domingo, 29 de agosto de 2010

Corinthians - uma paixão, uma multidão, um coração

Ao contrário de todos os textos que vão ser escritos essa semana, não vou contar a história dos últimos cem anos. Não vou falar de cinco operários de formação anarquista que fundaram um clube democrático que tinha como ideologia não excluir ninguém, que iria ser, nas palavras de fundação "um time que veio do povo e o povo que iria fazer esse time", onde até a primeira bola foi comprada comunitariamente no Bom Retiro. Também não vou falar do time imbátivel nos três anos de várzea, que levava milhares de pessoas onde fosse jogar, o primeiro clube popular a ganhar um jogo na liga, que era formada por membros da burguesia paulistana que não aceitavam a popularidade do time. Das taças conquistadas, dos tri-campeonatos paulistas, de Neco, de Luizinho, das taças dos centenários, da fila, que justamente nesse momento se tornou a nação que é hoje e cravou sua alcunha, a de fiel torcida. Do título da libertação, de Rivelino, de Socrátes, da democracia corinthiana, dos títulos dos anos 90 e 2000, nada disso eu vou falar, até porque quase todos os meios de comunicação estão falando disso. Vou contar a história dos últimos 28 anos do time pelo ponto de vista de um único torcedor.

Quando nasci, nos fins de 1981, estava se começando a se formar a Democracia Corinthiana, que garantiu o bi-campeonato paulista e mostrou para a população o que era democracia, sendo que o pais estava há 17 anos em uma ditatura militar violenta e opressora. Na verdade me revelei corinthiano em 1987, aos cinco anos, quando numaa sala cheia de tios, primos, pai, irmão, todos de verde, assistindo ao jogo entre o time de branco e preto e o time de verde, sai gol do alvinegro e comemoro e corro... Estava revelado ao mundo minha essência, muito antes que eu conseguisse perceber isso. Minha paixão era tão intensa que até minha família teve que aceitar, sim eu era a "ovelha alvinegra da família". Assistia todos os jogos na TV, ouvia todos os jogos no rádio, pesquisava nos jornais, assistia jogos antigos no "Grandes Momentos do Esporte" da Tv Cultura. Quando jogava bola, gordinho que era, metia a mão na cintura e (se) fazia o gol, deslizava no chão de joelhos, gritando "goooooooooooooool do Neto". No gol, era as lindas pontes seguidas de "Espaaaaaaaaaaaaaaalmma Rooonaaldoooo". Até hoje, a única pessoa na minha vida que eu pedi autográfo foi o Neto, mandava cartas, sempre respondidas com uma foto. Comemorei a cusparada contra aquele juiz porco como se fosse um gol. Chorei copiosamente a derrota para os porcos em 1993. Mas esse campeonato que eu tenho a melhor lembrança da minha vida torcedora, pois meu pai, mesmo sendo porco, me levou no Pacaembu para ver Corinthians x Juventus, um jogo comum de meio de campeonato com 44mil pessoas no estádio... Todo aquele clima, as bandeiras (centenas) de mastro da Camisa 12 que na época ficava onde hoje é as cadeiras laranjas, as bandeiras de mastro e o bandeirão da Gaviões, na curva, essa que não parava de cantar sem parar, as dezenas de faixas de bairros (fiel são matheus, fiel sapopemba, fiel vila formosa, só para ficar na região onde eu moro), as torcidas todas (Macabra, Beco, Chopp, Pavilhão), as olas, o "Tiiiimãoooo Êoo, Tiiiimãoooo Êoo". Ainda por cima, 3x1 (gols de Neto, Tupazinho e Viola), mas isso já era secundário, já estava encantado, agora entendia porque amava tanto aquilo, todos nós éramos um, ou melhora, uma: a Fiel.

Passei a ir no estádio sempre que podia, pedia dinheiro para meus pais para ir no shopping ou algo assim, pegava o ônibus, passava por baixo e na porta do estádio escolhia alguém com sobrenome Silva para ser meu tio, afinal era menor de 14 anos. Vi num jogo contra o Inter-RS, o time tomar um gol no começo do jogo e o estádio explodir, cantando cada vez mais alto, como se tivesse fazendo festa, apoiando sem parar. Foi aí que entendi outro princípio que levei para toda a minha vida: na hora difícil é que você tem que mostrar que ama, nas fases boas ninguém precisa de apoio, mas nas fases ruins, só quem é fiel que sabe o que é apoiar... Fui para Ribeirão Preto, Campinas, Santos (vi o gol de placa do Marcelinho no estádio), Rio de Janeiro (vi o povo ganhar o Mundial das cadeiras do Maracanã, vi a torcida vascaína calando a boca ao ver o bandeirão LHP ao som de "oooohhhoooooohh Todo Poderoso Timão", Belo Horizonte... Mas essa época era fácil, não havia uma ano que a geração de Marcelinho não trazia pelo menos uma taça para o Parque. Falava que essa (minha) geração não conhecia o corinthianismo, porque quase não sofria... Em 2004 quase caimos no Paulista e começamos o brasileiro só tomando goelada, com um time de moleques guerreiros de 1x0 em 1x0 chegamos em quinto... Mesmo assim, todo domingo era 15mil no Pacamebu, sendo mais da metade da Gaviões. Tanto me senti corinthiano com aquilo que me associei naquele ano a torcida (me lembro de uma das frases do começo da Gaviões: "O importante não é ser gavião, é ser CORINTHIANO, mas seja mais CORINTHIANO, seja um GAVIÃO").

Mas vendemos a alma ao diabo... O time do povo pegou dinheiro da mafia russa, e pior, com apoio da imensa maioria da fiel... Me sentia mal vendo as pessoas aceitarem aquilo... Mas o Mephisto voltou para cobrar e tivemos que disputar a série B. Naquele momento mostramos porque somos a fiel torcida: "Eu nunca vou te abandonar, porque eu te amo, eu sou Corinthians". Na campanha da queda, cancelei todos os ensaios da minha banda para apoiar o time, fui preso em Goiás e me tornei Fiel Torcedor acompanhado quase todos os jogos da Série B. na volta a elite, o maior goleador das Copas ainda trouxe outro Paulista invicto e outra Copa do Brasil. Conheci a Rua São Jorge, coletivo da Gaviões que tenta resgatar tudo isso que eu disse...

Hoje, o Corinthians faz 100 anos, daqui há dois meses eu faço 29 anos, que foram os mais humanos e brasileiros, por terem sido corinthianos. Estou afastadO dos estádios pelos preços cobrados e pela pouca grana que a vida de artista QUE EU ESCOLHI PARA MIM gera. Foda-se o dinheiro, AQUI É CORINTHIANS, PORRA! Hoje estou em processo de produção de uma peça contando a história do Corinthians, pelo aspecto sociológico que ele abrange, que espero estrear ainda esse ano. Sou quem eu sou, porque sou corinthiano, isso eu não tenho dúvidas e como diz uma das músicas da minha peça "Isso não é time, é religião / é o corinthianismo no meu coração"...

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