sábado, 31 de março de 2012

Quando se quer entrar Num buraco de rato De rato você tem que transar

Raul Seixas passou a vida e a sua obra defendendo seus ideias místicos, filosóficos e políticos. Ele acreditava que a simplificação da linguagem era o suficiente para as pessoas entenderem o que ele queria dizer, o que quase nunca ocorria. Dotado de grande erudição fez músicas baseados em Hemingway (Por quem os sinos dobram, livro de mesmo título), Heráclito (Metamorfose Ambulante), Bhagavad Guitâ (Guita), Aleister Crowley e misticismo/ocultismo em geral (Loteria da babilônia, Sociedade Alternativa, Trem das sete e muitas outras, esse sem sombra de dúvidas é o tema que mais se repete na obra do Raulzito) entre muitos outros temas bastante intelectualizados e complexos sempre em uma linguagem inteligível para a faxineira e/ou o presidente.

Defensor do anarquismo, ou seja, um sistema onde as pessoas sejam livres e não haja governo (anarquia significa em grego não governo) suas músicas e atitudes sempre defenderam esse ponto de vista. No começo dos anos 1980's ele recebe uma proposta da TV Globo para fazer a trilha de um programa infantil que se chamaria Pluct Plact Zum. Ele aceitou e fez a música que virou um dos seus grandes sucessos. Seus "fãs" e críticos massacraram-no brutalmente por ter feito essa trilha, pois a Globo da época era uma espécie de orgão oficial da Ditadura e da extrema direita católica reacionária, que manipulava as notícias de acordo com os interesses dos militares que estavam no poder há quase 20 anos então. Foi chamado de traidor pra baixo, mas o que ninguém entendeu ou quis entender ou prestou atenção era na letra da música infantil dentro do orgão de comunicação da extrema direita brasileira. A letra tinha enxertos de um famoso discurso de Pierre Proudhon, filósofo e militante anarquista francês do século XIX, um dos maiores pensadores e difusores do anarquismo. Ou seja, Raul levou muito a sério o que já havia dito na música "As aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor": "Quando se quer entrar / Num buraco de rato / De rato você tem que transar". Leiam o discurso de Proudhon e vejam o clipe do programa Pluct Plact Zum com a música "Carimbador Maluco" e reflitam:

Ser governado - Joseph Prudhon
Ser Governado

Ser governado é ser guardado à vista, inspecionado, espionado, dirigido, legislado, regulamentado, identificado, doutrinado, aconselhado, controlado, avaliado, pesado, censurado, comandado por outros que não têm nem o título nem a ciência, nem a virtude...
Ser governado, é ser, a cada operação, a cada transação, a cada movimento, anotado, registrado, recenseado, tarifado, selado, tosado, avaliado, cotizado, patenteado, licenciado, autorizado, apostilado, administrado, impedido, reformado, endereçado, corrigido. É, sob pretexto de utilidade pública, e sob o nome do interesse geral, ser posto à contribuição, exercido, extorquido, explorado, monopolizado, pressionado, mistificado, roubado; depois, ao menor resmungo, à primeira palavra de reclamação, reprimido, multado, enforcado, hospitalizado, espancado, desarmado, garroteado, aprisionado, fuzilado, metralhado, julgado, condenado, deportado, sacrificado, vendido, traído, e por cúmulo, jogado, ludibriado, ultrajado, desonrado.
Este é o governo, esta é a sua justiça, esta é sua moral! E quem são entre nós os democratas que pretendem que o governo tem de bom; os socialistas que sustentam, em nome da liberdade, da igualdade e da fraternidade, esta infâmia; os proletários que colocam a sua candidatura para à presidência da república!

Por Pierre Joseph Proudhon (em "Idée générale de la révolution au XIXe siècle").



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