terça-feira, 14 de outubro de 2014

EM RELAÇÃO ÀS ELEIÇÕES 2014

EM RELAÇÃO ÀS ELEIÇÕES 2014, ALGUMAS PESSOAS PEDIRAM MINHA OPINIÃO SOBRE O PLEITO E DEMOREI PARA RESPONDER POIS CONFESSO AINDA ESTAVA INDECISO, MAS O JOGO ESTÁ PASSANDO: ENTÃO RECOMENDO (SIMILARMENTE AO PSOL): VOTO NULO, BRANCO, ABSTENÇÃO OU EM DILMA ROUSSELF, MAS JÁ EM AÉCIO, NEVER! (JAMAIS, NUNCA MESMO). Vou novamente de 13, como na maioria das vezes na minha vida, mas como nas últimas vezes, sem emoção ou convicção (por convicção manteria a abstenção no segundo turno) para não deixar o pior ganhar.

Quem tiver preguiça de lê o texto abaixo justifica essa posição já dada acima:

Comecei o pleito com uma convicção: não iria votar em ninguém. Para que “ninguém” tivesse uma alta votação e demonstrasse para as pessoas que política vai muito além desse Grenal (vermelho x azul) eleitoral. Me abstive no primeiro turno. Até pensei votar em alguns para o legislativo mas o voto proporcional me desestimulou (no Brasil mesmo o voto nominal vai para o partido, por exemplo, se eu votasse num deputado federal do PT por exemplo que eu conheço, acompanho e admiro o trabalho, meu voto seria computado para Andrés Sanches também, por exemplo). Comecei o segundo turno com a convicção de não votar em ninguém, mas fui mudando minha visão por uma consciência: o voto melhora muito pouco nossa vida, mas pode conseguir piorar muito.

Tenho muitas e muitas e muitas críticas fortes ao governo petista e em especial a como eles permitem que em troca de poder político diversos atentados contra os direitos humanos. Mas incrivelmente a outra opção tem duas características consegue ser igual ou pior que eles em todas as pastas e se propõe a ser pior nos (cada vez mais espaçados) acertos petistas. Como diria o censurado Xico Sá ontem: “só o Aécio para ser mil vezes pior que a Dilma”.

Hoje o PT paga o preço de uma escolha ideológica: formou consumidores ao invés de formar cidadãos. Hoje o maior adepto do antipetismo é aquele que foi estimulado a comprar carro para mostrar que venceu na vida, que tem um comércio que se manteve porque nas crises o mesmo estimulou o movimento econômico ao invés de arrochos e demissões como a cartilha neoliberal normalmente sugere. Esse cara hoje “não é mais pobre” e vota contra eles porque se vê como empresário/consumidor individual não como cidadão de uma sociedade coletiva.

O discurso pró-PSDB/Aécio me empurrou do votar em ninguém para votar no “menos ruim”. Nosso congresso pela primeira vez em anos é a fiel representação da nossa sociedade: racista, machista, homofóbico, elitista e doente. Aliado a isso, ter um governo que tem como um guru econômico que defende a redução do salário mínimo, aumento de juros e a privatização de bancos públicos. Um partido que passou seus doze últimos anos jogando para uma torcida que considera dar R$ 70,00 para uma pessoa que está passando necessidades básicas como “sustentar vagabundo” mas acha normal um juiz que se dá auxílio moradia. Aí mora talvez, ironicamente o maior problema eleitoral do governo petista, a conta chegou: conciliou tanto que perdeu os votos de esquerda e os de direita continuam votando contra eles.

O governo petista tem apenas uma diferença em todos os governos no Brasil desde 1808: distribui as migalhas. E esse fato, foi uma garoa no deserto social brasileiro. O suficiente para ressurgir uma relva ou até nascer algum cacto. Não reflorestou ou irrigou o deserto. Mas lembrando que sim, jogou gotículas de água numa terra que durante séculos foi seca porquem detém o monopólio da violência e por consequência, do poder. Só isso tirou o Brasil do mapa da fome. Isso colocou estudantes pobres e de etnias discriminadas no nosso péssimo sistema de ensino. Ao dar o famigerado bolsa família no nome da mãe, deu um forte golpe no patriarcado, em especial nas regiões mais pobres onde a violência dita a força em todas as relações. Não pegou mais empréstimos com organismos internacionais que obrigam os países que os recorrem à demitir, diminuir investimentos sociais e salvar bancos. Esse mérito ninguém pode negar a eles. Tem que ter um poster do Mussolini na cabeceira da cama para achar isso ruim... Mas e realmente mudar profundamente algo? Reformar educação, reajustar dignamente a tabela do SUS, reformar infraestrutura em especial de transportes, auditorar a dívida “ex-externa” (o Brasil comprou os título de sua dívida, então sua dívida externa na realidade é interna) que a gente paga juros do juros dos juros desde 1822, consertar essa tumultuada carga tributária que onera os mais pobres que pagam tributos sobre tributos e deixa os mais ricos com impostos onde pode se deduzir tudo, reajustar a tabela do imposto de renda (R$ 2.500,00 no Brasil paga IR), combater os ataques contra minorias ou que não evoluiu na educação para a tolerância e ataques contra a natureza entre outras coisas que vejam, não estão fazendo uma reforma socialista nem nada disso, mas dentro dessa mesma regra, desse mesmo sistema não foi feito nada. Porque? Porque não quiseram? Não creio. Porque não puderam? Talvez porque não tiveram coragem de bater de frente com essa elite tacanha que temos no Brasil? Sim, isso sim. Essa elite que se recusa a dividir o bolo, essa elite que quer aeroportos privativos (nisso o Aécio elevou a outro nível, aeroporto público privativo mesmo!), aliás tudo privativo onde o dinheiro manda, essa elite hereditária que prega meritocracia que reclama de pagar direitos trabalhistas para empregados, que não constrói nada e só acumula desde 1500. Não bater de frente com eles significa que esse modelo se esgotou. Mas aí você pensa, então vamos mudar? Boa, mas estamos no segundo turno e quem é o outro candidato? Justamente o candidato dessa elite. Que nem a migalha quer oferecer. Um herdeiro dessa tradição política secular que eu citei. Um projeto de poder para devolver até as gotas que cairam fora dessa piscina privada. Não fará nenhuma das reformas acima e tem por programa devolver tudo para os ricos de forma privada, fora do estado para que não haja risco de isso ser distribuido novamente. Que tem uma base que acha que o problema do Brasil são pobres, nordestinos ou negros votarem. Temos saúde, educação e infraestrutura péssimos por conta de uma elite que pode pagar por isso que os demais não tem. Temos uma péssima distribuição de renda, um índice de desenvolvimento humano de país em guerra, por falar em guerra somos uma sociedade violentísima, pautas essas que não são objetos do interesse do neto daquele político que desde os 25 anos vive de cargos comissionados na máquina pública. Avó esse que se dispôs a ser primeiro-ministro no pré-golpe militar, em 1961. Família carioca tradicional e rica dentro de um partido que “defende” a meritocracia, que privatiza tudo a preço de chuchu as companhias que permanecem com os mesmos problemas. A chapa DEM/PSDB que são respectivamente primeiro e segundo lugar em cassassões, que aparelham o judiciário para que a casa não caia nunca, que prefere dar lucros aos acionistas da companhia de água à investir contra um desabastecimento previsto a uma década, que constrói em SP um quilometro de metrô por ano e cujo senador recém eleito diz que cartel não é crime (cartel esse que seria para “construir” o referido metrô), que recorre as medidas mesmas (privatização, socorro aos bancos e demissões) que está deixando a Europa na eminência de uma Terceira Guerra Mundial e reacordando o fascismo (a Espanha por exemplo, tem 25% de desempregados, isso mesmo, um quarto do país não tem fonte de renda).

Não citei diversas questões como a cultura que sofreu um golpe interno dentro do governo (todo o trabalho de Gil e Juca foi destruído por Ana de Hollanda, sua sucessora), os ataques ao meio ambiente e aos índios do atual governo ou mesmo a base racista de que seu concorrente tucano, assim como seus ataques a mínima liberdade de expressão perseguindo jornalistas e demitindo grevistas e (a carapulça serve para os dois agora) até porque na hora de perseguir quem vai “contra o sistema” os dois “opostos” não exitam em se unir. Mas esse artigo ficaria enorme e os partidos que em 1993 (PSDB “esqueçam tudo o que eu fiz”) e em 2002 (PT “carta aos brasileiros”) rasgaram seus programas em troca da ponta do iceberg do poder não vão mudar substancialmente sua vida oprimida de trabalhar muito, ser estremido ou ficar parado no caminho, de não ver seu filho crescer, de abandonar seus sonhos para viver, de trabalhar no que não gosta, de ter que trabalhar para sustentar aqueles que tem o dinheiro ter ainda mais dinheiro. Nada disso vai acontecer. Mas analiso que os tucanos além de não fazerem nada para mudar isso propõem piorar o pouco que os petistas fizeram e acham que fizeram a revolução por isso.

A sua vida política começa realmente dia 27 de outubro, dia depois da eleição. Agora você apenas digitará um número numa nada confiável (e nem aferível) calculadora. Depois disso aqueles que mandam continuam mandando, independentemente do número escolhido, no subterrâneo do poder. A política você fará no dia a dia ao escolher o que comer, como tratar o próximo, como se organizar em temas que impactam, em não atacar um semelhante, em simplesmente se por no lugar do outro e minimamente tentar ver o ponto de vista oposto. Se organizar para não ter que obedecer e nem mandar em ninguém, de forma que todos se olhem nos olhos no mesmo plano, ninguém em cima nem embaixo. Que seu trabalho seja sua vida e não sua morte lenta e diária. Isso sim mudará o mundo. Quebrará as fronteiras e fará você perceber que sua angustia é mesma que quem fala outra língua e nasceu do lado de lá do rio.

Digitar um número numa urna não mudará nada disso, até porque o poder é bem entralaçado para não ter perigo para que isso ocorra. Política é você quem faz no dia a dia em todos os seus gestos. Aristóteles diria que o “homem é um animal político”. É isso. Absolutamente em todos os seus gestos você está, mesmo que insconsientemente, fazendo política. Então faça, se mova, se conscientize, tenha instrumentos para não depender nem de governos nem de patrões, tenha consciência que são eles que dependem da gente, sem nós, eles terão que trabalhar (“O rico fará tudo pelo pobre, menos sair de suas costas” (Tolstói)). Construa no dia a dia. Por um mundo nem estatal, nem privado, mas mútuo e isso passa bem longe do colégio eleitoral.

Devido a isso eu vou votar no ruim para que o péssimo não ganhe. Mas quem ainda se sente desconfortável em votar no ruim, peço que não vote no péssimo (se seu Gol 2010 Flex está com defeito não troque por um Passat 1987 a alcóol, porque sim, vai piorar! E é válido um grande contingente de votos em ninguém para demonstrar que muitos já não acreditam mais nesse caminho). Para desacelerar o avanço do fascismo no Brasil. Porque sim, pode piorar e esse é o objetivo de muita gente...

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