tudo é dinheiro e quem não tem está fora do jogo. Nomes de times que já foram gigantes de outrora sumiram nesse novo modelo de futebol (Bahia, Leeds, Aston Vila, Fiorentina, Sampdoria, entre muitos outros pelo mundo). Novos grandes times surgem todo ano na Inglaterra, basta um mafioso russo comprar um time e passar a lavar dinheiro nele, ou seja, com a justificativa de banir a violência dos estádios, passou-se a a aceitar o dinheiro sujo roubado de milhões de europeus do leste. Vinte anos depois esse mesmo processo se consolida no Brasil também.

Essa clara consciência de classes não é compartilhada infelizmente pela massa de torcedores. Nada como uma nova taça para calar os ímpetos ideológicos de uma torcida. O dinheiro contrata os melhores jogadores e em pouco tempo passa a liderar suas ligas (a tendência é acabar os campeonatos e nascer as ligas). Como é estranho ver o Milan, aquele clube das brigadas rossoneras de resistência ao fascismo e a ditadura dos anos 1970 (sim, isso infelizmente não é uma lembrança apenas nossa não) hoje pertence (sim ele é o dono, é propriedade privada) a um mafioso italiano conhecido pela perseguição implacável aos oposicionistas e pelo incontável números de ações que responde na justiça e que com seu poder, impede-os de prosseguir, apesar da variedade que vai de lavagem de dinheiro, peculato, sonegação, homicídios, perseguições e até exploração sexual, esse último que o derrubou do poder na Itália (sim, ele é a mistura de Sarney com Maluf deles e é sempre reeleito e só agora largou o osso após uma nova saraivada de denúncias contra o Berlusconi). Ou pior ainda, ver o torcedor do Corinthians se gabar que tem o maior faturamento, o maior patrocínio, os maiores salários, as maiores cotas de televisão, ou seja, o clube que tem no seu estatuto e na sua frase de fundação o dever de ser “do povo para o povo”, hoje convenceu seus fãs de que isso também é mensurável e traduzido em dinheiro. O dinheiro manda, os ideais pouco a pouco morrem. Ou assim eles querem, por bem ou por mal.

O futebol sempre foi o que foi não apenas pelo esporte em si, mas todo o entorno que ele o gera. Sempre agregou multidões e as elites que haviam criado ele no entorno da muralhas da acadêmia teve que se render a popularização do mesmo e profissionalizá-lo nos anos 1920 e 1930 no mundo todo (permitindo que o pobre, sem meios de produção pudesse jogar o esporte, vendendo dua força de trabalho exclusivamente ao futebol). Antes, havia uma assumida divisão de classes e raciais. Quem não fosse da raça e da classe dominante não jogava as ligas principais e surge a várzea. Os pobres passam a jogar nos campos de várzea dos grandes rios (Tietê, Reno, Tâmisa, etc). Os times de várzea foram incomodando e todos tiveram que aceitar a presença de pobres nos times e de times feitos por operários que se demonstravam, cada vez mais fortes. O Corinthians, quando aceito na liga principal de São Paulo, no segundo ano foi campeão invicto. O Corinthians e o Vasco, foram no Brasil os primeiros times a aceitarem negros em seus quadros. Essa consciência ideológica e de classe sempre foi uma característica das agremiações de futebol. Ainda hoje temos times como o Zenith (de extrema direita que em 2012 ainda não aceita negros no time), o Livorno (time da segunda divisão da Itália, de extrema esquerda, comunista até no estatuto), Saint Pauli (time da segunda divisão alemã, também de esquerda que só aceita operários alemães), a Lazio (torcida fascista que se saúda até hoje com a saudação de Mussolini, confesso torcedor do clube), o Barcelona (que se mantém num sistema de cooperativa que gere um banco, esse banco sustenta o clube que tem como padrão até o esquema tático do time. Até poucos anos o estatuto do time catalão proibia patrocínios em seu uniforme. Sempre foi o foco da resistência da cultura catalã contra as imposições de Madrid e foi base da resistência anti-Franco. Hoje por ironia é a base da seleção espanhola atual campeã do mundo), o Atheltic Bilbao (só aceita jogadores bascos), o Schälke 04 (é o time do povo da Alemanha, dono da maior torcida, não ganha o título nacional há 50 anos. Tem na sua história a mancha de ter sido o time “oficial” do nazismo, que por “coincidência” foi eneacampeão alemão durante o Terceiro Reich), o Chivas (time de maior torcida no México (provavelmente a maior do mundo), por causa do discurso nacionalista e só aceitar jogadores mexicanos) e também o Al Alhy (motivo desse artigo, time nacionalista egípcio (a tradução do nome seria “O Nacionalista”) e foi sempre um agitador político com sua gigante torcida e participou ativamente dos momentos políticos mais conturbados da história recente egípcia como sua declaração de independência e as guerras contra Israel, nessas chegando ao ponto de militarizar seus funcionários e literalmente transformar o clube em um regimento. Sua torcida organizada foi o principal agente multiplicador da Revolução da Praça Tahir, ano passado que ficou internacionalmente conhecida pelas redes sociais Facebook e Twitter.(voltaremos nisso mais a frente, afinal é o gatilho desse artigo)) ou o já citado Corinthians (que tem um histórico recente de grandes conquistas (últimos 22 anos), mas um largo histórico de representação social, de minerva da população sofrida, aquele que é o modelo para aquele que tem que lutar para viver e graças a isso, teve seu maior crescimento durante o período sem títulos (1955 a 1977) e sempre se posicionou pelo lado popular, em especial pela Democracia Corinthiana, movimento onde o clube decidia tudo pelo voto direto e flexibilizou as relações internas, tudo isso dentro da Ditadura Militar) e possui a maior torcida organizada do país que possui diversas relações com movimentos sociais que também possui um claro estatuto de esquerda.

As torcidas organizadas (Brasil), os barra-bravas (América Latina), ultras (Europa e norte da África) e hooligans (países britânicos) se diferenciam pelos seus modos de torcer e se organizar, mas geralmente possuem clara orientação ideológica, geralmente extremista e que devido as rivalidades e brigas de torcida aprendem (criam know-how) a se organizar em conflitos coletivos e em especial, com as polícias. Os conflitos entre torcidas são ocasionados de duas formas: um primeiro conflito pequeno que tem efeito bola de neve, pois ninguém aceita apanhar por último ou uma raiz ideológica tão ou até mais forte que a rivalidade esportiva em si. Passa a ser um conflito por territórios urbanos e ideais de transformação da sociedade que geralmente se chocam (conflitos muito violentos correm em jogos do Milan ou Livorno contra a Lazio, nas divisões inferiores da Inglaterra, entre Celtics e Rangers (divergência religiosa), Saint Pauli x Bayern Munique (divergência de classes). No Brasil acontece conflitos entre torcidas, em especial as organizadas geralmente por uma rivalidade histórica entre os clubes ou pelo efeito bola de neve já descrito, como ocorre por exemplo entre Corinthians e Vasco, dois times de tradições similares mas que tem encontros muito violentos entre seus seguidores, quase sempre com alguém morrendo). Uma grande diferença do Brasil em relação ao restante do mundo são o tamanho das organizações de torcedores. Uma “ultra” dificilmente passa de 500 torcedores enquanto uma grande torcida organizada brasileira dificilmente tem menos de dezenas de milhares de associados. Não há controle e geralmente a formação ideológica fica negligenciada e o individuo aprende na “pista” a ideologia que geralmente se torna “violência por violência”, com pouca ou quase nenhuma consciência ideológica ou do porque está agredindo aquela outra pessoa. Vejo esforços contra isso em diversas torcidas organizadas que apresentam pautas ideológicas bem definidas, palestras e seminários, mas não conseguem passar isso para sua base, invariavelmente bem alienada. Em alguns casos nem de futebol direito essa base entende, quiçá sociologia e política. As lideranças dessas organizações participam de movimentos sociais, partidários, passeatas, levam faixas e bandeiras com mensagens políticas ao estádio, mas sempre fica restrito ao núcleo pensante dos coletivos.

Como no caso dos ultras e dos hooligans a distância entre a liderança e base é bem menor e a seleção é mais rígida (geralmente o cara passa dias, até meses convivendo diariamente com a estrutura do coletivo e só entra realmente se concordar com tudo que aquele coletivo defende). Isso cria uma unidade ideológica muito maior e consequentemente uma participação realmente mais ativa nos movimentos sociais e políticos de seu país. Isso também leva a um endurecimento e a uma intolerância maior. Os conflitos de torcida na Europa são realmente muito violentos, apesar de maioria dos casos os países possuírem bons programas e aparelhos de repressão à violência. As elites de todo o mundo sabem da força dessas organizações, da disciplina, do conhecimento de guerrilha urbana e suas unidades ideológicas. A estrutura da Gaviões da Fiel, por exemplo, foi pensada como um partido político, isso em pleno auge da ditadura militar brasileira. Rapidamente esse modelo se espalhou no Brasil. Agora eles querem o futebol de volta para eles e ao invés de proibições como no começo do século passado usam a tática oposta, o liberalismo econômico, transformando o futebol numa selva financeira onde os mais fortes (leia-se mais ricos) devoram os mais fracos (leia-se mais pobres) e transformou o jogo em um espetáculo de entretenimento para a classe media e alta e num programa de televisão (que decide até a hora do evento) para o restante da população. Acabou as gerais, as arquibancadas aos poucos estão acabando e já custam preços de cadeiras. Porque isso? Porque eles sabem o poder que o futebol tem no coração, na alma e nos ideais do povo.

Agora voltemos a nossa semana atual. Voltemos ao Egito. País que faz parte dos nossos imaginários por causa de um povo que nem existe mais que construiu obras que a nossa engenharia ainda não consegue explicar. Posteriormente esse estado passou por múltiplas invasões (romanos, otomanos, ingleses, fez parte do império islâmico, etc). Se tornou um país de maioria árabe e assumiu a estrutura do império islâmico após a independência em 1922, se tornou uma república (anos 1950), porém, como no Brasil, a proclamação da República egípcia foi um golpe para as elites religiosas e políticas se perpetuarem no poder. Um ditador genocida se perpetuou por décadas no poder (Mubarak). A população se revolta e resolve tirá-lo do poder usando novos meios de comunicação (redes sociais) e velhas táticas de manifestação, leia-se ocupar as ruas (mais especificamente a Praça Tahir no centro da capital Cairo) e protestar. Claro que um ditador com décadas no poder não ia “largar o osso” tão fácil e reprime o movimento com muita violência (muitos mortos, prisões, ataques com armas letais, etc). Aquele povo seria facilmente dizimado se não fosse (em grande parte) a colaboração de um dos grupos líderes do protesto, a AFC Ultras, a ultra do Al-ahly que ensinou táticas de guerrilha urbana aos manifestantes e organizou os confrontos com a polícia e o exército com linhas de frente e retaguardas usando seu know-how de brigas com a polícia. A resistência daqueles protestos fez com que o governo ordenasse um endurecimento (ou seja, agir com muito mais violência). A polícia se recusou e passou a apoiar o movimento. Logo o ditador cai e uma junta militar (aqueles mesmos que estavam atacando a a população) assumem o poder.

Para não perder o costume, a sempre classista grande mídia não divulgou a participação dos ultras nesse momento histórico. Mas a elite militar egípcia pode esconder, mas não esquecer. Essa semana durante uma invasão de campo aparentemente pacífica devido a vitória do Al-Mashr por 3x1 no Ahly após um longo período de “fila” virou um genocídio contra a torcida dos nacionalistas e bem na frente das inertes forças de segurança e com o estádio com os portões trancados por cadeados. A maioria das pessoas morreram esfaqueadas e pisoteadas tentando fugir daquele massacre. A aparente banalidade (porque começar a briga ao invadir o campo para comemorar uma histórica vitória por uma torcida que nem é tão conhecida pela violência) e a “ausência” de ação da polícia (cadeado trancado, nenhuma tentativa de dispersão da confusão e pouquíssimas prisões). Sim, aparentemente foi uma emboscada de vingança da elite governante egípcia (o governador local logo renunciou) que viu seu ataque sair pela culatra. Já que a população egípcia não esqueceu o ano passado e não é burra. Entendeu o recado, mas reagiu diferente do esperado. Gigantes protestos voltaram a ocupar a praça Tahir. Aumentou a pressão pelo fim da junta militar e por eleições para presidente. As torcidas de outros times menos politizados entraram nas manifestações (inclusive a própria torcida do Mashr). Já houve mais mortes.

Fica a tristeza pela falta de ética dos governantes egípcios e pela morte de dezenas de pessoas por pura vingança. Fica também a tristeza pela redução disso a uma “mera” briga de torcidas. Mas por outro lado, renasce a esperança de o futebol não se tornar mais um negócio de entretenimento e continuar sendo uma arte que aglomera e emociona bilhões de pessoas no mundo e pode (e deve) mudar os rumos da história. Descansem em paz, bravos guerreiros porque sua luta, que se depender de nós, nunca se acabará... Tahir é aqui...