segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

INTERTEXTO

Não sou homossexual, não sou negro, não sou favelado, não dependo de programa de renda mínima, não sou ateu, apenas concordo com tudo que Brecht já havia dito há 80 anos, pois o mundo (em especial o Brasil) caminha para um lugar que muito me assusta onde as pessoas se acham superiores as outras e ainda por cima se acham no direito de impor sua religiosidade, ideologia ou opinião. Sempre defenderei a igualdade de direitos e deveres. Sempre acreditarei num mundo melhor, apesar do esforço dessas pessoas em me fazer pensar o contrário. Por um mundo LIVRE, ONDE TODAS AS INDIVIDUALIDADES SERÃO R E S P E I T A D A S :


Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

I Sarau da Associação de Moradores da Vila Rica na sexta, 24 de Fevereiro às 19:00


Caros amigos,

Nessa sexta se realizará o primeiro sarau da Associação de Moradores da Vila Rica (Rua João batista de Lima, 47 - próximo à EMEF Roquette Pinto). Venha, participe, traga sua música, sua poesia, sua performance, enfim sua arte ou apenas venha assistir os artistas da região se expressarem...

Até lá, gostaria muito de te ver lá...

I Sarau da Associação de Moradores da Vila Rica
sexta, 24 de Fevereiro às 19:00

Toda última sexta do mês, na Associação,nos encontraremos para nos expressar, cantar, recitar, interpretar, reler a vida com muita arte e diversão. Traga sua música, sua poesia, sua perfoemnce, sua arte efim e se expresse



Esse será o primeiro de muitos

"Um olho vê, o outro sente" (Paul Klee)

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Olhar aquele
Que tanto chovia
Sempre tristesse
ESSE POEMA PARTICIPOU DA EXPOSIÇÃO "HOMENS APAIXONADOS" em suas 5a e 6a. edição (9º SALIMP - Salão do Livro de Imperatriz-MA em Junho/2011 e no CDC Tide Setubal em Outubro de 2011)

Nanda que nana
e que emana
chama e exclama
Insana a mente sana
na demente demanda
da luta estranha
da vitória que ama
a mente humana
do espírito, me chama
por favor me ama
Nanda, sufixo de Fernanda
que te clamo, me chama
insana a mente que me sana.


(originalmente escrito em 16/06/2003 às 9h17min)
ESSE POEMA PARTICIPOU DA EXPOSIÇÃO "HOMENS APAIXONADOS" em suas 5a e 6a. edição (9º SALIMP - Salão do Livro de Imperatriz-MA em Junho/2011 e no CDC Tide Setubal em Outubro de 2011)

Linda pele clara
jeitosa e delicada
meigo sorriso
de uma alegria gostosa

Troca seu olhar
com meus negros
tristes olhos
timidamente a te cortejar

Belo presente de Apolo
já seguiu seu rumo
já não vejo mais
com seus belos olhos azuis

Incompetente
eu sou em saber viver
Incompetente
mais uma vez sem você

Incompetente
apenas para dizer que te amo
Incompetente
eu nunca serei feliz

Mais uma vez
você se foi
Levou em sua altivez
Toda minha inspiração

Enclausurado
apenas um tímido
se escondendo
no seu medo de ser feliz

Incompetente
me perco procurando
Incompetente
você dentro de mim

Incompetente
eu não sei dizer
Incompetente
para dizer que te amo, te amo, te amo.


(escrito originalmente em 08/04/2008 às 18h48min)

sábado, 4 de fevereiro de 2012

O caso do Al-Ahly - Tristeza e reflexão

O caso do Al-Ahly - Tristeza e reflexão

Como sempre, tudo o que ocorre no âmbito da violência urbana é tratado aqui de forma rasa e superficial e sem nenhuma análise que leve ao porque das grandes tragédias humanas e sim a exploração da violência para atingir índices de audiência, de acesso ou cópias, ou seja, dinheiro.

Essa semana o mundo viu uma daquelas tragédias que últimas três décadas do século passado se costumou a ver na Europa e dezenas de mortos numa briga de torcida como no fatídico Liverpool x Juventus na Taça (atual Liga) dos Campeões da Europa onde morreram dezenas de pessoas ou um jogo do Liverpool no campeonato inglês no final dos anos 1980 cuja torcida morreu esmagada no alambrado após o estouro de uma bomba. A partir desse fato, a Inglaterra passou a numerar os lugares e a abolir os alambrados dos estádios, ou seja, foi a primeira atitude (não uma consequência, como se divulga por aqui) foi tratar as pessoas como gente e não como animais perigosos, que não se enquadrou (continuou violento sem o estímulo do desrespeito) foi punido individualmente. Infelizmente na Inglaterra esse foi o pano de fundo para a demonização do hooliganismo e o nascimento do hoje chamado futebol moderno (eu chamaria de futebol financeiro) onde os valores são todos convertidos imediatamente em valores monetários e valores como ideologia, paixão, integração coletiva, inconsciente coletivo, amor são todos traduzidos em cifras milionárias. O torcedor dá lugar ao espectador que paga caro pelo seu serviço e luxo. O pobre está fora dos estádios. Tudo é dinheiro e quem não tem está fora do jogo. Nomes de times que já foram gigantes de outrora sumiram nesse novo modelo de futebol (Bahia, Leeds, Aston Vila, Fiorentina, Sampdoria, entre muitos outros pelo mundo). Novos grandes times surgem todo ano na Inglaterra, basta um mafioso russo comprar um time e passar a lavar dinheiro nele, ou seja, com a justificativa de banir a violência dos estádios, passou-se a a aceitar o dinheiro sujo roubado de milhões de europeus do leste. Vinte anos depois esse mesmo processo se consolida no Brasil também.

Essa clara consciência de classes não é compartilhada infelizmente pela massa de torcedores. Nada como uma nova taça para calar os ímpetos ideológicos de uma torcida. O dinheiro contrata os melhores jogadores e em pouco tempo passa a liderar suas ligas (a tendência é acabar os campeonatos e nascer as ligas). Como é estranho ver o Milan, aquele clube das brigadas rossoneras de resistência ao fascismo e a ditadura dos anos 1970 (sim, isso infelizmente não é uma lembrança apenas nossa não) hoje pertence (sim ele é o dono, é propriedade privada) a um mafioso italiano conhecido pela perseguição implacável aos oposicionistas e pelo incontável números de ações que responde na justiça e que com seu poder, impede-os de prosseguir, apesar da variedade que vai de lavagem de dinheiro, peculato, sonegação, homicídios, perseguições e até exploração sexual, esse último que o derrubou do poder na Itália (sim, ele é a mistura de Sarney com Maluf deles e é sempre reeleito e só agora largou o osso após uma nova saraivada de denúncias contra o Berlusconi). Ou pior ainda, ver o torcedor do Corinthians se gabar que tem o maior faturamento, o maior patrocínio, os maiores salários, as maiores cotas de televisão, ou seja, o clube que tem no seu estatuto e na sua frase de fundação o dever de ser “do povo para o povo”, hoje convenceu seus fãs de que isso também é mensurável e traduzido em dinheiro. O dinheiro manda, os ideais pouco a pouco morrem. Ou assim eles querem, por bem ou por mal.

O futebol sempre foi o que foi não apenas pelo esporte em si, mas todo o entorno que ele o gera. Sempre agregou multidões e as elites que haviam criado ele no entorno da muralhas da acadêmia teve que se render a popularização do mesmo e profissionalizá-lo nos anos 1920 e 1930 no mundo todo (permitindo que o pobre, sem meios de produção pudesse jogar o esporte, vendendo dua força de trabalho exclusivamente ao futebol). Antes, havia uma assumida divisão de classes e raciais. Quem não fosse da raça e da classe dominante não jogava as ligas principais e surge a várzea. Os pobres passam a jogar nos campos de várzea dos grandes rios (Tietê, Reno, Tâmisa, etc). Os times de várzea foram incomodando e todos tiveram que aceitar a presença de pobres nos times e de times feitos por operários que se demonstravam, cada vez mais fortes. O Corinthians, quando aceito na liga principal de São Paulo, no segundo ano foi campeão invicto. O Corinthians e o Vasco, foram no Brasil os primeiros times a aceitarem negros em seus quadros. Essa consciência ideológica e de classe sempre foi uma característica das agremiações de futebol. Ainda hoje temos times como o Zenith (de extrema direita que em 2012 ainda não aceita negros no time), o Livorno (time da segunda divisão da Itália, de extrema esquerda, comunista até no estatuto), Saint Pauli (time da segunda divisão alemã, também de esquerda que só aceita operários alemães), a Lazio (torcida fascista que se saúda até hoje com a saudação de Mussolini, confesso torcedor do clube), o Barcelona (que se mantém num sistema de cooperativa que gere um banco, esse banco sustenta o clube que tem como padrão até o esquema tático do time. Até poucos anos o estatuto do time catalão proibia patrocínios em seu uniforme. Sempre foi o foco da resistência da cultura catalã contra as imposições de Madrid e foi base da resistência anti-Franco. Hoje por ironia é a base da seleção espanhola atual campeã do mundo), o Atheltic Bilbao (só aceita jogadores bascos), o Schälke 04 (é o time do povo da Alemanha, dono da maior torcida, não ganha o título nacional há 50 anos. Tem na sua história a mancha de ter sido o time “oficial” do nazismo, que por “coincidência” foi eneacampeão alemão durante o Terceiro Reich), o Chivas (time de maior torcida no México (provavelmente a maior do mundo), por causa do discurso nacionalista e só aceitar jogadores mexicanos) e também o Al Alhy (motivo desse artigo, time nacionalista egípcio (a tradução do nome seria “O Nacionalista”) e foi sempre um agitador político com sua gigante torcida e participou ativamente dos momentos políticos mais conturbados da história recente egípcia como sua declaração de independência e as guerras contra Israel, nessas chegando ao ponto de militarizar seus funcionários e literalmente transformar o clube em um regimento. Sua torcida organizada foi o principal agente multiplicador da Revolução da Praça Tahir, ano passado que ficou internacionalmente conhecida pelas redes sociais Facebook e Twitter.(voltaremos nisso mais a frente, afinal é o gatilho desse artigo)) ou o já citado Corinthians (que tem um histórico recente de grandes conquistas (últimos 22 anos), mas um largo histórico de representação social, de minerva da população sofrida, aquele que é o modelo para aquele que tem que lutar para viver e graças a isso, teve seu maior crescimento durante o período sem títulos (1955 a 1977) e sempre se posicionou pelo lado popular, em especial pela Democracia Corinthiana, movimento onde o clube decidia tudo pelo voto direto e flexibilizou as relações internas, tudo isso dentro da Ditadura Militar) e possui a maior torcida organizada do país que possui diversas relações com movimentos sociais que também possui um claro estatuto de esquerda.

As torcidas organizadas (Brasil), os barra-bravas (América Latina), ultras (Europa e norte da África) e hooligans (países britânicos) se diferenciam pelos seus modos de torcer e se organizar, mas geralmente possuem clara orientação ideológica, geralmente extremista e que devido as rivalidades e brigas de torcida aprendem (criam know-how) a se organizar em conflitos coletivos e em especial, com as polícias. Os conflitos entre torcidas são ocasionados de duas formas: um primeiro conflito pequeno que tem efeito bola de neve, pois ninguém aceita apanhar por último ou uma raiz ideológica tão ou até mais forte que a rivalidade esportiva em si. Passa a ser um conflito por territórios urbanos e ideais de transformação da sociedade que geralmente se chocam (conflitos muito violentos correm em jogos do Milan ou Livorno contra a Lazio, nas divisões inferiores da Inglaterra, entre Celtics e Rangers (divergência religiosa), Saint Pauli x Bayern Munique (divergência de classes). No Brasil acontece conflitos entre torcidas, em especial as organizadas geralmente por uma rivalidade histórica entre os clubes ou pelo efeito bola de neve já descrito, como ocorre por exemplo entre Corinthians e Vasco, dois times de tradições similares mas que tem encontros muito violentos entre seus seguidores, quase sempre com alguém morrendo). Uma grande diferença do Brasil em relação ao restante do mundo são o tamanho das organizações de torcedores. Uma “ultra” dificilmente passa de 500 torcedores enquanto uma grande torcida organizada brasileira dificilmente tem menos de dezenas de milhares de associados. Não há controle e geralmente a formação ideológica fica negligenciada e o individuo aprende na “pista” a ideologia que geralmente se torna “violência por violência”, com pouca ou quase nenhuma consciência ideológica ou do porque está agredindo aquela outra pessoa. Vejo esforços contra isso em diversas torcidas organizadas que apresentam pautas ideológicas bem definidas, palestras e seminários, mas não conseguem passar isso para sua base, invariavelmente bem alienada. Em alguns casos nem de futebol direito essa base entende, quiçá sociologia e política. As lideranças dessas organizações participam de movimentos sociais, partidários, passeatas, levam faixas e bandeiras com mensagens políticas ao estádio, mas sempre fica restrito ao núcleo pensante dos coletivos.

Como no caso dos ultras e dos hooligans a distância entre a liderança e base é bem menor e a seleção é mais rígida (geralmente o cara passa dias, até meses convivendo diariamente com a estrutura do coletivo e só entra realmente se concordar com tudo que aquele coletivo defende). Isso cria uma unidade ideológica muito maior e consequentemente uma participação realmente mais ativa nos movimentos sociais e políticos de seu país. Isso também leva a um endurecimento e a uma intolerância maior. Os conflitos de torcida na Europa são realmente muito violentos, apesar de maioria dos casos os países possuírem bons programas e aparelhos de repressão à violência. As elites de todo o mundo sabem da força dessas organizações, da disciplina, do conhecimento de guerrilha urbana e suas unidades ideológicas. A estrutura da Gaviões da Fiel, por exemplo, foi pensada como um partido político, isso em pleno auge da ditadura militar brasileira. Rapidamente esse modelo se espalhou no Brasil. Agora eles querem o futebol de volta para eles e ao invés de proibições como no começo do século passado usam a tática oposta, o liberalismo econômico, transformando o futebol numa selva financeira onde os mais fortes (leia-se mais ricos) devoram os mais fracos (leia-se mais pobres) e transformou o jogo em um espetáculo de entretenimento para a classe media e alta e num programa de televisão (que decide até a hora do evento) para o restante da população. Acabou as gerais, as arquibancadas aos poucos estão acabando e já custam preços de cadeiras. Porque isso? Porque eles sabem o poder que o futebol tem no coração, na alma e nos ideais do povo.

Agora voltemos a nossa semana atual. Voltemos ao Egito. País que faz parte dos nossos imaginários por causa de um povo que nem existe mais que construiu obras que a nossa engenharia ainda não consegue explicar. Posteriormente esse estado passou por múltiplas invasões (romanos, otomanos, ingleses, fez parte do império islâmico, etc). Se tornou um país de maioria árabe e assumiu a estrutura do império islâmico após a independência em 1922, se tornou uma república (anos 1950), porém, como no Brasil, a proclamação da República egípcia foi um golpe para as elites religiosas e políticas se perpetuarem no poder. Um ditador genocida se perpetuou por décadas no poder (Mubarak). A população se revolta e resolve tirá-lo do poder usando novos meios de comunicação (redes sociais) e velhas táticas de manifestação, leia-se ocupar as ruas (mais especificamente a Praça Tahir no centro da capital Cairo) e protestar. Claro que um ditador com décadas no poder não ia “largar o osso” tão fácil e reprime o movimento com muita violência (muitos mortos, prisões, ataques com armas letais, etc). Aquele povo seria facilmente dizimado se não fosse (em grande parte) a colaboração de um dos grupos líderes do protesto, a AFC Ultras, a ultra do Al-ahly que ensinou táticas de guerrilha urbana aos manifestantes e organizou os confrontos com a polícia e o exército com linhas de frente e retaguardas usando seu know-how de brigas com a polícia. A resistência daqueles protestos fez com que o governo ordenasse um endurecimento (ou seja, agir com muito mais violência). A polícia se recusou e passou a apoiar o movimento. Logo o ditador cai e uma junta militar (aqueles mesmos que estavam atacando a a população) assumem o poder.

Para não perder o costume, a sempre classista grande mídia não divulgou a participação dos ultras nesse momento histórico. Mas a elite militar egípcia pode esconder, mas não esquecer. Essa semana durante uma invasão de campo aparentemente pacífica devido a vitória do Al-Mashr por 3x1 no Ahly após um longo período de “fila” virou um genocídio contra a torcida dos nacionalistas e bem na frente das inertes forças de segurança e com o estádio com os portões trancados por cadeados. A maioria das pessoas morreram esfaqueadas e pisoteadas tentando fugir daquele massacre. A aparente banalidade (porque começar a briga ao invadir o campo para comemorar uma histórica vitória por uma torcida que nem é tão conhecida pela violência) e a “ausência” de ação da polícia (cadeado trancado, nenhuma tentativa de dispersão da confusão e pouquíssimas prisões). Sim, aparentemente foi uma emboscada de vingança da elite governante egípcia (o governador local logo renunciou) que viu seu ataque sair pela culatra. Já que a população egípcia não esqueceu o ano passado e não é burra. Entendeu o recado, mas reagiu diferente do esperado. Gigantes protestos voltaram a ocupar a praça Tahir. Aumentou a pressão pelo fim da junta militar e por eleições para presidente. As torcidas de outros times menos politizados entraram nas manifestações (inclusive a própria torcida do Mashr). Já houve mais mortes.

Fica a tristeza pela falta de ética dos governantes egípcios e pela morte de dezenas de pessoas por pura vingança. Fica também a tristeza pela redução disso a uma “mera” briga de torcidas. Mas por outro lado, renasce a esperança de o futebol não se tornar mais um negócio de entretenimento e continuar sendo uma arte que aglomera e emociona bilhões de pessoas no mundo e pode (e deve) mudar os rumos da história. Descansem em paz, bravos guerreiros porque sua luta, que se depender de nós, nunca se acabará... Tahir é aqui...