"Ontem
estava mais angustiado que goleiro na hora do gol" já diria
Belchior.
e fui ler para refletir ("de bucho mais cheio comecei a pensar
que me organizando posso desorganizar, que eu desorganizando posso me
organizar", obrigado Chico Science)
e refletindo sobre a confusão sobre o conceito anarquista (e algumas
aberrações como os “ancaps”) em deparo com o seguinte texto de
1922 escrito por Enrico Malatesta no
Anarquismo e Anarquia*:
"A
intolerância frente à opressão, o desejo de ser livre e de poder
desenvolver completamente a própria personalidade até o limite, não
bastam para fazer de alguém um anarquista. Esta aspiração à
liberdade ilimitada, se não for combinada com o amor pelos homens e
com o desejo de que todos os demais tenham igual liberdade, pode
chegar a criar rebeldes, que, se tiverem força suficiente, se
transformarão rapidamente em exploradores e tiranos.
Há
indivíduos fortes, inteligentes, apaixonados, com grandes
necessidades materiais ou intelectuais que, encontrando-se por acaso
entre os oprimidos, querem, a qualquer custo, emancipar-se e não se
ofendem em transformar-se em opressores: indivíduos que, sentido-se
prisioneiros na sociedade atual, chegam a desprezar e a odiar toda a
sociedade, e ao sentir que seria absurdo querer viver fora da
coletividade humana, buscam submeter todos os homens e toda a
sociedade à sua vontade e à satisfação de seus desejos. Às
vezes, quando são pessoas instruídas, consideram-se super-homens.
Não se sentem impedidos por escrúpulos, querem “viver suas
vidas”. Ridicularizam a revolução e toda aspiração futura,
desejam gozar o dia de hoje a qualquer preço, e à custa de quem
quer que seja; sacrificariam toda a humanidade por uma hora de “vida
intensa” (conforme seus próprios termos). Estes são rebeldes, mas
não anarquistas. Têm a mentalidade e os sentimentos de burgueses
frustrados e, quando conseguem, transformam-se em burgueses, e não
dos menos perigosos. Pode ocorrer algumas vezes que, nas
circunstâncias dinâmicas da luta, os encontremos ao nosso lado, mas
não podemos, não devemos e nem desejamos ser confundidos com eles.
E eles sabem muito bem disso. Contudo, muitos deles gostam de
chamar-se anarquistas. É certo - e também deplorável. Nós não
podemos impedir ninguém de se chamar do nome que quiser, nem
podemos, por outro lado, abandonar o nome que sucintamente exprime
nossas ideias e que nos pertence lógica e historicamente. O que
podemos fazer é prevenir qualquer confusão, ou para que ela se
reduza ao mínimo possível".
*célebre
anarquista italiano que cunhou a frase "Todos os poderes saíram
do povo porque é somente o povo que pode dar a força" (in "O
estado Socialista" de 1897) frase essa que serviu de inspiração
a Miguel Battaglia ao cunhar o lema de fundação do SC Corinthians
Paulista: "Esse é o time do povo e é o povo que vai fazer esse
time" em 1910. Hoje
o futebol moderno e a vontade de ganhar dinheiro (ou títulos no
futebol) tentam acabar com esse ideal mas teremos que lutar muito,
pois a liberdade de “ficar sem rico” sem o Estado atrapalhar é
um discurso sedutor e perigoso que contagia até as principais
vítimas dele como Malatesta já identificara há quase 100 anos.
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